Na manhã da quinta-feira, 7 de setembro, Independência do Brasil, na cidade de São Bernardo do Campo, o 29º Grito dos Excluídos e Excluídas reuniu centenas de fiéis e movimentos sociais para o segundo ano consecutivo da caminhada na Diocese de Santo André. Organizado pela Comissão de Justiça e Paz, com o apoio do Vicariato Episcopal para Caridade Social, pastorais e movimentos da igreja católica, bem como de diversos movimentos sociais, o evento teve como objetivo principal sensibilizar tanto a população, quanto às autoridades civis para os problemas enfrentados pela sociedade, propondo debates e soluções em favor dos mais vulneráveis.
Com o lema deste ano “Você tem fome e sede de quê?”, o Grito dos Excluídos e Excluídas alinhou-se com a Campanha da Fraternidade, da CNBB, e a realidade do Brasil contemporâneo. Em seus 29 anos de existência, o evento tem se destacado por enfatizar a importância da vida, proclamando a esperança por um mundo melhor, sempre sob o lema “Vida em Primeiro Lugar!”.
A programação do dia começou com a celebração da Santa Missa, presidida pelo bispo da Diocese, Dom Pedro Carlos Cipollini, que aconteceu na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem (Basílica Menor) e contou com a presença do Padre Ryan Holke, vigário episcopal para caridade, Padre Luiz Tofanelli, assessor da Pastoral Operária, e o pároco da matriz, Padre Alejandro Cifuentes, cs.
Durante a missa, Dom Pedro Carlos Cipollini, em sua homilia, abordou temas cruciais, fazendo um chamado à justiça social e ressaltou a importância da educação na transformação da sociedade. Com palavras carregadas de fé e esperança, o bispo desafiou todos a irem além, inspirados pela Palavra de Deus, destacando a importância do Reino de Deus e enfatizando que a busca por um Reino de justiça e paz é um compromisso de todos, independentemente de sua posição na sociedade.
“Nossa fé é mais forte e mais profunda do que todas as circunstâncias difíceis que devemos enfrentar”, lembrando as adversidades que muitos brasileiros enfrentam diariamente, incluindo a fome e o desemprego.
O Bispo também questionou se o Brasil realmente se libertou completamente de seu passado colonial, observando que, embora tenha alcançado independência política, ainda enfrenta desafios significativos em termos de igualdade social e justiça.
“Não podemos nos iludir com propagandas que dizem que está tudo bem. Não está, não. Enquanto houver população de rua, miséria, desemprego e pessoas desesperadas, não estamos bem”, enfatizou.
Mudando o foco para a importância da educação como uma ferramenta essencial para a transformação da sociedade, ele lamentou o estado do sistema educacional no Brasil e destacou que a educação é fundamental para o progresso de um país.
“Um país que tenha o projeto educacional esfacelado como o Brasil, dificilmente vai para frente, mesmo que tenha leis boas”, declarou o Bispo.
Dom Pedro Carlos Cipollini concluiu sua homilia chamando a atenção para a necessidade de uma mudança de mentalidade e de coração, enfatizando que a transformação das leis e da sociedade começa com a transformação individual. Ele incentivou todos a ouvirem a Palavra de Deus e a acreditarem no bem, na justiça e na fraternidade.
“Vamos rezar para que se lancem as redes em águas mais profundas, acreditando na presença de Deus libertador em Jesus Cristo, na nossa vida pessoal e na nossa sociedade”, concluiu o Bispo.
Após a missa, a pastoral social da matriz preparou um café da manhã na praça e todos se organizaram para a caminhada. Dom Pedro recordou a importância deste evento em frente à matriz da cidade, um local histórico de luta pela promoção humana e destacou que o Grito dos Excluídos é o desejo de construir um Brasil fraterno, justo e solidário, onde todos tenham seu lugar. Ele também lembrou o papel do Cardeal Dom Cláudio Hummes (in memorian), que, quando bispo da diocese, lutou ao lado do povo do Grande ABC.
A caminhada teve como destino final o Projeto Meninos e Meninas de Rua e passou por diversas ruas da cidade, como a Rua Marechal Deodoro e a Rua Jurubatuba. Durante o percurso, foram realizadas reflexões sobre direitos dos povos originários (indígenas), a luta contra o racismo, a inserção dos excluídos, moradia, saúde, racismo, feminicídio e outros temas.
Vitória Souza, membro do Movimento de luta dos bairros, vilas e favelas, destacou a importância da igreja católica em dar voz aos que sofrem.
“As pessoas que lutam por moradia e se reúnem em nossos núcleos são um povo religioso, e muitas vezes lutam para manter suas casas, que é um direito humano e legítimo. A igreja sempre foi muito participativa na história do movimento democrático do nosso país; as igrejas e as pastorais tiveram um papel fundamental”, afirmou.
No Projeto Meninos e Meninas de Rua, foi realizado um momento de reflexão inter-religiosa, envolvendo várias denominações religiosas.
Ronaldo Machado, vice-coordenador da Comissão de Justiça e Paz, compartilhou suas expectativas em relação ao 29º Grito.
“O Grito é um espaço de escuta da sociedade, de escuta dos problemas, especialmente dos excluídos, dos mais oprimidos, daqueles relegados a segundo plano pelo poder econômico. Somado ao Grito que fizemos em 2022, este foi mais um passo importantíssimo na consolidação daquilo que o nosso querido Papa Francisco nos pede: uma Igreja em saída, pastores com cheiro de ovelhas. Temos certeza de que atingimos esse objetivo.”
Padre Ryan Holke também enfatizou a importância do segundo ano consecutivo do Grito em território diocesano:
“O Grito dos Excluídos é o chamado para um projeto de Brasil que inclua a todos que a Igreja, como parte dessa sociedade, já reconhece pela fé a dignidade de cada pessoa humana. Sabemos que não podemos ter uma comunidade onde alguns são excluídos. A Igreja está caminhando junto, porque essas pessoas também são a Igreja. Juntamente com outras organizações da sociedade civil e as comunidades religiosas, o Grito acontece como um processo inclusivo.”
O 29º Grito dos Excluídos e Excluídas em São Bernardo do Campo foi um poderoso chamado à justiça social e à solidariedade, nos recordou que a transformação da sociedade começa com cada um de nós e que a busca por um Brasil mais justo e inclusivo é um compromisso contínuo que todos devemos abraçar.