No dia 21 de abril, ao meio-dia, a Catedral Nossa Senhora do Carmo tornou-se lugar de oração, memória e profunda gratidão. Com a presença do bispo diocesano Dom Pedro Carlos Cipollini, do clero, seminaristas, religiosos, religiosas e centenas de fiéis, foi celebrada a Missa em Sufrágio pelo Papa Francisco, que faleceu no início da Oitava da Páscoa. A Igreja lotada silenciou-se em prespeito à partida daquele que marcou a história da Igreja com gestos de ternura, coragem e humildade.
No início da celebração, foi proclamado um texto em homenagem ao pontífice:
“O mundo se despede do Papa Francisco, um líder espiritual que marcou sua época com humildade e sensibilidade diante de um mundo dividido. Desde sua eleição em 2013, Jorge Mario Bergoglio encantou fiéis e não fiéis com sua mensagem de misericórdia, justiça social e amor ao próximo”.
Essa memória atravessou toda a celebração, especialmente na homilia de Dom Pedro, que partiu da liturgia da Palavra para refletir sobre a fé na ressurreição e a figura do Papa Francisco.
“Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, diz o apóstolo Paulo”, iniciou o bispo, conduzindo os fiéis a olharem para a vida eterna como horizonte da nossa esperança cristã.
Em um gesto tocante, Dom Pedro leu parte das últimas palavras deixadas por Francisco, escritas para o Domingo da Páscoa:
“Cristo ressuscitou. Está vivo. E não podemos encerrá-lo numa bonita história para contar. Temos de procurá-lo no rosto dos irmãos, no dia a dia, em todo o lado, exceto naquele túmulo”.
Para o bispo, esse trecho resume a alma do pontificado de Francisco.
“O Papa Francisco foi alguém que nos convidou a sair. Uma Igreja em saída não era apenas um conceito para ele, mas uma exigência do Evangelho. Ele nos impulsionava a buscar Cristo nos pobres, nos esquecidos, nas periferias existenciais”, afirmou.
Dom Pedro ainda destacou que Francisco foi um homem de palavra e ação:
“Suas encíclicas como a Laudato Si’ e a Fratelli Tutti não foram apenas documentos, mas clamores ao mundo. Chamados à conversão ecológica, à fraternidade universal, à dignidade do outro. Sua última encíclica, Dilexit Nos, foi uma carta de amor à Igreja. Uma carta que termina com a cruz, mas se abre à esperança da ressurreição”.
A homilia prosseguiu com a meditação sobre o legado deixado por Francisco:
“Ele reformou estruturas, mas, mais do que isso, reformou corações. Reacendeu o amor ao Evangelho com palavras simples e profundidade inaudita. Recordo sua visita ao Brasil em 2013. Ali já víamos seu desejo de uma Igreja jovem, viva, próxima. Ele disse aos jovens: ‘Sejam protagonistas da mudança’. E, de fato, mudou conosco”.
No encerramento da reflexão, Dom Pedro citou as palavras finais de Francisco, lidas como seu testamento espiritual:
“Tudo é novo, Senhor, e nada repetido… Podemos dizer convosco, Senhor: tudo é novo, convosco tudo recomeça”.
A celebração terminou com a emoção de um povo que se despede, mas não se esquece. Um povo que compreende que a morte do Papa Francisco não é o fim, mas um novo começo. Um testemunho deixado à Igreja: de que a fé vivida com autenticidade, simplicidade e serviço tem o poder de transformar o mundo.
Eleito em 13 de março de 2013, Francisco foi o primeiro Papa latino-americano e também o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro. Durante doze anos de pontificado, guiou a Igreja com uma liderança pastoral, aberta ao diálogo, firme na defesa dos pobres e incansável na construção de pontes entre as nações e religiões.
Entre seus gestos mais emblemáticos, estão a visita a Lampedusa, denunciando a indiferença diante dos migrantes; a reforma da Cúria Romana, tornando-a mais sinodal e funcional; o impulso à transparência financeira; e o convite à Igreja para ser cada vez mais uma casa de portas abertas.
Francisco deixou-nos também quatro encíclicas marcantes e inúmeros gestos concretos de inclusão: lavou os pés de refugiados, recebeu pessoas em situação de rua no Vaticano, defendeu o cuidado com a criação e nomeou mulheres para cargos até então inalcançáveis no Vaticano.
Suas viagens apostólicas também marcaram o mundo: esteve em regiões de conflito e de fé silenciosa, como o Iraque, a África Central e o Sudeste Asiático. Foi o primeiro Papa a visitar a Península Arábica, levando uma mensagem de paz e diálogo.
Francisco foi o Papa que simplificou os rituais funerários, que lavou os pés de refugiados e que afirmou: “Prefiro uma Igreja acidentada por sair às ruas do que uma Igreja doente por se fechar em si mesma”.
Agora, com sua partida, o mundo se despede não apenas de um pontífice, mas de um pastor com cheiro de ovelhas, que ousou transformar a Igreja sem perder a ternura do Evangelho. Sua morte, na luz da Páscoa, é mais um sinal da fé que sempre pregou: a de que Cristo venceu a morte e tudo recomeça n’Ele.







