Espiritualidade do agente a Pastoral da Saúde
Palestra de Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André
Encontro dos agentes da Pastoral da Saúde da Diocese em 31.11.2015
INTRODUÇÃO
Ser Jesus para os doentes é ser misericordioso: não passar pelo doente com indiferença mas saber compadecer-se e colocar-se em seu lugar.
Esta é uma exigência para todo cristão, para todos os que já se encontraram realmente com Jesus e desejam segui-lo de verdade como discípulos e missionários. A misericórdia e acolhida para com o doente é a base de uma espiritualidade do agente da Pastoral da Saúde.
A Igreja que continua a missão de Jesus, tem uma especial predileção pelos pobres e, o papa Francisco diz desejar uma “Igreja pobre para os pobres”. Entre os pobres mais necessitados estão os doentes. Eles devido ao sistema econômico que rege nosso mundo são desprezados, maltratados e não raro, escondidos. Mesmo os doentes que tem recursos não deixam de sofrer na nossa realidade.
SÃO CAMILO DE LELLIS
O século XVI foi muito agitado e violento com muitas guerras de religião: luta entre católicos e protestantes (muitas guerras, epidemias, fome e rivalidades)
Deus vai suscitar muitos homens e mulheres que movidos pela misericórdia evangélica, irão praticar a caridade de forma extraordinária
Em 1550 nasce Camilo, sua mãe se chamava Camila e sonhou antes de ele nascer, com um menino que trazia uma cruz vermelha no peito e outras crianças a seguiam.
Camilo perdeu a mãe quando pequeno e o pai aos dezesseis anos. Era um jovenzinho que gostava de aventuras e do jogo. Deu trabalho…
Alistou-se para ir à guerra, lá presenciou todo tipo de horrores, tornou-se viciado em bebida e em jogo de cartas, adoeceu e no hospital foi se tratar de uma ferida na perna direita que o acompanhou por toda a vida. Sarou e voltou para a vida dissipada. Tornou ao hospital e ali teve a inspiração de dedicar-se gratuitamente ao serviço dos doentes.
Em dois de fevereiro de 1575 foi tocado pela graça de Deus e se converteu: resolveu dedicar toda sua vida ao cuidado dos enfermos e para isso fundou uma congregação. Morrei em 1614.
Camillus na antiga Roma, era o nome dos jovens que ajudavam os sacerdotes nas celebrações com o povo. São Camilo foi um ajudante geral dos enfermos.
Seu modelo foi Jesus “O Bom Samaritano” (cf. Lucas 10,25-37- bom samaritano). Jesus faz-se próximo do necessitado e do pequeno, do fraco e pobre. A lei do amor é que nos julgará conforme o que diz o Evangelho Mt 25, 31-46.
JESUS E OS DOENTES
Na missão de Jesus em primeiro lugar está a Palavra. Sua missão é pregar a Palavra do Evangelho, a boa nova do Reino de Deus.
Ao lado da Palavra está a cura dos enfermos como sinal da vinda do Reino.
Jesus não oferece apenas a cura mas acima de tudo faz uma promessa: Felizes os que choram pois serão consolados (Mt 5,4). Jesus não diz que agora não haverá mais sofrimento, mas promete um mundo novo, onde nem mesmo o sofrimento impedirá a vida no amor.
Sem a esperança de um novo mundo, de um novo modo de viver, o sofrimento não tem sentido.
Quando Jesus cura o leproso (Mt 8,1-4), o leproso não era apenas um enfermo mas um “impuro”, ele pede a purificação que lhe permitiria se integrar de novo na sociedade. Jesus o toca e o purifica. A cura maior que Jesus faz é integrar a pessoa na comunhão com os outros.
Jesus cura a sogra de Pedro (Mt 8,14-15). Jesus mostra sua misericórdia (e não só poder). Jesus toca a sogra de Pedro e diz: levanta. Ela se levantou curada e colocou-se a servir. A cura maior que Jesus opera é fazer a pessoa descobrir a maravilha de servir.
Jesus para São Mateus ( Mt 8,16) é aquele que carrega nossas enfermidades, Mateus cita Is é alma…Assumir/carregar, fala da dedicação de Jesus aos doentes e sua participação na vida deles.
Jesus cura o paralítico (Mt 9, 1-8). Ele chega carregado e pede a cura. Jesus lhe diz: teus pecados estão perdoados. Ele pede a cura e Jesus dá perdão antes da cura, para mostrar que a enfermidade maior é o pecado: o homem tem necessidade de cura e de perdão ao mesmo tempo…
Só a cura do corpo não resolve o verdadeiro problema do homem que é a vitória sobre a morte. O homem que é curado, qualquer dia deverá encontrar a morte. Por isso a resposta maior é a resposta sobre a morte. Jesus vai dizer que a menina morta que ele chamou para curar , Jesus falou que ela não está morta mas dorme (cf. Mt 9, 24).
Jesus cura a mulher com hemorragia (Mt 9,20-22). A mulher não pede só para ser curada, mas para ser “salva”. Isto porque a mulher que tinha hemorragia naquela época era tida como impura e condenada à perdição eterna…
CONCLUSÃO
- Ao lado do anúncio a cura é sinal de que a salvação do Reino abrange o homem integralmente
- Jesus age movido de compaixão, este sentimento materno que nos faz colocar no lugar do que sofre. Jesus se envolve com o sofrimento do outro.
- Jesus prova ser o Messias por seus milagres, mas por sua compaixão para com os doentes ele prova o tipo de messias que ele é. Ele é um messias compassivo que ama os pobres e sofredores.
- Jesus jamais se mostra indiferente ao sofrimento (Mt 17,14 – o pai do epilético). Ele sempre para atender quem sofre (Mt 20,29 – os dois cegos).
- Em Mt 25, 31-46, quando do juízo final, Jesus não diz que é preciso curar o doente para que você seja salvo, ele diz que precisa visitar (ir até ele) e servir (ajudar de todas as maneiras possíveis).
- Jesus nunca evitou os sofredores, não curou a todos mas sempre acolheu a todos, Jesus lembra que o doente tem necessidade não só de cura física – saúde, mas de perdão e carinho também.
- O anúncio do reino de Deus, que é a missão da Igreja, deve ser sempre acompanhado da cura e do acolhimento compassivo dos doentes.#
