O escapulário ou bentinho do Carmo é um sinal externo de devoção mariana, que consiste na consagração a Santíssima Virgem Maria, por meio da inscrição na Ordem Carmelita, na esperança de sua proteção maternal. O escapulário do Carmo é um sacramental. No dizer do Vaticano II, “um sinal sagrado, segundo o modelo dos sacramentos, por intermédio do qual significam efeitos, sobretudo espirituais, que se obtêm pela intercessão da Igreja” (SC 60).
“A devoção do escapulário do Carmo fez descer sobre o mundo copiosa chuva de graças espirituais e temporais” (Pio XII, 6/8/50).
A devoção ao escapulário de Nossa Senhora do Carmo teve início com a visão de São Simão Stock. Segundo a tradição, a Ordem do Carmo atravessava uma fase difícil entre os anos 1230-1250. Recém-chegada à Europa como nômade, expulsa pelos muçulmanos do Monte Carmelo, a Ordem atravessava um período crítico. Os frades carmelitas encontravam forte resistência de outras ordens religiosas para sua inserção. Eram hostilizados e até satirizados por sua maneira de se vestir. O futuro dos carmelitas era dirigido por Simão Stock, homem de fé e grande devoto de Nossa Senhora.
O escapulário era um avental usado pelos monges durante o trabalho para não sujar a túnica. Colocado sobre as escápulas (ombros), o escapulário é uma peça do hábito que ainda hoje todo carmelita usa. Com o tempo, estabeleceu-se um escapulário reduzido para ser dado aos fiéis leigos. Dessa forma, quem o usasse poderia participar da espiritualidade do Carmelo e das grandes graças que a ele estão ligadas; entre outras o privilégio sabatino. Em sua bula, chamada sabatina, Papa João XXII afirma que aqueles que usarem o escapulário serão depressa libertados das penas do purgatório no sábado, que se seguir a sua morte. As vantagens do privilégio sabatino foram ainda confirmadas pela Sagrada Congregação das Indulgências, em 14 de julho de 1908.
O escapulário é feito de dois quadradinhos de tecido marrom unidos por cordões, tendo de um lado a imagem de Nossa Senhora do Carmo, e de outro o Coração de Jesus, ou o brasão da Ordem do Carmo. É uma miniatura do hábito carmelita, por isso é uma veste. Quem se reveste do escapulário passa a fazer parte da família carmelita e se consagra a Nossa Senhora. Assim, o escapulário é um sinal visível da nossa aliança com Maria.
O escapulário da Virgem do Carmo
O Papa João Paulo II, a espiritualidade mariana dos carmelitas e a vivência da consagração a Nossa Senhora.
Em sua forma original, um escapulário é feito com dois pedaços de pano marrom unidos por um cordão. Um dos pedaços traz a estampa de Nossa Senhora do Carmo e o outro, a do Sagrado Coração de Jesus. Escapulário tem como origem a palavra scapulas (latim), que significa “ombros”, pois, sobre estes é feita a sua imposição. Os religiosos carmelitas usam o escapulário como símbolo da sua consagração religiosa à Ordem de Nossa Senhora do Carmo, mais conhecida como Ordem dos Carmelitas. Para os demais cristãos, o escapulário é símbolo de sua devoção à Virgem do Carmo.
A Ordem dos Carmelitas foi fundada no século XI, em Monte Carmelo. No dia 16 de julho de 1251, em meio a muitas dificuldades, São Simão Stock, superior geral da Ordem, rezava no convento de Cambridge, na Inglaterra. Em sua oração, o santo pediu a Nossa Senhora um sinal visível de sua proteção. Em resposta, ele recebeu da Virgem Maria o escapulário com uma promessa: “Recebe, filho amado, este escapulário. Todo o que com ele morrer, não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto sempiterno”.
A festa de Nossa Senhora do Carmo, celebrada pelos Carmelitas, no dia 16 de julho desde 1332, foi estendida a toda a Igreja em 1726 pelo Papa Bento XIII. Por ocasião do aniversário de 750 anos da devoção mariana do escapulário, o Papa João Paulo II disse que a Virgem Maria “já vive em si o que cada fiel deseja realizar no mistério de Cristo e da Igreja” (cf. SC 103; LG 53). Por isso, os Carmelitas escolheram Maria como padroeira e mãe espiritual, aquela que guia a todos para o perfeito conhecimento e imitação de Cristo.
João Paulo II diz que a forma mais genuína da devoção à Virgem Maria, expressa pelo humilde sinal do escapulário, é a consagração ao seu Imaculado Coração (cf. Pio XII, Carta Neminem profecto; LG, 67). Pela consagração se realiza, no coração dos fiéis, uma crescente comunhão e familiaridade com Nossa Senhora. Trata-se de uma maneira nova de viver para Deus e de continuar aqui na terra o amor do Filho à sua mãe Maria.
Andrea Riccardi, historiador e acadêmico italiano, fundador da Comunidade de Santo Egídio, conheceu de perto o Santo Padre e escreveu sobre sua devoção no livro “João Paulo II: a biografia”. Nele, o autor fala sobre a vivência da consagração do Pontífice: “Esta piedade acompanhará toda a vida de João Paulo II que, desde jovem, anda com o escapulário de Senhora do Carmelo”. O Papa polonês uniu as duas espiritualidades: a devoção a Nossa Senhora do Carmo e a consagração segundo o método do “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, de São Luís Maria Grignion de Montfort.
João Paulo II afirmava que o escapulário é sinal da “proteção contínua da Virgem Santíssima, não só ao longo do caminho da vida, mas também no momento da passagem para a plenitude da glória eterna”. No entanto, a devoção a Maria não pode se limitar a orações e oferecimentos em sua honra em algumas momentos, mas “deve constituir um hábito, isto é, um ponto de referência permanente do seu comportamento cristão, tecido de oração e de vida interior, mediante a prática frequente dos sacramentos e o exercício concreto das obras de misericórdia espiritual e corporal”.
O escapulário é sinal da aliança e da comunhão recíproca entre Maria e os fiéis. Ele traduz, de maneira concreta, a entrega que Jesus fez na cruz. Cristo entregou a João, e nele a todos nós, a sua mãe. Neste mesmo ato, confiou o seu apóstolo predileto e, também nós, a Virgem Maria, constituindo-a nossa mãe espiritual (cf. Jo 19, 25-27).
As palavras do Papa João Paulo II aos religiosos e às religiosas do Carmelo e aos demais fiéis que veneram filialmente a Virgem Maria são um convite também para nós, hoje, para “crescer no seu amor e irradiar, no mundo, a presença desta mulher do silêncio e da oração, invocada como mãe da misericórdia, mãe da esperança e da graça”.
Compromissos de quem utiliza o escapulário
É importante destacar algumas atitudes que devem ser assumidas por quem se reveste desse sinal mariano:
- Colocar Deus em primeiro lugar na sua vida e buscar sempre realizar a vontade d’Ele.
• Escutar a Palavra de Deus na Bíblia e praticá-la na vida.
• Buscar a comunhão com Deus por meio da oração, que é um diálogo íntimo que temos com Aquele que nos ama.
• Abrir-se ao sofrimento do próximo, solidarizando-se com ele em suas necessidades, procurando solucioná-las.
• Participar, com frequência, dos sacramentos da Igreja, da Eucaristia e da confissão, para poder aprofundar o mistério de Cristo em sua vida.
Referências:
* Artigo por Dayse Maria Mellero de Melo