“Eu creio que eticamente todos devem tomar a vacina. Não é uma opção, é uma ação ética. Porque está em risco a sua saúde, a sua vida, mas também a vida dos outros.”.
Essa foi a resposta do Papa Francisco ao jornalista Fabio Marchese Ragona, durante o programa “Tg5” da televisão italiana, veiculado no dia 9 de janeiro, quando questionado sobre a vacinação contra a Covid-19.
O sumo pontífice aproveitou para afirmar que se cadastrou para receber a primeira dose na campanha de vacinação que começará nos próximos dias no Vaticano.
“Sim, deve-se fazer”, repete, “se os médicos a apresentam como algo que pode ser bom e que não tem perigos especiais, por que não tomar? Há um negacionismo suicida nisso, que eu não saberia explicar”, enfatiza o Santo Padre.
Para o Pontífice, este é o tempo de “pensar no nós e cancelar por um período o eu, colocá-lo entre parênteses. Ou nos salvamos todos com o nós ou não se salva ninguém”. A respeito, o Papa fala de modo amplo, oferecendo a sua reflexão sobre o tema da fraternidade, que muito valoriza.
“Este é o desafio: fazer-me próximo ao outro, próximo à situação, próximo aos problemas, fazer-me próximo às pessoas”. Inimiga da proximidade é “a cultura da indiferença?”. Fala-se de um “saudável desinteresse pelos problemas, mas o desinteresse não é saudável. A cultura da indiferença destrói, porque me afasta”.
Combater o negacionismo e as fake news
De acordo com o professor titular do Instituto de Química da Unicamp, membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e membro da Força-Tarefa da UNICAMP no combate à Covid-19, Luiz Carlos Dias, o negacionismo da doença impulsionado pela propagação de fake news sobre efeitos colaterais das vacinas é um obstáculo que precisa ser combatido e desmentido para que a campanha de vacinação se inicie para toda a população no Brasil.
“Neste momento estamos presenciando a maior campanha de desinformação da história desse país na área de saúde pública. Cerca de 50 países já iniciaram a vacinação contra a Covid-19, e mais de 14 milhões de pessoas já foram vacinadas com segurança. O criminoso movimento antivacina está adotando outras estratégias sujas para assustar a população, ao disseminar mentiras e teorias da conspiração sobre as vacinas”, relata o especialista, em vídeo divulgado na semana passada.
O professor cita duas fake news que circulam nas redes sociais, que envolvem a talidomida (medicamento utilizado por gestantes nos anos 50 para aliviar casos de enjoo matinal e que causou má formação congênita), e a alteração de nosso DNA após a vacinação.
“Circulam nas redes que (o medicamento) foi aprovado às pressas em 1956 e as mensagens associam, de forma criminosa, os efeitos da talidomida às vacinas contra a Covid-19, dizendo que as vacinas também provocar má formação congênita em bebês, porque elas foram desenvolvidas muito rapidamente. Não foram aprovadas as pressas, apenas as normas regulatórias na época, há quase 70 anos, eram menos rigorosas do que hoje, e testes teratogênicos em animais nunca foram feitos a época”, explica.
Luiz Carlos Dias afirma que o episódio com a talidomida serviu para aumentar o rigor em todas as fases de testes para o desenvolvimento tanto de medicamentos como de vacinas.
“E revolucionou a indústria farmacêutica. A ciência avançou muito. Nenhuma vacina chegaria a fase 1 em seres humanos, caso apresentasse qualquer risco para saúde humana. Nenhuma vacina contém talidomida, assim como nenhuma vacina causa deformidades em bebês. Vacinas salvam milhões de vidas ao ano”, constata.
Outra fake news desmentida é a de que as vacinas alterariam o nosso DNA. Segundo o especialista, nem a vacina do Butantan com a Sinovac, que usa o vírus inteiro, mas inativado; nem as vacinas que usam pedaços de RNA do vírus como da AstraZeneca com a Fiocruz , a da Janssen, a do Instituto Gamaleya da Rússia, assim como nem as vacinas de RNA mensageiro como da Pfizer e da Moderna, afetam nossa DNA.
“Essas vacinas usam apenas um pedacinho do RNA (ácido ribonucleico), uma parte genética do vírus, que não entram no núcleo de nossas células onde está o nosso DNA (ácido desoxirribonucleico). (Com a vacina) O sistema imunológico vai reconhecer e nos proteger com os anticorpos”, afirma
“Essas fake news não têm a menor plausibilidade científica, porque o vírus que insere todo o seu RNA em nossas células teria muito mais tendência para modificar o nosso genético, mas nem ele faz isso, não vão ser as vacinas com apenas um pedaço do RNA do vírus que vão nos transformar em jacarés, que vão mudar a cor dos nosso olhos ou provocar deformidades em bebês”, complementa.
As vacinas serão o grande legado da pandemia
Por isso, a necessidade de combater o vírus pelo início da vacinação é urgente, uma vez que o Sars-Cov-2 causa uma série de problemas nos pulmões, no coração, no intestino, no fígado, bem como distúrbios neurológicos, sequelas muitas delas irreversíveis e em casos graves levar ao óbito. Dados atualizados de domingo (10/01) revelam que o mundo já ultrapassou 90 milhões de casos e quase 2 milhões de óbitos em razão da Covid-19 (no Brasil são mais de 8 milhões de casos e mais de 203 mil mortes).
“O Brasil tem o maior programa de vacinação em massa do mundo e campanhas criminosas como essas estão assustando a população e podem afetar não só a vacinação em massa contra a Covid-19, como também podem afetar a cobertura vacinal de doenças como pólio, gripe, sarampo, meningite”, alerta o professor.
No entanto, o especialista vê com o otimismo o processo de aprovação das vacinas pela Anvisa (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), produzidas por instituições centenárias como Butantan e Fiocruz, assim como da Pfizer e da Moderna que vem sendo aplicadas em vários países, e que devem ser inseridas no Plano Nacional de Imunizações, sendo distribuídas para toda a população através do SUS (Sistema Único de Saúde).
“Ajude a espalhar empatia, verdade, respeito pela vida e responsabilidade social. E defenda as vacinas que forem aprovadas contra a Covid-19. Essas vacinas serão o grande legado dessa pandemia e uma vitória extraordinária da ciência”, finaliza.
Assista o vídeo: