Diocese de Santo André

A ação da Igreja e os desafios dos povos indígenas no meio urbano

A pandemia global da Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, se tornou um grande desafio para a humanidade neste século XXI. Além dos impactos econômicos e nos sistemas de saúde de muitas nações, o aumento da desigualdade social provoca um grande debate quanto a necessidade de políticas públicas urgentes para suprir as necessidades da população mais carente. Entre os povos impactados e mais vulneráveis quanto ao avanço da doença estão os indígenas.

A preocupação da Igreja Católica com a população indígena tem sido demonstrada por meio de gestos e ações. Em outubro do ano passado, durante a abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica com o tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, o Papa Francisco defendeu o respeito aos direitos dos povos indígenas e em Puerto Maldonado, no Peru, em janeiro de 2018, no encontro com os povos da Amazônia, o sumo pontífice disse:

“De fato, a humanidade tem uma grande dívida para com os povos indígenas nos diferentes continentes da terra e também na Amazônia. É preciso que aos povos indígenas seja devolvido e garantido o direito de serem sujeitos de sua história, protagonistas e não objetos do espírito e prática de colonialismo de quem quer que seja. Suas culturas, línguas, história, identidade, espiritualidade constituem riquezas da humanidade e devem ser respeitadas, preservadas e incluídas na cultura mundial.”

Neste ano de 2020, a Encíclica Laudato si’ do Papa Francisco completa cinco anos na defesa de uma Ecologia Integral, que aborda a dimensão socioambiental da fé e da evangelização, o cuidado com o meio ambiente e com o ser humano, em especial, os povos que vivem na Amazônia, e o acompanhamento dos consequentes dramas da crise econômica e sanitária agravadas pela pandemia.

No Grande ABC não é diferente. Para conhecer melhor essa realidade da população indígena na região e o trabalho conjunto do Vicariato Episcopal para a Caridade Social com o COMIDI (Conselho Missionário Diocesano), a reportagem da Diocese de Santo André conversou com Marcos Aguiar, que integra o Vicariato, coordena o COMIDI e o Programa Índios na Cidade, da ONG Opção Brasil, além de atuar num estudo recente dos impactos e desafios da população indígena no meio urbano para a ONU (Organização das Nações Unidas).

 

Presença no Grande ABC

O último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) realizado em 2010 apontou cerca de 2 mil indígenas no Grande ABC. No entanto, Marcos acredita que atualmente esse número seja quatro vezes maior, girando em torno de 8 mil (Naquele ano, o país tinha 896.917 indígenas. Marcos projeta 1,5 milhão de indígenas em 2020).

“Somente no Encontro Pankará, que ocorre anualmente na Região do Alvarenga, em São Bernardo, cerca de cem indígenas comparecem ao evento. Dá para se ter uma ideia da presença no ABC”, enfatiza.

Atualmente, das 106 paróquias da Diocese, cerca de 20 paróquias contam com frequência regular de indígenas.

“Não tem aldeias no ABC. Tem apenas na região pós-balsa, na divisa de São Bernardo com São Paulo, que é do povo Guarany. Os outros moram em periferia ou comunidades próximas, que frequentam paróquias como a Santíssima Virgem e São Maximiliano Kolbe, em São Bernardo; Nossa Senhora de Lourdes, em Mauá; São Jorge, em Santo André. Mas muitos são invisíveis aos nossos olhos”, relata Marcos.

Dentro desse trabalho com a questão indígena no meio urbano, um levantamento do Programa Índios no ABC, da ONG Opção Brasil e Rede de Articulação Nacional de Indígenas em Contextos Urbanos e Migrantes (atualizado em junho de 2020), enumera 41 etnias existentes no Grande ABC:

Santo André: (Atikum, Fulni-ô, Kaingang, Kariri xocó, Kambiwá, Kanela, Kayabí, Kaimbé, Kalabaça, Pataxó, Pankararu, Pankararé, Pankará, Tabajara, Tupi Guarani, Tuxá, Truká, Xukuru Kariri, Kariri, Xavante, Tremembé, Tapeba).

 

São Bernardo: (Cinta Larga, Fulni-ô, Kapinawá, Kaimbé, Kariri Xocó, Kiriri, Pankararu, Pankará, Tuxá, Tupi Guarani, Guarani Mby’a, Guarani Nhamdeva, Guarani Kaiowá, Terena, Tremembé, Wassu Cocal, Pipipã).

 

São Caetano: (Fulni-ô, Pankararu, Potiguara, Guarani Kaiowá, Xukuru de Ororubá (pesqueira), Tupinambá, Terena, Tukano, Makuxi, Javaé, Pankará).

 

Diadema: (Atikum, Fulni-ô, Guajajara, Kayapó, pankararu, pankararé, Pankará, truká, Pataxó).

