No Brasil o mês de agosto é o Mês Vocacional, dedicado às diversas vocações na Igreja. O terceiro domingo deste mês propõe à nossa reflexão a vocação à vida de especial consagração a Deus comumente chamada de vida religiosa.
O magistério e a história da Igreja nos ensinam que a virgindade e a castidade perfeita consagradas a Deus e ao serviço dos irmãos são tesouros deixados como herança à Igreja por seu fundador, Jesus Cristo. São homens e mulheres que, apaixonados por Jesus Cristo, optam por seu seguimento adotando seu estilo de vida: pobre, casto e obediente.
Desde os tempos apostólicos encontramos referência a “muitos homens e mulheres de 60 e 70 anos, educados desde a infância e juventude na doutrina de Cristo, que se mantêm castos e virgens” (São Justino – 150 d.C.). Nos primeiros três séculos da Igreja muitas virgens consagradas para permanecerem fiéis ao Senhor Jesus, seu Esposo Místico, sofreram o martírio: Águeda de Catânia, Luzia de Siracusa, Inês e Cecília de Roma, Tecla de Icônio, Apolônia de Alexandria, Restituta de Cartago, Justa e Rufina de Sevilha citando apenas algumas.
Os Padres da Igreja: São Cipriano, Santo Atanásio, Santo Ambrósio, São João Crisóstomo, São Jerônimo e Santo Agostinho expressaram suas considerações e louvores aos cristãos de ambos os sexos que se consagravam a Deus em perfeita castidade e virgindade. Na consagração virginal dessas pessoas os Padres da Igreja viam a imagem da Igreja Esposa totalmente dedicada ao seu Esposo e por isso se referiam a elas como sponsae Christi.
Na Igreja elas constituíam um estado de vida institucionalizado, com o nome de Ordo Virginum. A partir do século IV, o ingresso na Ordo Virginum acontecia mediante um solene rito litúrgico presidido pelo Bispo Diocesano.
Em seus escritos, Santo Ambrósio atesta o estilo de vida das consagradas: a exemplo de Maria, as virgens consagradas exprimem seu amor para com Cristo Esposo na assídua meditação da Palavra de Deus, na perseverante oração pessoal e litúrgica, na prática da ascese, das virtudes e das obras de misericórdia; no cultivo de uma atitude de escuta dócil do magistério do Bispo e no empenho para guardar a comunhão eclesial de modo a oferecer um testemunho evangélico no seio das comunidades cristãs e do ambiente social no qual permaneciam inseridas, vivendo nas próprias famílias.
Com o transcorrer dos séculos a forma de vivenciar a vida religiosa passou por diversas fases. Com o desenvolvimento do monaquismo cenobita, a Igreja associou a consagração virginal à vida comunitária e, portanto, à moradia em um convento ou casa religiosa, à observância de uma regra comum e à obediência a uma superiora ou superior predominando a vida contemplativa enclausurada que tantos benefícios e testemunhos de santidade ofereceu à Igreja. A partir do séc. XV começam a surgir tentativas de inserir a vida religiosa feminina nas atividades externas da Igreja. Foi uma caminhada lenta e difícil… No séc. XVII com São Francisco de Sales, São Vicente de Paulo e outros fundadores surge a vida consagrada feminina com atividades caritativas, apostólicas e evangelizadoras.
A partir daí, sob a ação do Espírito Santo, floresce na Igreja a vida consagrada “como uma grande árvore de múltiplos ramos” usando a comparação que faz o catecismo da Igreja Católica no capítulo que trata da vida religiosa. Os consagrados são chamados de irmão, irmã, frei, freira, religioso, religiosa, frade. Vivem agregados em várias ordens, congregações, sociedades de vida apostólica e institutos seculares. Em 31 de maio de 1970, a Ordem das Virgens, que tinha desaparecido, foi restaurada na Igreja pelo Papa São Paulo VI com o Decreto da Sagrada Congregação para o Culto Divino. Este decreto entrou em vigor no dia 06 de janeiro de 1971. Foi, também, restaurada na Igreja a Ordem da Viúvas.
Em todos os tempos e em todas as modalidades da vida religiosa “A vocação à vida consagrada se identifica com a comunicação progressiva do amor de Deus no íntimo da pessoa, suscitando, no mistério da liberdade, uma resposta integral a este amor. O apelo de Deus vai nos possuindo por dentro. O amor de Deus torna-se mais forte do que todo outro amor, até constituir-se como prioritário. A experiência de que Deus nos ama em Jesus Cristo é tão forte, tão singular e inequívoca que nos deixamos possuir por este amor e a ele respondemos com a consagração total de nossa vida. É esta experiência íntima e inalienável deste amor misteriosamente gratuito pelo qual Deus nos possui em Cristo que constitui o fundamento e a expressão de nossa realização humana na Consagração.” (Dom Luciano Mendes de Almeida, SJ em “Jesus Cristo Luz da Vida Consagrada – Ed. Loyola). A história do Brasil não pode ser compreendida e estudada ignorando a presença e a atuação dos religiosos e religiosas.
A presença da Vida Religiosa na Diocese de Santo André
Quando da criação de nossa Diocese exerciam seu ministério sacerdotal nesta região a Congregação dos Padres Missionários de São Carlos; Congregação dos Padres dos Sagrados Estigmas; Ordem dos Franciscanos Menores Capuchinhos e Ordem dos Franciscanos Menores Conventuais que continuam até hoje entre nós. No decorrer dos anos outras Congregações para aqui vieram: Companhia de Jesus, Ordem dos Clérigos Regulares Somascos, Congregação dos Filhos da Caridade, Sociedade do Verbo Divino, Congregação do Santíssimo Redentor, Oblatos de Maria Imaculada, Congregação de Nossa Senhora do Sion, Instituto do Verbo Encarnado, Ordem de Santo Agostinho, Congregação do Espírito Santo, Associação Pública de Fiéis de Direito Diocesano dos Missionários da Imaculada Pe. Kolbe e Fraternidade Missionária o Caminho.
A Vida Religiosa Feminina está presente em várias frentes pastorais, evangelizadoras, educacionais e assistenciais através de Congregações, Institutos, Ordem da Virgens e das Viúvas: Congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência; Congregação das Irmãs Franciscanas Missionárias de Assis; Congregação das Irmãs Franciscanas de Cristo Rei; Congregação das Irmãs da Providência; Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu; Congregação das Irmãs do Apostolado Católico; Congregação das Irmãzinhas dos Anciãos Desamparados; Congregação de São João Batista; Congregação Maria Imaculada; Congregação Pias Operárias de São José; Congregação Servas do Sagrado Coração de Jesus Agonizante; Instituto das Filhas de São José; Instituto das Pequenas Irmãs de Santa Teresinha do Menino Jesus; Instituto das Irmãs Clarissas Franciscanas Missionárias do Santíssimo Sacramento; Instituto das Missionárias da Imaculada Padre Kolbe; Irmãs Filhas de São Francisco de Sales; Irmãs de Maria de Banneux; Irmãs Servas do Sagrado Coração de Jesus; Irmãs Ursulinas de São Jerônimo de Somasca.
A simples presença da vida consagrada entre nós é uma ação pastoral missionária extraordinária porque está a mostrar aos homens os valores estáveis, o sentido da vida.
* Artigo por Ir. Wilma Carvalho