Vivemos num século caracterizado pela provisoriedade, onde tudo muda com muita rapidez e complexidade. As novas tecnologias se difundem velozmente produzindo inovações que invadem os processos do acesso ao saber. Ao mesmo tempo, temos uma grande maioria da população vivendo à margem destas e de outras melhorias. Um período de intensas transformações técnico-científicas em detrimento de desequilíbrios ecológicos. As relações humanas e subjetivas encontram-se comprometidas e o individualismo aumenta. É preciso criar uma sociedade onde os direitos sejam respeitados, onde os valores como: igualdade, solidariedade, justiça e paz se tornem realidade na vida das pessoas.
Para que isto aconteça, é preciso educar o indivíduo a fim de que seja sujeito de sua própria história, comprometido com uma sociedade justa, fraterna e solidária, capaz de assumir uma posição crítica diante da realidade social e trabalhar pela transformação da mesma. Neste contexto, trago presente a proposta educativa do Beato Padre Luís Caburlotto, onde o enfoque está na qualidade do relacionamento educador-educando, tendo como expressão-chave: “influir no coração”.
Pe. Luís Caburlotto (1817 – 1897) foi um sacerdote atuante em Veneza e dedicou um longo período de sua vida na missão educativa. Em 1850, fundou o Instituto das Filhas de São José, na intenção de assegurar a continuidade desta obra e ao mesmo tempo solidificá-la. É possível afirmar que ele foi um sacerdote muito ativo e solícito na reflexão dos problemas de sua sociedade, na qual sempre buscou ser um agente transformador. Caburlotto foi um educador. Sua “pedagogia” não surge como teoria, mas como uma resposta a necessidade de educar para opor-se às grandes dificuldades que sobrevinham sobre as crianças, adolescentes e jovens de sua época. Um homem de temperamento severo e ao mesmo tempo afável, uma inteligência lúcida e um educador mais prático que teórico. Ele educava para a vida.
Pe. Luís Caburlotto traça uma linha de ação a partir dos problemas encontrados em sua realidade e acredita que a partir de um projeto educativo é possível sanar estes males. Seu anseio sempre foi oferecer ao educando um desenvolvimento completo, integral, onde fosse possível subsidiá-lo a se relacionar bem consigo mesmo, com as pessoas, com o mundo e com o transcendente. Para ele educar é mais do que ciência, é uma arte: “Arte do coração”.
Nesta proposta, o educador deve cativar os educandos, criando uma relação empática com os mesmos, pois se isto acontecer, automaticamente a aprendizagem ocorrerá com muito mais facilidade, pois o educando se abrirá ao “aprender”. Caburlotto apresenta o educador como um ponto referencial para o educando e afirma que é necessário ter a consciência de que a própria pessoa do educador transmite uma mensagem educativa muito antes que seus ensinamentos teóricos.
Diante destes princípios educativos, não é possível educar para valores que o próprio educador não os vive, portanto é imprescindível que o educador seja coerente com aquilo que ensina, ou seja, que saiba testemunhar e que sua fala seja uma expressão do seu agir.
*Artigo escrito por Ir. Elaine Cristina de Souza, Filha de São José do Caburlotto