Texto publicado no Diário do Grande ABC dia 7 de Setembro de 2015
Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André – SP
Em pouco mais de um ano de pontificado, o Papa Francisco permanece surpreendendo com seu profundo amor a Jesus e à Igreja. “O Papa, como sucessor de Pedro, é perpétuo e visível fundamento da unidade, não só dos bispos, mas também da multidão dos fiéis” (LG 23). O papa, em seu ministério, preside na caridade e promove o bem comum da Igreja toda e de cada uma das Igrejas particulares. Nestas poucas linhas está a síntese do que o concílio Vaticano II ensina sobre o ministério do Bispo de Roma.
Não poderia ser sem motivo pensado que o autor dos Atos dos Apóstolos, mencionou a presença de romanos no dia de Pentecostes em Jerusalém (cf. At 2,10), deixando perceber a ligação desta cidade, com o apóstolo Pedro, que logo em seguida tomou a palavra para anunciar a Boa Nova. São Pedro chefe da Igreja de Roma, e seus sucessores, ao longo dos séculos foram defensores da fé e seus propagadores.
Hoje na pessoa do papa Francisco o ministério de Pedro se faz presente com um brilho incomum. Mesmo diante das críticas e incompreensões, e de certo “complexo anti-romano”, na expressão do teólogo Von Balthasar, às vezes presente mesmo dentro da Igreja, os papas destes últimos decênios, realmente foram firmes como a rocha. E Francisco não é exceção.
Para estar à frente de uma Igreja que chegou no vigésimo século de história, e é depositária de uma verdade religiosa e moral, o papa não pode mudar este depósito da fé, nem colocá-lo periodicamente em leilão, para agradar a todo mundo. Há que se ter um fundamento e este é Cristo e seu Evangelho, vividos segundo a tradição apostólica. A perenidade da Igreja é garantida pela promessa de Cristo e por sua fidelidade.
O papa Francisco chama a atenção por sua vitalidade repleta de fé e humildade. Seus ensinamentos são marcantes, claros, quais pequenas sínteses embasadas em reflexões profundas, perpassadas de humanidade e sabedoria. Podemos enumerar algumas constantes de seus ensinamentos: a) Uma Igreja pobre para os pobres, b) Primazia da humildade e bondade, c) Estar imerso no povo, d) Não ter medo da ternura e da misericórdia, e) O verdadeiro poder é serviço, f) A fé se propõe, não se impõe, g) A Igreja não é ONG mas comunidade de fé e vida, h) Dizer não ao pessimismo, i) Saber sorrir e ter esperança, j) Importância da unidade entre os cristãos, l) A evangélica coragem da sinceridade. Estas são algumas “encíclicas” em miniatura que mesmo os que não sabem ler compreendem.
Estes princípios estão aplicados pelo papa e sistematizados na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium e na Encíclica Laudato Si, sobre ecologia. Esta última, pode ser resumida na advertência de que o Homem não deve ser dominador da natureza, mas deve ser seu guardião, pois foi isso que Deus lhe ordenou, sabendo usufruir dela sem destruí-la pela ganância do lucro. Os bens da natureza devem ser preservados por todos.
Agora o papa Francisco nos convoca para viver o Ano Santo da Misericórdia. Inicia-se em dezembro deste ano e termina no final do ano que vem. O papa propõe a este nosso mundo violento, dividido e triste, a vivência da misericórdia e do perdão. Que todos possamos olhar para Deus com um olhar confiante e repleto de esperança pois Ele é nosso Pai e nos ama. E assim, a partir da misericórdia construir um mundo mais fraterno no qual todos sejam incluídos no banquete da vida.
Que o Papa Francisco seja abençoado e possa contar com nossa adesão filial.