Durante a sessão ordinária da Câmara dos Vereadores de São Bernardo do Campo, realizada no dia 9 de abril de 2025, o Padre Dr. Jean Rafael Eugênio Barros, vigário judicial do Tribunal Eclesiástico da Diocese de Santo André, fez uso da tribuna para apresentar uma resposta formal ao vereador Luiz Henrique Watanabe.
Acompanhado dos vigários forâneos de São Bernardo, Rudge Ramos e Anchieta, além de membros do clero da cidade, Padre Jean expressou, de forma firme e respeitosa, o posicionamento da Diocese frente às declarações proferidas anteriormente pelo parlamentar, que associavam a Igreja Católica à prática de crimes de pedofilia.
Em sua fala, o sacerdote esclareceu o compromisso da Diocese com a verdade, a justiça e o cuidado com os mais vulneráveis, apresentando a atuação concreta da Comissão Diocesana para a Tutela de Menores e Pessoas em Situação de Vulnerabilidade. Ressaltou ainda que a Igreja não compactua com o erro, e que aqueles que o cometem devem ser responsabilizados conforme o Código de Direito Canônico e a legislação civil brasileira.
O texto lido na tribuna, que pode ser conferido na íntegra abaixo, também solicita, em nome da dignidade do ministério presbiteral e do bom senso, uma retratação pública por parte do vereador, caso ele não apresente provas das acusações feitas:
Resposta ao Ilmo. Sr. Vereador: Luiz Henrique Watanabe
Ilmo. Sr. Vereador
Danilo Lima
Presidente da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo/SP
A misericórdia de nosso Senhor se manifesta sobretudo quando ele se inclina sobre a miséria humana e demonstra sua compaixão, para quem necessita de compreensão, cura e perdão.
Olhar misericordioso da Igreja, é sempre em vista da “Salvação das Almas”, tendo na pessoa do BISPO, (em nosso caso Dom Pedro Carlos Cipollini) pastor e guia do seu rebanho, que no exercício dos deveres de vigilância, a ele confiado, cabendo-lhe o cuidado da porção do povo de Deus, amando a todos os seu filhos, mas protegendo com um afeto especial aos mais pequeninos e indefesos; Pois essa tarefa de proteção e de cuidado é sinal de amor: misericórdia e justiça, sobretudo diante dos desafios do mundo atual no campo afetivo sexual, quando o Bispo ao exercer seu múnus de santificar, tem a responsabilidade de olhar os mais frágeis entre as pessoas que lhe são confiadas.
Nosso responsável maior, Dom Pedro Carlos Cipollini, ao constituir, nesta Igreja Particular, Diocese de Santo André (que abrange as sete cidades do ABCDMR²), a Comissão Diocesana para a Tutela de Menores e pessoas em situação de Vulnerabilidade, uma comissão especifica para esses casos de abusos sexuais entre outros na ordem afetiva. Uma vez que esta Comissão tem um trabalho ligado diretamente ao Bispo, e tendo fundamento as denúncias é lincada ao Tribunal Eclesiástico Diocesano de Santo André, para uma investigatio praevia e ou processo administrativo penal. Estando já constituída essa comissão, temos como funcionalidade do Presidente desta comissão, que é o Revmo. Sr. Pe. Cícero Soares da Silva Neto, sendo o responsável por receber reclamações e outras informações sobre possíveis abusos sexuais cometidos por clérigos, entre outros, etc. Os membros da Comissão, por sua competência nas diferentes áreas, auxiliarão o presidente no desempenho de suas funções. Para dar resposta às inúmeras perguntas sobre os passos que se devem seguir nas causas de abuso sexual a menores e pessoas em situação de vulnerabilidade, fazem referência à tutela da boa fama das pessoas envolvidas, de modo que a denúncia não possa gerar preconceitos, retaliações, discriminações. E cientes das palavras do Papa Francisco que “crimes de abuso sexual ofendem Nosso Senhor, causam danos físicos, psicológicos e espirituais às vítimas e prejudicam a comunidade dos fiéis e, que, para esses casos, em todas as suas formas não ocorram mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, acompanhada de ações concretas e eficazes que envolvam todos na Igreja. (cf. Introdução § 2 da VELM). Neste sentido não prevê que o Bispo tenha de exercer contínuos controles de investigação sobre os clérigos a ele sujeitos, mas também não lhe permite eximir-se de se manter informado sobre a conduta deles neste campo, sobretudo se chegaram ao seu conhecimento suspeitas, comportamentos escandalosos, condutas que perturbam gravemente a ordem, por isso, o objetivo deste organismo na Igreja é facilitar que as pessoas que estão cientes desses abusos possam informar às autoridades da Igreja, garantir que as informações recebidas sejam convenientemente estudadas e que as medidas necessárias sejam tomadas em tempo hábil, evitando o silêncio e a ocultação desses crimes quando ocorrerem.
