Leituras:
1ª Leitura: Sf 3,14-18a
Salmo: Is 12
2ª Leitura: Fl 4,4-7
Evangelho: Lc 3,10-18
ORDENAÇÃO DIACONAL
Em 12 – 12 – 2021 Paróquia Sagrada Família – Jd. Lago – S. Bernardo do Campo
Homilia proferida por Dom Pedro Carlos Cipollini, Bispo de Santo André
Prezados srs. Padres, Pe. Everton, pároco desta Comunidade Paroquial da Sagrada Família que nos acolhe com tanto carinho, diáconos, ministros, irmãos e irmãs, povo de Deus pelo Santo Batismo que nos faz Igreja, todos os que nos ouvem melas mídias da Diocese. Uma saudação toda especial aos que serão ordenados diáconos permanentes depois deste longo itinerário de preparação, as esposas e filhos, familiares e amigos. A todos saudação paz e bênçãos! Também saúdo e agradeço o Pe. Pedro Teixeira de Jesus e o diác. Wagner Inarelli, juntos coordenaram a Escola Diaconal e com a comissão Diocesana dos Diáconos ajudaram na formação e preparação dos futuros diáconos.
A liturgia de hoje nos convida através da Palavra proclamada, a nos voltarmos para a alegria e o otimismo que brotam da fé, não obstante as dificuldades e dramas que nos envolvem. A promessa do Advento é a vinda do Senhor para estar conosco e trilhar com a humanidade os caminhos tortuosos da História para nos salvar. Natal é celebração do grande mistério da encarnação. Neste tempo difícil de pandemia somos convidados a esperar e cantar porque cremos Naquele que vem e para o qual mesmo as trevas não são escuras, porque Ele é Luz.
No Evangelho ouvimos o grande convite de João Batista a preparar os caminhos daquele que chega através de uma vida santa e solidária com os irmãos e irmãs. É preciso conversão à solidariedade para seguir Jesus Cristo na implantação do Reino de Deus através do anúncio do Evangelho da Vida.
A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele e são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar alegria que não tem fim.
Estamos para ordenar esses dezesseis diáconos. Mas o que é o diaconado? O diaconado é um ministério presente na Igreja desde seus primórdios, instituído pelos apóstolos na Igreja de Jerusalém (cf. At 6,1-6). Os diáconos tem a missão de sinalizar a toda a Igreja a figura de Jesus Cristo o Servo de Deus e Servidor da humanidade. São instituídos em vista de uma Igreja servidora e pobre (cf. Puebla 697). Os diáconos são discípulos-missionários de Jesus, ordenados no primeiro grau do sacramento da Ordem, para o serviço da Palavra, da Caridade e da Liturgia (cf. DAp 205).
Este ministério não é um privilégio, mas é um chamado a ser sacramento do Cristo-Servo, expressão da Igreja servidora que faz suas “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem” (Vat. II in GS 1). Eles são ordenados diáconos com o aval de suas esposas, mas elas não se tornam diáconas nem diaconisas por isso. O ministério é conferido a eles pessoalmente.
Hoje, sabemos bem, que a tarefa tradicionalmente atribuída ao diácono é o canto do Exultet na Vigília Pascal, que se abre com o hino e a alegria pascal que o diácono anuncia às três categorias chamadas a dar louvor ao Ressuscitado: primeiro a multidão dos anjos, as testemunhas do nascimento e também da ressurreição; segundo, a Terra, libertada da obscuridade do pecado; e terceira, a mãe Igreja representada pela assembleia reunida no templo. Precisamente por isto, o canto alegre do Exultet permanece liturgicamente, o ofício mais vistoso do ministério diaconal. Neste canto o diácono anuncia a vitória de Cristo e a alegria de amar e servir como Jesus o fez.
Alegria da fé não está sujeita ao consumismo, mas a fé vive também em contextos inóspitos. E esta sua força extraordinária, que parece contraditória e, permanece, incompreensível para as categorias mentais do mundo. Isto porque o encontro com amor de Deus resgata a consciência de todo isolamento, de toda solidão, abatendo os muros da vaidade e do egoísmo.
