Diocese de Santo André

Homilia da missa de São João da Cruz

E posse do Pároco da Paróquia São Camilo em Santo André

14 de dezembro de 2015

( Leituras do dia: Nm 24,2 – 7. 15 – 17; Mt 21, 23 – 27)

Saúdo a todos os presentes, sacerdotes, diáconos e leigos. Uma saudação especial ao Sr. Abade do Mosteiro de São Bento em São Paulo, Dom Matias. Nesta santa missa em que toma posse como pároco o Padre Flávio Alcântara, e na qual a liturgia da palavra nos apresenta o profeta João Batista que chama à conversão neste período de advento, gostaria de refletir com vocês sobreo profeta São João da Cruz que nos apresenta o mesmo apelo evangélico: convertei-vos!

Queridos irmãos e irmãs, hoje celebramos um santo que brilha com um brilho todo especial no céu iluminado da Igreja: S. João da Cruz, fundador junto com Santa Teresa de Jesus, da Ordem dos Carmelitas descalços.

Nasceu em 1542 em Fontiveros (Espanha) de família rica empobrecida. O pai morre e deixa a mãe viúva com três filhos para criar. Até os 21 anos S. João da Cruz vai fez um pouco de tudo para ganhar a vida honestamente: alfaiate, carpinteiro, entalhador e enfermeiro. Teve sorte de conseguir estudar com os jesuítas, devido à caridade de pessoas bondosas que admiravam seu esforço, e assim pode entrar para o seminário.

Tornou-se carmelita indo estudar na Universidade de Salamanca. Em 1567 ao celebrar sua primeira missa encontra-se com Santa Teresa de Jesus e com ela inicia a reforma da Ordem Carmelita. Trabalhou muito e foi um religioso exemplar em todos os sentidos. Morreu aos 49 anos nos primeiros momentos do dia 14 de dezembro de 1591. Foi canonizado em 1726.

É grande a constelação de estrelas no firmamento de Deus, que com sua santidade nos reproduzem o brilho do único Santo, Deus Criador, que se revelou em seu Filho Jesus. Jesus é a imagem do Deus vivo e nele nós podemos contemplar a santidade de Deus. Preparando-nos para celebrar o Natal é bom pensarmos que em Jesus se manifesta a bondade e santidade de Deus.

João da Cruz foi enamorado da Sabedoria eterna de Deus, o Verbo que se fez carne. Por amor a Jesus Cristo temos que deixar tudo, até mesmo a própria pele, nos diz ele. “Que lhe baste Cristo crucificado, com Ele sofra e descanse! Uma palavra disse o Pai que foi seu Filho Jesus e a diz no eterno silêncio e em silêncio ela deve ser ouvida” S. João da Cruz recorda-nos a primazia de Jesus Cristo. Ele nos recorda o que ensinava outro grande santo, São Bento; Que nada devemos antepor ao amor de Cristo. É amando verdadeiramente Jesus Cristo que encontraremos tudo o que procuramos.

Destaco aqui duas lições de S. João da Cruz :

  1. O mestre João da Cruz aponta a meta que é a união transformante em Deus.

Talvez em nenhuma época da história humana tenhamos tido tanto conforto, tanta abundância e bem-estar. A ciência progrediu muito e a tecnologia encanta o mundo. O consumismo toma conta de tudo e de todos. Estamos em uma época de narcisismo na qual o Eu toma todos os espaços. Mas o vazio no íntimo das pessoas também nunca foi tão grande. O desprezo por Deus e seus mandamentos são uma marca de nossa civilização. Desprezando-se Deus, despreza-se o homem. Por isso o famoso filósofo francês Jean Paul Sartre, que se declarava ateu, vai definir o homem como “uma paixão inútil”.

João da Cruz nos ensina o primado de Deus. Deus acima de tudo, pois, fomos criados para Ele. Deus é nossa pátria verdadeira. “Só Deus importa, só Ele está na pupila da alma, enquanto o resto como um borrão indistinto, desaparece do campo visual.”

O que nos santifica é renegar-nos com toda a energia. Deixar de buscar a nós mesmos, nosso “ego”, para buscar a Deus: este é o ensinamento da fé que S. João nos recorda. “Quem não renunciar a si mesmo e não tomar sua cruz para me seguir, não pode ser meu discípulo…” A fé nos manda cumprir a vontade de Deus e busca-lo antes de todo e qualquer prazer e criatura. Como Jesus é a porta para o Pai, devemos alimentar o desejo constante de imitar a Jesus Cristo e fazer tudo por amor a Ele.

A grande tentação hoje não é o ateísmo, negar a existência de Deus, mas o indiferenteismo: viver como se Deus não existisse. O mundo sem Deus não tem futuro. Se Deus não é amado como se deve em nossa vida, todos os outros nossos amores se desequilibram e acabam nos ferindo e ferindo os outros.

2.O mestre João da Cruz nos indica a ação de Deus em nós para nos purificar através da noite escura.

Os sofrimentos e contrariedades, fazem parte da vida e nos lembram que nossa pátria não é aqui, mas no céu onde não terá nem choro nem lágrimas. Deus é tão bom e nos ama tanto que nos introduz na noite escura, para nos purificar a fim de caminharmos para Ele com mais decisão. É a noite dos sentidos e a noite do espírito.

Para mergulhar em Deus, devemos estar totalmente despojados de nós mesmos. Isto implica num processo de conversão muito exigente, mas que transforma tudo em vida, em plenitude. É a morte para o egoísmo e o nascimento para Deus e o próximo. Cria-se em nós a necessidade vital de orar, descobrimos que não buscamos algo, mas Alguém.

A proposta é mudar de vida, mudar a partir de dentro. Fazer uma opção fundamental e radical pelo Evangelho. É necessário nascer do alto como disse Jesus a Nicodemos… Em meio à noite há uma luz que nos guia; a Palavra de Deus. Uma das características mais admiráveis de S. João da Cruz é que seus escritos são fundamentados na Bíblia. Todo o edifício de sua espiritualidade tem uma sólida fundamentação no AT e no NT. A fé na Palavra de Deus é a lâmpada para caminhar na Noite até que chegue a aurora.

Nossa transformação em Deus pelo cumprimento de sua vontade é a meta. Nossa conversão e purificação através da noite escura na qual só a Palavra de Deus pode nos guiar, é a metodologia.

Em uma realidade de tanto consumismo e de tanta insatisfação, S. João da Cruz nos traz uma mensagem de libertação. S. João da Cruz oferece às pessoas, nos seus escritos, o que mais elas desejam hoje; liberdade. Os seus ensinamentos místicos são um itinerário para a liberdade. Deus nos torna livres, livres de tudo e de todos, livres de nós mesmos. Livres para amar e servir.

A lição que S. João nos dá é que Deus ama-nos antes que nós o amemos. Nossa vocação é estarmos unidos a Ele de forma íntima e vital. Deus quer nos transformar em amor se nós o deixarmos, esta é a vocação do ser humano: onde não há amor coloque amor e encontrarás amor.

Que o novo pároco Pe. Flávio, a exemplo de São João da Cruz possa também ele conduzir o povo para fazer a opção fundamental de servir a Deus com amor e ao próximo por amor a Deus!

Somos convidados a termos uma confiança ilimitada em Deus. É ele o autor de nossa santificação. Que possamos venerar verdadeiramente os santos de Deus imitando-lhes os exemplos. Que assim Deus nos ajude. Amém

+Dom Pedro Carlos Cipollini – Bispo de Santo André

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