 

Mauá: (Fulni-ô, Guajajara, Guarani, Kambiwá, Kayapó, Pankará, Pankararé, Pankararu, Pataxó, Xavante, Xukuru Kariri, Terena, Yanomami).

 

Ribeirão Pires: (Pataxó, Terena, Guarani, Ticuna, Pankararu, Pankará, Atikum).

 

Rio Grande da Serra: (Guarani).

 

Articulação da Igreja

A Igreja Católica no Grande ABC, por meio da parceria entre o Vicariato para a Caridade Social e o COMIDI, tem avançado neste trabalho missionário e de solidariedade por meio de doações de alimentos. O objetivo é elaborar estratégias de suporte e apoio às questões indígenas, por meio do Movimento Indígena Diocesano, organizando o mapeamento dos povos indígenas nas paróquias, identificando as demandas e buscando contemplar as necessidades através do acesso aos serviços básicos como saúde, educação, trabalho, alimentação e evangelização. Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André, já visitou a Etnia Guarani em companhia do Pe. Ryan Mathew Holke, Vigário Episcopal para Caridade Social da Diocese de Santo André.

 

Defesa dos direitos

Quem são os indígenas que frequentam nossa Diocese? Com a proposta dessa parceria, o Movimento Indígena Diocesano, como instância do COMIDI, pretende agregar informações e reforçar o diálogo com entidades e órgãos públicos para a elaboração de políticas públicas que reconheçam os direitos dos índios em nosso ambiente urbano e tire-os da invisibilidade.

“O mercado de trabalho, a produção cultural, o apoio dos órgãos e autoridades públicas são desafios gigantescos. No caso do ABC Paulista, já tivemos conhecimento de empresas que não contrataram para a vaga, ao saber que a pessoa era indígena. Por isso é preciso avançar mais nesta luta contra o preconceito e na questão de integrar os povos indígenas para o trabalho em qualquer área”, pondera Marcos.

 

Desafios da migração

Os principais desafios da migração indígena no Grande ABC, que sempre existiram e continuam presentes nas sete cidades, são ocasionados pela busca de oportunidades de estudo e trabalho. Neste contexto, muito saem de suas cidades e regiões pela questão da fuga de conflitos, expulsão de terras, situações de extrema miséria ou mesmo algo semelhante à escravidão.

“Na Campanha da Fraternidade de 2002 com o tema “Fraternidade e Povos Indígenas – Por uma terra sem males” debatemos a situação dos índios e que o próprio Cimi (Conselho Indigenista Missionário) ajudou nessa parte,  ficou constatado que os povos com menos direitos garantidos às políticas públicas são os indígenas que migraram para a cidade. Essa situação continua até hoje. Cerca de 80% das cidades do estado de São Paulo, 70% das cidades da Região Sudeste e 80% da Amazônia brasileira têm indígenas morando na área urbana. É mais do que nas aldeias. Mas não tem políticas públicas para esses indígenas”, explica Marcos.

 

Impactos da pandemia

Com a chegada da pandemia da Covid-19 muitos indígenas tiveram seus trabalhos comprometidos, principalmente aqueles atuantes no mercado informal e os que já tinham compromissos agendados para a realização de trabalhos culturais nas escolas, por conta do Dia do Índio, em abril. Muito produtos para serviços também foram perdidos pelo prazo de validade.

A vulnerabilidade em relação ao contágio do coronavírus também é uma situação preocupante. Diante dessa agravante realidade, Marcos afirma que recebeu um convite para elaborar juntamente com um grupo de especialistas indígenas na ONU, um relatório sobre os impactos da pandemia entre os indígenas no contexto urbano (vigário para a Caridade Social, Pe. Ryan Holke, e Márcia Silva, indígena pankará da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe, em SBC, também participaram do levantamento). A pesquisa ouviu cerca de cem indígenas, em cem localidades diferentes, em 14 estados brasileiros.

“Na invisibilidade teve que ter uma pandemia para eles ficarem visíveis e saber que tem indígenas na cidade sofrendo esses impactos. E nesse estudo constatamos que os mais atingidos poderiam ser sim os indígenas, negros e populações periféricas porque tem a questão da imunidade e cultura do compartilhamento de coisas”, argumenta.

“Por exemplo, cachimbos com fumo de corda e canecas para beber tereré (bebida gelada típica sul-americana feita com a infusão da erva-mate) que são compartilhados. Aí vem essa questão da letalidade do vírus. No relatório, entre os não indígenas que estão infectados e entubados, a letalidade é entre 3% a 10%. Entre os indígenas, esse número sobe para 48%, sendo que se acentua no meio urbano. Isso se constata que a saúde indígena brasileira não é atendida no meio urbano”, relata.

Por outro lado, Marcos vê progresso nesse debate sobre os indígenas, por meio dessa mobilização de pesquisadores sobre os indígenas no meio urbano, fortalecendo a criação de uma rede nacional de articulação dos indígenas no contexto urbano, tornando os reais e visíveis para todos.

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