Neste Mês Vocacional, a Diocese de Santo André recordará toda semana, sempre uma vocação do serviço à Igreja e da doação ao povo de Deus. E nesta quarta-feira (19/08) é a vez da vida religiosa consagrada.
Acolher o chamado, o tema que norteia o Ano Vocacional Diocesano, é firmar um compromisso em proclamar a Palavra de Deus e viver o Teu Reino aqui. Os desafios foram acentuados durante o distanciamento social imposto pela Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.
Vale lembrar que estamos vivenciando uma semana dedicada à vida religiosa com a realização pela primeira vez da Semana Nacional da Vida Consagrada, entre os dias 16 e 22 de agosto.
Vamos conhecer um pouco a realidade e os desafios das religiosas consagradas nestes tempos de pandemia:
Tempo de ser
Nascida na cidade de Concepción, no Chile, Irmã Paola Nuñez, 48 anos, completou em 2020, duas décadas de consagração religiosa. Ela revela que vivenciar a vida religiosa em tempos de pandemia como para qualquer pessoa está sendo muito desafiador.
“Os meses vão passando e a nossa vida mudou totalmente. Missão, relações, rotina… Frente a tudo isso muitos questionamentos e o nosso olhar se volta com mais força para o Deus da vida, nos perguntando por tudo o que estamos vivendo e como vivê-lo”, constata. Segundo a congregada das Irmãs Servas do Sagrado Coração de Jesus, de Diadema, esse período exige muita criatividade para manter as pessoas em comunhão com Deus, os serviços nas comunidades animando os irmãos e promovendo relações fraternas.
“É um tempo de ter um olhar atento ao passo de Deus em nossas vidas ao fazer uma leitura de sua presença no que vivemos. É um tempo de vivenciar e voltar constantemente ao essencial de nossa consagração. É um tempo de ser e menos tempo de fazer. Que Deus nos fortaleça e nos ajude entrar na intimidade de seu Coração para sairmos fortalecidos deste tempo tão inesperado”, salienta.
Presença da esperança
“O maior desafio que vejo nesse tempo é de vê-lo como um tempo de possibilidade de um Kairós, ou seja, possibilidade da graça, de ser de fato neste mundo, presença da esperança. E ser naqueles lugares onde estamos no dia a dia, chamadas a viver e a estar, seja espaços presenciais ou virtuais, essa presença serena, da esperança e da paz.”
Essa é a avaliação da missionária da Imaculada Padre Kolbe, Edvanda Leal Santana, que considera outro desafio para a vida religiosa consagrada, a descoberta de novas linguagens e de ensaiar novos caminhos num horizonte a ser aprofundado.
Para Edvanda, com a chegada da pandemia, o que estava programado e estruturado cedeu espaço para adaptações e o improviso. “Isso nos colocou em contato com a nossa vulnerabilidade. E com isso cada comunidade fraterna teve que parar, sentar-se à mesa e redesenhar o programa de vida comum”, frisa.
“Um tempo de reinventar formas de apostolado, e com isso nossas comunidades tornaram-se laboratórios, ou seja, lugar de novas experiências. Lugar onde fomos chamados a estimular mais a criatividade, a dar mais espaço para criatividade”, analisa uma das missionárias que atua desde o início no Centro Social Maximiliano Kolbe, uma obra social e de evangelização na região do pós-balsa do Riacho Grande, em São Bernardo.
Caridade necessária
Da congregação das Irmãs Beneditinas da Divina Providência, em Santo André, Irmã Odir Teresinha Lopes de Brito acredita que um dos grandes desafios da vida religiosa consagrada é o atendimento das pessoas em situação de vulnerabilidade social nas obras e casas de acolhimento de crianças que, em razão a pandemia da Covid-19, não está ocorrendo no momento.
“Vivenciar a caridade e ajudar a somar com os demais foi a própria situação que pediu isso da vida religiosa. Traz uma tristeza, pois muitos são pobres que estão necessitando e não estamos conseguindo acolher em nossas obras. E a própria tristeza, também, de perceber como o país está sofrendo com isso e não ter pessoas que tomem a frente como uma liderança que ajude a resolver a situação”, avalia.
Por outro lado, Irmã Odir, atesta que o longo período de isolamento social trouxe um aprofundamento das orações e da vivência da fé na esperança para que a pandemia seja controlada o mais breve possível.
“Para isso temos que testemunhar uma obediência serena e convicta da situação que estamos vivendo e obedecer as indicações para proteger a própria saúde e a saúde dos cidadãos”, conclui a religiosa consagrada há 33 anos.
Tempo de renovação
Se reinventar com criatividade em tempos de Covid-19. Assim, Irmã Lenir Tressoldi, 54 anos, aponta que o principal desafio é aprender a viver dentro desta nova realidade de isolamento, na utilização das mídias sociais, e acreditar na possibilidade de se renovar dentro dessa nova conjuntura.
“Olhar para dentro de nós, ressignificar a opção, a profecia, rezar mais, meditar mais e confiar na providência de Deus. É um tempo também de muita solidariedade, entreajuda, de sentir a dor do outro, sofrer com ele, rezar com ele e lutar com ele”, comenta.
Como mensagem final, a responsável pela Casa do Noviciado das Irmãs Franciscanas Cristo Rei, em Rio Grande da Serra, diz que esse tempo “desafia a ser mais e o fazer fica em segundo plano, mas o ser mais no sentido profundo de nossa vida religiosa consagrada, que é buscar a Deus, vivenciar Deus e revelar Deus”, complementa Irmã Lenir, com uma caminhada de três décadas e meia de congregação religiosa.