Na Bíblia a palavra paz tem grande importância, em hebraico é “shalom”, palavra quase intraduzível para o português, pois designa tudo de bom, felicidade completa, realização e alegria! Traduzimos por paz que é fruto da justiça, mas não de qualquer justiça.
A justiça verdadeira é a que brota de Deus e se faz incluindo o perdão. A justiça meramente humana quando chega a seu extremo pode ser destrutiva. Não à toa os latinos cunharam o ditado; “summum jus, summa injuria”, justiça excessiva torna-se
injustiça. Para estabelecer a paz na sociedade é preciso a política. Só existem duas maneiras de governar: com a política ou com o canhão, já dizia alguém. Política como a palavra indica vem do grego polis=cidade. Política é a arte de governar a cidade, a sociedade. É um conjunto de medidas ou ideias articuladas, visando conseguir um objetivo que favoreça a população.
Uma política sadia, a verdadeira política, é a arte de trabalhar pelo bem comum. É no dizer do papa Paulo VI, uma forma elevada de caridade, quando vivida como prestação de serviço à sociedade (cf. AO 24).
Para que exista uma vida política verdadeiramente humana nada melhor que desenvolver o sentido de justiça, benevolência e de serviço ao bem comum. O bem comum compreende o conjunto das condições de vida social, que permite às pessoas, famílias e às sociedades atingir mais fácil a consecução de seus fins. O termo política se torna pejorativo quando se inspira na ideia de que o fim justifica os meios, separando assim a política da ética. De fato, a política que faz bem ao povo deve fundar-se na verdade, liberdade e solidariedade. Se não for assim, a política se torna a arte de se servir das pessoas, dando-lhes a ideia que as servimos.
Pergunta-se: a Igreja deve meter-se em política? Se nos referirmos à política como a arte do bem comum, sim. No entanto, se nos referirmos à política partidária, não. Cada um deve escolher seu partido conforme sua consciência. Qualquer religião deve respeitar a consciência dos fiéis, que devem ser livres para escolher.
O Concílio Vaticano II nos deixou esclarecido: “A Igreja, em razão de sua finalidade e competência de modo algum se confunde com a comunidade política e nem está ligada a nenhum sistema político. Ela, porém, é sinal e salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana. Cada uma em seu próprio campo, a comunidade política e a Igreja são independentes e autônomas uma da outra. Ambas, porém, embora por título diferente, estão a serviço da vocação pessoal e social das pessoas”(GS n. 76).
O dever de participar na política é de todos os cidadãos. Se a política é ruim, sem participação fica pior. E uma das formas de participar ao alcance de todos é o voto. Estamos às vésperas de eleições e é preciso se preparar para votar. Não se deve aceitar ser um analfabeto político, como o descreveu Bertold Brecht: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.
Artigo por Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André