Os desafios e perspectivas para a ação evangelizadora, e a realização do Sínodo sobre a Igreja sinodal (2021-2024) e do Jubileu 2025 estiveram no centro das reflexões da 86ª Assembleia dos Bispos do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Realizada entre os dias 4 e 6, no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba (SP), a Assembleia teve a participação dos bispos, padres coordenadores e lideranças pastorais das 36 dioceses e seis arquidioceses localizadas no estado de São Paulo.
Os trabalhos foram abertos com a apresentação do relatório da Presidência do Regional Sul 1, feita por Dom Julio Endi Akamine, SAC, Arcebispo de Sorocaba e Presidente do Regional. Ao longo do evento, houve ainda a prestação de contas e parecer do Conselho Fiscal e a apresentação dos relatórios das comissões episcopais. A Assembleia também foi ocasião para momentos de oração comunitária e a celebração diária da Eucaristia.
PREOCUPAÇÃO COM A ‘TEOLOGIA DO DOMÍNIO’
Nesta edição, o tema central da Assembleia foi “Teologia do Domínio: desafios e perspectivas na ação evangelizadora”, apresentado pelo Padre Donizete José Xavier, professor na PUC-SP e Doutor em Teologia Fundamental pela Universidade Gregoriana de Roma.
O Sacerdote alertou que a chamada “Teologia do Domínio” é um movimento que busca criar “um reino aqui e agora” e leva ao “‘encanto pelo poder’ que está posto nas mãos de alguns; uma teologia que dispensa sistematizações”.
De acordo com o Padre Donizete, a “Teologia do Domínio” está em oposi ção às conclusões do Concílio Vaticano II. Ele exemplificou que para os “‘dominionistas’, os cristãos devem dominar os setores políticos, as instituições e consolidar o grande projeto nacionalista. Percebe-se a ‘sedução’ da afirmação de que a ‘religião’ deve tudo governar. Porém, a Igreja sempre afirmou que a relação entre fé e política, e fé e religião são distintas, ainda que não separadas. A vida e a dignidade humana são valores invioláveis. Os projetos de domínio apresentam um mundo já pronto, acabado, sem lugar para a esperança”, explicou.
O palestrante destacou, ainda, que o grande perigo da “Teologia do Domínio” é o de “ver no outro somente o inimigo, o pecador e o pecado, e nesse sentido, cultivar um sentimento muito mais de fratricídio do que o de fraternidade”.
SÍNODO (2021-2024) E JUBILEU 2025
Dom Moacir Silva, Arcebispo de Ribeirão Preto e Vice-presidente do Regional Sul 1, falou aos participantes sobre a recepção e vivência do Jubileu 2025 – “Peregrinos da Esperança”, cujo início em cada diocese ocorrerá em 29 de dezembro. Ele enfatizou que os fiéis devem ser informados de que o Ano Santo também será ocasião para que obtenham a indulgência plenária para si e para as pessoas já falecidas.
Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André, palestrou sobre “Sínodo dos Bispos: perspectivas e luzes para a ação evangelizadora em nosso Regional”.
Ao recordar que a Igreja é sinodal, ele sublinhou que o “sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial devem estar integrados. É preciso acabar com a contraposição entre clero e leigos para que predomine outro binômio integrativo: comunidade/ministérios”. O Bispo, que é um dos representantes brasileiros na etapa universal do Sínodo, enfatizou: “Devemos articular a unidade da Igreja a partir da Trindade e na Eucaristia”.
‘CONVERSA NO ESPÍRITO’
O Bispo de Santo André também explicou a metodologia da “Conversa no Espírito”, adotada tanto na Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos em 2023 quanto na Assembleia Geral da CNBB deste ano.
Na sequência, os participantes, divididos em 13 grupos, realizaram a “Conversa no Espírito” e depois partilharam as reflexões com toda a Assembleia. Após ouvi-los, Dom Cipollini destacou que o “Sínodo é um processo que começou e não vai terminar. A Iniciação Cristã deve continuar em todos os níveis. Também não se pode esquecer dos pobres. A Igreja tem que ser de todos”, disse ao se referir a alguns dos temas que emergiram da conversação, assim como a preocupação como o clericalismo.
CONSELHO EPISCOPAL DO REGIONAL SUL 1
Durante a Assembleia, também houve a aprovação do regulamento do Conselho Episcopal do Regional Sul 1.
Conforme explicou à reportagem Dom Carlos Silva, OFMCap., Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Secretário do Regional Sul 1 da CNBB, este Conselho Episcopal “é o órgão por meio do qual a CNBB exerce a sua missão evangelizadora no Regional Sul 1. Respeitando sempre a competência de cada Bispo, a principal missão do Conselho Episcopal é fomentar a colegialidade, promover o estudo e a aplicação das Diretrizes Gerais da Santa Sé e da CNBB, promovendo a pastoral orgânica, coordenando as atividades do Regional em sintonia com as atividades nacionais da CNBB”.
CONCENTRAR-SE NO ESSENCIAL: JESUS CRISTO
A Assembleia foi concluída com missa, na quinta-feira, 6, presidida por Dom Julio Akamine, durante a qual ocorreu o envio missionário do Padre Salvador Maria Rodrigues de Brito, do clero da Diocese de Guarulhos (SP), para a Diocese de Barra dos Garças (MT).
Na homilia, o Presidente do Regional Sul 1 recordou as reflexões centrais realizadas durante o evento e enfatizou: “A nossa Assembleia foi um impulso a nos concentrarmos no essencial que é Cristo. Ela apontou para um compromisso sinodal e para uma esperança que não decepciona”.
Em entrevista ao site do Regional Sul 1, Dom Julio destacou que a Igreja sempre agirá na perspectiva missionária, com a opção preferencial pelos mais pobres e com uma evangelização profundamente ancorada no Evangelho e em Jesus Cristo. “Queremos agradecer a todos que nos acompanharam, principalmente com suas orações, e que retornemos para as nossas igrejas particulares com um renovado ardor missionário”, expressou.
Ao O SÃO PAULO, Dom Carlos Silva lembrou que diante dos atuais desafios de uma cultura urbana tão complexa, a fidelidade ao Evangelho e a comunhão entre as dioceses são fundamentais. “A Assembleia é expressão desta comunhão. O grande desafio é fazer com que as Igrejas particulares sejam autônomas, sob a orientação do seu bispo diocesano, mas, ao mesmo tempo, criarmos cada vez mais uma cultura sinodal, de escuta, diálogo e partilha também entre as ações das dioceses no nosso Regional, favorecendo uma ação mais eficaz e atuante em nosso Regional”.
Questionado sobre como as dioceses no estado de São Paulo têm se inserido na realização do Sínodo (2021-2024) e no Jubileu 2025, o Secretário do Regional Sul 1 fez menção ao que disse Dom Julio na missa de encerramento: “A nossa Assembleia apontou o caminho a ser seguido: um caminho sinodal que busca ouvir a todos porque a todos o Espírito Santo está a falar, o compromisso com uma cultura sinodal em todos os níveis da Igreja, uma peregrinação na esperança que não decepciona, a estrada da misericórdia de uma Igreja que faz penitência pelos pecadores e os encoraja a buscar a indulgência, escolhendo continuar favorecendo a missão ad gentes na África’”.
(Com informações da Comunicação do Regional Sul 1 da CNBB)