Diocese de Santo André

Ninguém tem culpa

A propósito do desastre ocorrido no litoral norte do Estado de São Paulo e deslizamentos de terra similares, aqui no Grande ABC. Uma triste e constante realidade que se repete todos os anos. Assim como uma doença, não há como curá-la se não fizer um diagnóstico. A doença tem uma causa, também esta situação tem uma causa. Culpa de quem?

Não raro se foge de responder esta pergunta. Em meio à tragédia, foi comovente ouvir a entrevista de um político que dizia: “Não é hora de procurar os culpados, mas de remediar a situação”. Fica evidente que, ao se esquivar do julgamento, se confessa a culpa.

É com este espírito de não apontar a culpa da situação que ela está sujeita a se repetir. Em nossa cultura ninguém tem culpa de nada. Em especial as autoridades, se eximem de buscar a culpa pela corrupção, incompetência e descaso com a população. E assim, as consequências desta atitude de, não assumir responsabilidades, se torna cada vez mais grave, propiciando repetição dos erros.

Desconhece-se que existe um remédio para cada culpa: reconhecê-la. Pode ser culpa de um indivíduo, de um grupo, de uma soma de fatores ou culpa coletiva, mas existe sempre culpados para cada erro. A solução começa por identificar a causa e quem o praticou.

Em primeiro lugar, onde os responsáveis não têm culpa, a situação fica sempre sem resposta. A impunidade reina e quem pode menos sofre todas as consequências. É o que acontece. Não raro se aponta como culpados desta situação desastrosa, dos deslizamento de casas e morte da população, o próprio povo que invadiu a área, ocupando-a. Não porque quer estar lá, mas porque não tem outra opção para morar.

A constituição brasileira assegura o direito à saúde, moradia, emprego etc, porém, se isto não existe, a culpa nunca está naqueles que governam, mas sempre no povo que é a vítima da consequência. O povo que paga os impostos, mas não lhes dá destinação. Se tem culpa no povo é por se deixar enganar, acreditar e agir de boa fé na hora de votar. Não é à toa que o sábio Confúcio dizia: “O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum aos outros”.

Quando ninguém tem culpa de nada a situação fica muito cômoda para alguns, e a impunidade reina em detrimento da justiça. A  imunidade e impunidade nasceram como apanágio dos que defendiam o Estado. Deviam ter assegurada sua liberdade para defende-lo. Hoje, a impunidade é sinônimo de quem usa suas prerrogativas para prejudicar o Estado e ludibriar a confiança do povo.

Alguns podem achar que a busca pelos culpados conduz à vingança. Se estivéssemos na lei da selva sim, mas na verdade conduz à justiça. Em um país onde existe um arcabouço jurídico e um sistema judicial implantado, é justamente para defender o direito de cada um, em especial dos mais fracos, que mais precisam serem tutelados pelo sistema jurídico. Para isso, existe a defensoria pública e os procuradores, justamente para fazer justiça, porém, que justiça se poderá fazer onde ninguém é culpado de nada?

Antigamente o grande culpado pelas tragédias era Deus. Por que Deus não viu isso? Hoje, porém, uma parte da população está esclarecida. Sabe que Deus não é culpado pela escolha que a humanidade faz na direção do mal. E a outra metade não acredita que Deus existe ou se ocupe da humanidade. Contudo, há uma grande parcela da população que tem religião, tem fé e lê a Bíblia. Por isso sabe que existe pecado do qual se deve arrepender depois de reconhecer a culpa.

Pecado é justamente a escolha deliberada em praticar o que vai contra a consciência, contra o bem comum, contra a lei de Deus e a justiça. É o império do egoísmo que leva a violência por um lado e a indiferença por outro lado. As duas atitudes praticadas em relação a Deus e às pessoas.

Só quem assume a culpa pelo pecado, diante de Deus, poderá ser acolhido por Ele, perdoado e curado. Assim também, somente uma sociedade onde se dá “nome aos bois”, onde aparecem os culpados, poderá se reconciliar consigo mesmo, ser corrigida e curada. E assim, passar a praticar a justiça e o direito, ambos capazes de promoverem a união e a vida plena para todos.

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