O ser humano, criado por Deus à sua imagem e semelhança, é dotado de razão e, portanto, capaz de conhecer a verdade sobre a realidade, cujo fundamento é o próprio Deus. Essa afirmação inicial tem como pressuposto básico uma concepção antropológica, que fundamenta a visão de educação na perspectiva católica. Obviamente esse conhecimento não se reduz a um conhecimento teórico apenas, pois a nossa existência não se reduz a uma teoria. Daí que é necessário se pensar numa educação integral, que não tem nada a ver com ficar mais tempo na escola, mas tudo a ver com a formação de pessoas, em todas as suas dimensões.
A educação integral precisa levar em conta o ser humano como um todo, na sua dimensão intelectual, física, emocional e espiritual. Sempre tendo em vista o projeto de ser humano que se quer alcançar, que seria basicamente a harmonia equilibrada entre essas quatro dimensões. Desconsiderar uma dessas dimensões, ou super valorizar uma delas em detrimento das outras, é construir um ser humano desequilibrado que consequentemente não se realizará como tal. Por isso é necessário que se pense numa educação que olhe para o ser humano não de forma superficial, mas na sua essência metafísica e antropológica.
A escola, instituição de educação formal, não é e não pode ser responsável por todas essas dimensões humanas e, por isso mesmo, é preciso reforçar a ideia de que educação integral não significa ficar mais tempo na escola. O mundo capitalista, que paga os salários, mas que também consome o tempo das pessoas e as impede de ter uma vida familiar mais intensa, forçou os pais a delegarem às escolas toda a formação dos seus filhos. Espera-se até que os professores ensinem valores básicos aos alunos, como respeito ao outro ser humano. Mas, se a ideologia liberal-capitalista força os pais a trabalharem muito e delegarem a educação de seus filhos totalmente à escola, a ideologia socialista-comunista também aproveita a situação. Regimes políticos que flertam com o autoritarismo, querem mesmo é que os pais deixem de educar seus filhos, para que eles ocupem esse papel em suas vidas e formem a cabeça de seus dóceis cidadãos.
A família, instituição querida por Deus, como uma reprodução da comunidade de amor que é a Santíssima Trindade, tem o dever sagrado de proporcionar uma boa formação espiritual e um ambiente saudável para o bom desenvolvimento emocional dos filhos. Até mesmo é dever da família, propor um sadio desenvolvimento físico dos filhos, por meio de boa alimentação, hábitos saudáveis e acesso a serviços de saúde. A escola pode contribuir com isso, mas não pode ser responsabilidade apenas dela oferecer isso. Agora, se tem uma dimensão que a família não é obrigada a desenvolver nos filhos é a intelectual, não que os pais não possam ser grandes incentivadores e patrocinadores, mas eles não são obrigados a terem essa capacidade.
Atualmente no Brasil discute-se a possibilidade de ser permitida a educação domiciliar, também chamada homeschooling, dado que até então, dos 4 aos 17 anos, todas as crianças e adolescentes devem estar matriculados em uma escola formal de educação básica. No entanto, esse mesmo momento em que estamos vivendo de pandemia, tem mostrado como isso é uma realidade para poucos. Muitos pais não têm condições de ensinar aos seus filhos as disciplinas escolares. É um absurdo esperar que pais analfabetos ensinem seus filhos a ler e escrever. A escola e os professores têm fundamental importância no desenvolvimento dessa dimensão humana, e tudo isso que foi dito até aqui é para pensarmos no papel e na importância do profissional da educação.
Sim, os professores são profissionais, eles sim é que têm a obrigação de ensinar português, matemática, ciências, história, geografia etc. Eles se submeteram aos estudos formais dessas ciências e são as pessoas capacitadas para ensiná-las. Em geral, há uma cultura de concurso, onde em geral se cobram conhecimentos de português e matemática, de valorização apenas dessas disciplinas. Mas todas as disciplinas presentes no currículo escolar são importantes, todas essas ciências buscam responder problemas que se nos apresentam na nossa vida e, daí que a educação básica deve garantir os conhecimentos mínimos em todas elas. E quem leva a diante essa árdua missão é o profissional da educação, é o professor.
Valorizar o professor é reconhecer que ele possui a competência de ensinar aos alunos as ciências que são básicas para a nossa vida, e muitas outras pessoas não têm essa competência. Valorizar o professor é reconhecer todo o seu empenho em formar-se e preparar-se para formar outras pessoas. Da família, os professores esperam que haja a conscientização da importância que eles têm para a formação de seres humanos integrados, mas também a contribuição com o incentivo e o investimento nos estudos, não relegando tudo ao Estado. Do Estado, os professores esperam melhores salários, melhores planos de carreira, oportunidade de formação continuada, ambientes de trabalho dignos e bem equipados, leis que favoreçam o aprendizado dos alunos, mas não os coloque contra seus professores. Da sociedade, os professores esperam a compreensão de que a sua profissão não é uma alternativa para quem não sabe fazer nada de mais importante e difícil, mas é que a profissão que forma todas as profissões, como diz o ditado que já está se tornando popular. Por fim, dos alunos, os professores esperam sede de conhecimento, alunos que desafiem seus professores a conhecerem mais, para ensinarem mais.
A todos os meus colegas, um feliz dia dos professores.
* Artigo por Prof. Me. Rafael Ferreira de Melo Brito da Silva
Ministra aulas de Filosofia no Colégio Universitário USCS