Diocese de Santo André

50 anos do Concílio Vaticano II

Catedral Nossa Senhora do Carmo – Santo André em – 14. 11. 2015

Homilia da Celebração de Ação de Graças pelos Cinquenta anos de Conclusão do Concílio Vaticano II

“Todo homem que se tornou discípulo do Reino de Deus,

tira do seu tesouro coisas novas e velhas(Mt 13, 52)

Celebramos este ano o cinquentenário da conclusão do Concílio Vaticano II, quando seus documentos foram assinados e promulgados. O concílio Vaticano II, vigésimo terceiro da história da Igreja Católica, foi solenemente inaugurado na manhã de 11 de outubro de 1962 e concluído em 08 de dezembro de 1965, depois de três anos de tempestuosa gestação. Irá completar, portanto, cinquenta anos e temos muito o que celebrar, pois o Vaticano II foi o concílio que atualizou a Igreja Católica a ponto de se poder dizer que: para a Igreja o novo milênio começou com ele.

O Concílio foi anunciado em 25/01/1959, convocado em 25/12/1961, inaugurado   em 11/10/1962. Durou quatro anos sendo celebrado em quatro sessões conciliares:   1962 (11/10 a 08/12) –1963 (19/09 a 04/12) – 1964 (15/09 a 21/11) –1965 (14/09 a 08/12)

Sob os olhares das câmaras de TV, mais de 2.500 bispos, desfilaram lentamente no majestoso cenário da basílica de São Pedro, acompanhados pelo som dos sinos das igrejas de Roma. Ninguém omitiu o fato de que em meio às brancas mitras dos bispos, e à púrpura dos cardeais, encontrava-se o grupo heterogêneo dos observadores das Igrejas dissidentes de Roma: ortodoxos, anglicanos, metodistas, luteranos. O desejo de união entre os cristãos, embora fosse ainda um ideal distante, conquistava os corações. O ecumenismo era um apelo renovado e contagiante.

O papa João XXIII, no discurso de abertura, não se limitou como se esperava a dizer frases convencionais de saudação. Esconjurou o pessimismo e, em nome da fé na redenção operada por Jesus Cristo, explicou com firmeza o que o concílio deveria fazer para a humanidade, traçando uma direção programática. O concílio não era um fim, era um meio. O fim era a adequação da Igreja ao mundo que a circundava. Adequação no sentido de dialogar para fazer-se compreender e poder transmitir o perene depósito da fé.

Com tranqüilidade o papa apontava os novos caminhos, para os quais a providência de Deus queria conduzir a Igreja. De acordo com os desejos do papa, os bispos se comprometeram a ser positivos, nada de condenações. As divergências políticas deveriam ser ignoradas, os esforços seriam concentrados no objetivo principal do concílio: tornar a Igreja sintonizada com o ritmo do seu tempo, para proclamar o Evangelho de forma compreensível. O concílio foi o momento crucial, o mais importante momento da Igreja no milênio que passou, pois foi o momento do encontro da Igreja consigo mesma e com a História.

O papa João XXIII colocou as bases para que o concílio prosseguisse. Em um organismo vivo, os conflitos são normais, as células novas vão tomando o espaço das células antigas, sem ruptura, mas numa linha de continuidade, formando o mesmo organismo. Porém, o legado do papa foi a confiança inabalável em Deus e no futuro da humanidade, amada por Deus. Quando lhe admoestavam para que não se ferisse a Tradição, ele respondia: “A Tradição? Mas vós sabeis que coisa é? É o progresso que foi conseguido ontem, como o progresso que devemos conseguir hoje constituirá a Tradição de amanhã”.

Com a direção sábia, prudente e dialogante do novo papa, Paulo VI, que substitui João XXIII, falecido após a primeira sessão do concílio, o concílio pode prosseguir até o final conseguindo um bom êxito e, deixando-nos a missão de colocar em prática seus ensinamentos e decisões. A grande mudança que o concílio iniciou foi à mudança na mentalidade. A fé é a mesma, nada mudou! Muda a maneira de vivê-la numa realidade que muda constantemente e exige da Igreja adaptação, renovação (cf. in LG 22; DH 21). A Igreja é sempre necessitada de se adaptar, converter, para que brilhe nela o rosto de seu Senhor, Jesus Cristo. O Vaticano II traçou uma meta, no sentido de imprimir uma face mais humana à Igreja que está peregrinando no mundo.

