A liturgia do primeiro Domingo do Advento convida-nos a organizar a nossa caminhada pela história, à luz da certeza de que “o Senhor vem”. Apresenta-nos também indicações concretas acerca da forma como devemos viver esse tempo de espera.
A primeira leitura (Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7) é um apelo dramático. É, o Deus que é “pai” e “redentor”, que vem mais uma vez ao encontro de Israel, para o libertar do pecado e para recriar um Povo de coração novo. O profeta não tem dúvidas: a essência de Deus é amor e misericórdia.
São essas “qualidades” de Deus a garantia da sua intervenção salvadora em cada passo da caminhada histórica do Povo de Deus.
O profeta apresenta em pano de fundo um Povo de coração endurecido, rebelde, indiferente, que há muito se esqueceu de Deus e da Aliança. É uma situação que não difere daquilo que é a vida de tantos homens e mulheres dos nossos dias. Perguntemo-nos, que lugar ocupa Deus na nossa vida? Que importância damos ao Evangelho? As sugestões e os apelos de Deus têm algum impacto sério nas nossas opções, na nossa prioridade de vida?
O Evangelho (Mc 13,33-37) convida os discípulos a enfrentar a história com coragem, determinação e esperança, animados pela certeza fundamental de que “o Senhor vem”. Ensina, ainda, que esse tempo de espera deve ser um tempo de “vigilância” – isto é, um tempo de compromisso ativo e efetivo com a construção do Reino de Deus.
A nossa caminhada humana não é um avançar sem sentido ao encontro do nada, mas uma caminhada feita na alegria ao encontro do Senhor que vem. Não se trata de uma vaga esperança, mas de uma certeza baseada na palavra infalível de Jesus.
O tempo de Advento recorda-nos a realidade de um Senhor que vem ao encontro dos homens e que, no final da nossa caminhada por esta terra, nos oferecerá a vida definitiva, a felicidade sem fim.
O tempo do Advento é, também, o tempo da espera do Senhor. O Evangelho deste domingo diz-nos como deve ser essa espera… A palavra central é “vigilância”: o verdadeiro discípulo deve estar sempre “vigilante”, cumprindo com coragem e determinação a missão que Deus lhe confiou.
Estar “vigilante” não significa ter medo, estar atentos para evitar assaltos, ou somente ter a “alma” limpa para que a morte não o apanhe com pecados por perdoar… Mas significa viver sempre empenhados, comprometidos na construção de um mundo de vida, de amor e de paz. Significa cumprir, com coerência e sem preguiça, os compromissos assumidos no dia do baptismo e ser um sinal vivo do amor e da bondade de Deus no mundo. É dessa forma que eu tenho procurado viver?
Em concreto, estar “vigilante” significa não viver de braços cruzados, fechado num mundo de alienação e de egoísmo, deixando que sejam os outros a tomar as decisões e a escolher os valores que devem governar a humanidade; significa não me demitir das minhas responsabilidades e da missão que Deus me confiou quando me chamou à existência… Estar “vigilante” é ser uma voz ativa, propondo sempre os valores do Evangelho; é lutar de forma decidida e corajosa contra a mentira, o egoísmo, a injustiça, tudo aquilo que rouba a vida e a felicidade a qualquer irmão que caminhe ao meu lado.
O Senhor vem continuamente na pessoa dos irmãos, em especial os mais pobres. Nos perguntamos: onde obter forças para praticar este Evangelho?
A segunda leitura (1Cor 1,3-9) mostra como Deus se faz presente na história e na vida da comunidade, através dos dons/carismas que gratuitamente derrama sobre o seu Povo. Sugere aos batizados que se mantenham atentos e vigilantes, a fim de acolherem os dons de Deus.
A ação de Deus, o seu papel de “redentor” concretiza-se através de Jesus e das propostas que Ele veio fazer aos homens e ao mundo? Neste Advento, estou disposto a acolher Jesus e a abraçar as propostas que Deus, através d’Ele, me faz?
São Paulo fala aos coríntios que Deus ama aquela comunidade e lhe deu através do Espírito Santo, muitos carismas, muitos dons. Mas por que Deus deu-lhes tantos dons?
São Paulo manifesta a sua convicção de que os “carismas” com que Deus cumulou os coríntios são destinados a construir uma comunidade orientada para Jesus Cristo, capaz de viver de forma irrepreensível o seu compromisso com o Evangelho até ao dia do encontro final e definitivo com Cristo.
Também hoje Deus nos dá a força necessária para viver o Evangelho que meditamos. Amém!