O diácono é o ministro da alegria e da solidariedade. A solidariedade, que é muitas vezes uma palavra malvista pelo mundo ocidental econômico, é, em vez disso, o tesouro dos pobres. Jesus se encarna porque Deus é solidário com a Humanidade e vem salvá-la. O diácono deve ser homem de solidariedade, figura de Cristo que veio para servir, curar, acolher os fracos e pobres:
- Ser solidário é dizer não a cultura do descarte:
Solidariedade é uma palavra que reflete os valores humanos e cristãos que hoje nos vêm pedidos para contrastar a cultura ocidental do descarte que deixa fora as pessoas em estado de necessidade e de fragilidade: as crianças, os jovens, os idosos, todos aqueles que “ não servem”, pois não estão mais em condição de produzir.
- Ser solidário é dizer não a globalização da indiferença:
A cultura do bem-estar egoisticamente centrada sobre o eu e sobre a satisfação prioritária das suas necessidades, nos torna insensíveis ao grito dos outros, leva-nos “a globalização da indiferença”. A cultura do bem-estar que nos anestesia vai contraposta, então, cultura da solidariedade desinteressada.
- Ser solidário é trabalhar para construir a paz:
É tarefa de todos os homens construir a paz por meio de duas estradas: 1) Promover e praticar a justiça com verdade amor. 2) Contribuir, a cada segundo às possibilidades, ao desenvolvimento humano integral, segundo a lógica da Solidariedade e escolhas que poderemos definir “diaconais”.
- Ser solidário é servir sem interesse:
Ser solidários significa “servir”, isto é, entrar em relação com quem está em estado de necessidade, reconhecendo-o como pessoa e nos empenhando a encontrar respostas concretas às suas necessidades, sem cálculos, tem temor, com ternura e compreensão. O diácono é um cristão que ama faz o discursos sobre os pobres. Nele os pobres olha nos seus olhos. Neles – pessoas famintas, sedentas, nuas, doentes, oprimidas – reconhece as chagas de Cristo para curar com solicitude, paciência, ternura.
- Ser solidário é acompanhar:
“Acompanhar” significa não se contentar com uma caridade que deixa o pobre assim como está. A verdadeira misericórdia, aquela que Deus nos doa e nos ensina, requer a justiça.
- Ser solidário é defender:
“Defender” significa reconhecer e acolher os pedidos de justiça e esperança, buscando juntos estradas e percursos concretos de libertação. Quer dizer se colocar no lugar de quem é mais frágil.
- Ser solidário é também saber chorar:
A solidariedade deve levar o cristão a “saber chorar”, com os que choram, diante das tragédias que quotidianamente se consumam em prejuízo dos pobres. Às vezes, em nossas vidas, os óculos que nos ajudam a ver Jesus são precisamente as lágrimas.
Enfim, caríssimos filhos que estão para ser ordenados, sejam homens da solidariedade, sejam uma “carícia de Deus” aos que sofrem, aos pobres e angustiados. Levem em nome da Igreja e do bispo, ao qual estão particularmente ligados, este sinal de cuidado e amor, “carícia de Deus” aos infelizes.
Os cristãos todos são chamados a se tornar “carícia de Deus” para quem talvez tenha esquecido a íntima alegria das primeiras carícias de seus pais, ou que talvez jamais na sua vida pode saboreá-las. No exemplo do Bom Samaritano, diante dos sofrimentos humanos, o cristão não volta o rosto para o outro lado: ele, ao contrário, deve oferecer o abraço de ternura, o “carinho de Deus”.
Que Maria Santíssima de Guadalupe que hoje celebramos, a serva solidária de Deus, interceda por vocês. Ela se solidarizou com o povo indígena sofrido, que não tinha mais alegria, lá no México em 1531. A seu exemplo sejam solidários, servidores e cuidadores.
Façam isto e viverão e vosso ministério diaconal não será em vão!
AMÉM