Hoje ao comemorarmos cinquenta anos deste evento histórico, que parece tão distante, podemos perceber sua influência. O concílio tirou o medo da Igreja que estava entrincheirada, lutando com as armas da apologética defensiva, desconfiada de toda novidade. Ela se torna missionária. O Vaticano II muda a postura da Igreja, ele propõe como o apóstolo Paulo: “examinai tudo (diálogo), ficai com o que for bom”(1Ts 5,21). Descobre-se a bondade original, ao invés de somente concentrar-se na condenação do pecado original…

O Papa João Paulo II que foi um dos bispos que fizeram o concílio, escreve em sua carta apostólica programática para o terceiro milênio (Novo millennio ineunte n.57): “Quanta riqueza, amados irmãos e irmãs, estão presentes nas diretrizes que o Concílio Vaticano II nos deu!… sinto ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que se beneficiou a Igreja do século XX, nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que se inicia”.

Se perguntarmos quais os conceitos chaves que o Concílio Vatricano II nos legou poderemos enumera as seguintes: 1) Aggiornamento (renovação), 2) Pastoral, 3) Diálogo, 4) História, 5) Pessoa Humana, 6) Povo de Deus/ Colegialidade e 7) Serviço/Liberdade.

Vemos portanto, que a riqueza do Concílio Vaticano II ainda está toda por ser conhecida e praticada. Estamos apenas começando. Talvez tenhamos assimilado menos da metade da substância do Concílio Vaticano II. É sempre necessário retomá-lo e estuda-lo. “O papa João queria um concílio de transição de épocas, um concílio que fizesse passar a Igreja da época pós-tridentina e, de certa forma, da plurissecular fase constantiniana para uma fase de testemunho e anúncio, recuperando os elementos fortes e permanentes da Tradição, estimados capazes de alimentar e garantir a fidelidade evangélica de transição tão árdua.” ( J. ALBERIGO, História do Concílio Vaticano II, V. I, Vozes, Petrópolis, 1996, p. 57).

            Ouçamos o parecer de alguns participantes do concílio: “O tema do Vaticano II era: unidade na pluralidade” (Card. F. Köning); “O Vaticano II foi um concílio da Igreja sobre a Igreja” (K. Rahner); “O Vaticano II redescobriu a história” ( Lonergan ); “O Vaticano II quis mostrar que o comunitário vem primeiro que a organização. A verdade e o carisma vem primeiro que o direito”

 

O Vaticano II acentua a novidade, as modificações, ressaltando os pontos de integração e até mesmo algumas rupturas na caminhada da Igreja. Valoriza o lado profético, a ação do Espírito e os sinais dos tempos. Provoca a dimensão criativa das pessoas. Corre o risco de subjetivismo, secularização das pessoas e funções sagradas. Porém foi esta interpretação que favoreceu os avanços pós-conciliares para se compreender a Igreja como Corpo de Cristo/Povo de Deus Peregrino.

            Mudança do sujeito eclesial. Foi a mudança do sujeito eclesial (dimensão de consciência, ação e auto identidade) a pedra de toque das mudanças do Vaticano II. Os padres conciliares se reuniram para falar ao sujeito social rural com uma visão pré-moderna (obediente, acrítico e pacífico) – alienação). Começou o concílio com o sujeito tradicional rural e terminou falando ao sujeito moderno (homem da cidade, crítico e perguntador: sabe quem é, o que quer e para onde vai – participação).

A Diocese de Santo André que fora criada em 1956, participou do concílio através da presença ativa de seu primeiro bispo, Dom Jorge Marcos de Oliveira, já engajado nas questões sociais advindas da transformação em curso no Grande ABC. Uma região que recebia incessantemente, migrantes e imigrantes que vinham de todo lado para participar do processo de industrialização na Região. Dom Jorge assimilou muito bem o Concílio e procurou implantá-lo na nossa diocese que iniciava sua caminhada. A tal ponto isto é verdade que podemos dizer que a Diocese de Santo André é filha do Vaticano II e participa deste evento que comemoramos com grande júbilo.

Deus seja bendito pela graça que concedeu à sua Igreja no breve e tumultuado século XX. Que possamos levar avante a herança de tão grandioso evento eclesial. Amém.

 

+ Dom Pedro Carlos Cipollini

Bispo Diocesano de Santo André

 

 

 

 

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