E neste sentido, gostaria que o Ilmo. Sr. Vereador Watanabe ao fazer uso da Tribunal, na ocasião do dia 19/03, p.p, desta casa de leis, proferiu um pensamento associando a Igreja Católica à Pedofilia, sobretudo ao cooptar uma informação de um denominado estudo dos E.U.A (citando o relatório de John Jay para justificar suas afirmações, distorceu gravemente … informações em nota de repúdio, emanada pelo Departamento de Comunicação – Diocese de Santo André), e aplicado de modo genérico apresentando que a Igreja Católica é conivente ao escolher seus PRESBÍTEROS, ferindo gravemente o processo formativo nos seminários eclesiásticos, e ao mesmo tempo generalizando uma situação de desvio de conduta de alguns seres humano a todo clérigo, e por isso, gostaria que apresentasse os supostos nomes de pedófilos existentes nesta Igreja Particular, para que pudéssemos agir …, mas tratar a todos os Presbíteros como o sendo de acordo com seu comentário, é chulo e sem caracter, além de leviano e nos expondo às agressividades em nossas atividades espirituais na sociedade vigente.
É sabido que dizer e fazer constituem o modo de ser do homem comprometido. A coerência de vida nos convida a práxis cristã. O cristão deve escolher entre o caminho estreito, que coincide com o plano de Deus, e, o caminho largo que não se preocupa com Deus, uma postura para sua vivência de fé.
Portanto, a nossa capacidade de ouvir, para colocar em prática, conforme o texto de Mt 7,21 “nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino do Céus, mas aquele que põe em prática a vontade de Meu Pai”, e nesse sentido o sim a nossa vida prática, e nela, a prática da justiça que Deus quer.
Por isso mesmo, tendo consciência que o povo eleito rejeita Jesus como Messias, continuando a tradição de rejeitar os profetas, porque a mensagem deles não correspondia com o que queria escutar, e ainda hoje não é diferente, pois muitos preferem viver uma vida fácil, no erro, nas drogas, nas bebedeiras, na vida promiscua, na enganação, na pratica da injustiça, na mentira, na ganância, no leva e traz de informações que distorce a verdade (…) a viver como imagem e semelhança de Deus, vivendo na harmonia, no perdão, na paz, na unidade, na concórdia, no bem querer ao outro, sem disputa de espaço e vez (…).
Nossa presença aqui hoje não é autodefesa, e nem justificativa, mas é profético, para poder dizer à sociedade que temos um posicionamento, convicção e que queremos sempre o melhor, pois lutamos por uma Igreja séria e comprometida com o Reino de Deus sem acobertar os erros e misérias, mas que ao respeitarmos, exigimos também respeito.
Concluo: se há do conhecimento do Ilustríssimo Sr. Vereador tal situação como esta, nos aponte e, prove-nos, para podermos agir, conforme as leis da Igreja (Código de Direito Canônico) e de acordo com nossa Legislação civil brasileira, mas senão, exigimos de sua parte uma retratação pública, e por escrito que seu pensamento nesta casa de leis foi equivocado quanto a questão supramencionada.
Sem mais,
Atenciosamente,
Pe. Dr. Jean Rafael Eugênio Barros,
Presidente e Vigário Judicial do Tribunal Eclesiástico Diocesano de Santo André.
São Bernardo do Campo/SP, 09 de abril de 2025.


