Neste mês de agosto comemora-se a Semana da Família, e ficamos pensando se ainda é possível olhar com serenidade e simpatia este grupo de pessoas, que estabelece relações tão íntimas e dependentes.
Na Igreja, a Semana da Família tem como tema: “A alegria do amor na família”. De uma maneira ou outra todos temos família. Viemos de uma família por mais pequena que seja.
Em sua obra, Era dos Extremos, sobre o século 20, o historiador inglês, Heric Hobsbaum escreve que “as instituições mais severamente solapadas pelo novo individualismo foram a família e as Igrejas organizadas no Ocidente”. Podemos constatar que a causa mais profunda desta crise da família é o individualismo.
Hoje, as pessoas prezam, sobretudo, a liberdade, compreendida erroneamente como independência de tudo e de todos. O sujeito com sua liberdade “ilimitada”, o indivíduo livre! É esta a nova utopia, ou seja, o desejo-projeto de felicidade, que cada um alimenta para si. Não depender de nada e de ninguém numa autonomia total: eis o ideal! Será que isso é possível ao ser humano?
Este projeto individualista proposto como meio de vida feliz é ilusório. São muitos os condicionamentos sociais e mecanismos, que regem de forma invisível a sociedade, de tal modo imperceptíveis, que criam a ilusão de que é possível uma vida independente de tudo e de todos. Basta pensar no “sorria você está sendo filmado”, cada vez mais presente em tantos lugares.
A realidade não está constituída de indivíduos autossuficientes, que estabelecem relações sociais somente de acordo com sua vontade, determinando sozinhos e por própria conta, com plena autonomia, todos os aspectos da vida. Percebemos que deve haver contrato em qualquer sociedade, nelas os relacionamentos tem prazo para terminar. E os vínculos contratuais são funcionais.
A família, no entanto, não é uma mera sociedade, é uma “comunidade”. A família é comunidade porque não se baseia na ficção de uma autossuficiência ilusória, mas se funda na busca conjunta da autorrealização, no amor entre as pessoas.
Nenhum ser humano é uma ilha. Por mais que as novelas da TV mostrem, às vezes, a família de forma depreciativa, quase todas terminam em um belo casamento. Casamento no qual se retorna à utopia verdadeira, que é a união das pessoas para juntas buscarem a autorrealização, a qual não está no individualismo, no sujeito egoísta fechado sobre si mesmo, mas no amor que se comunica e gera vida. No amor que realmente liberta. Na prática, a verdadeira liberdade não está separada do amor.
A família é invenção de Deus como relata a Bíblia; é o “santuário da vida”. Mais que nunca devemos admitir, que o futuro da humanidade passa pela família, pois todo ser humano pode encontrar na família uma força que o retire do mal para o restituir ao bem.
Reverenciemos, conservemos, consagremos a família, berço da sociedade civil organizada para o bem de todos!
* Artigo de Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo da Diocese de Santo André