Introdução
Testemunhamos hoje nossa fé no mistério Eucarístico, sessenta dias após a Pascoa. Esta celebração de hoje está ligada à celebração pascal, pois, a Eucaristia é mistério pascal. Na Eucaristia celebramos a paixão morte e ressurreição de Cristo. O Santo Sacrifício Eucarístico celebra a vitória de Cristo, não no monte da multiplicação dos pães, mas no monte do Calvário, porque aquilo que significava a multiplicação dos pães, realizou-se no Calvário.
Na quinta-feira santa celebramos a instituição da Eucaristia, “mistério da fé”. Naquele dia porém, não podemos festejar e demonstrar nossa alegria por este dom maravilhoso. Assim, a festa de hoje completa aquele dia em que prestes a ser preso, torturado e morto, Jesus nos dá este dom maravilhoso: sua entrega total a nós na maior humildade, sob a figura do pão, corpo doado, e vinho, sangue derramado para a vida do mundo. Esta festa nasceu na Bélgica por inspiração de uma freira e começou a ser celebrada devocionalmente pelo povo, até ser reconhecida em 1264 pelo papa Urbano VI e estendia a toda a Igreja. No Brasil este dia sempre foi um dia santo e a partir de 1961 se tornou também feriado.
Unidade e comunhão em Cristo
Caminhamos em procissão levando o Santíssimo Sacramento, porque nossa vida é caminhada. Nossa vida de fé é um caminho de seguimento de Jesus Cristo, que escolhemos para ser nosso Senhor! Jesus vai conosco nesta caminhada, não estamos sozinhos. O caminho da santidade alimentada pela Eucaristia é caminho de seguimento de Jesus.
Na primeira leitura Melquisedec apresenta os dons pacíficos do pão e do vinho, em uma época na qual se usava oferendas de animais que eram sacrificados. Aqui ressaltamos o dom que representa a Eucaristia para nós. Jesus que morreu por nós na cruz se dá como alimento para toda nossa vida. Ele quer se unir a nós para que tenhamos a vida dele em nós, a vida eterna: “Quem come deste pão viverá eternamente”. É preciso portanto não somente receber este dom, Mas agradecê-lo condignamente. É o que estamos fazendo aqui.
A segunda leitura narra a instituição da Eucaristia. Jesus se entrega a nós para que sejamos unidos e vivamos em comunhão. Somos muitos, mas formamos um só corpo. O pão que partimos é a comunhão no corpo do Senhor. Ressalte-se aqui o valor da partilha capaz de nos unir na solidariedade dos filhos e filhas de Deus. A refeição que une é distintivo do cristão, mas também a partilha do pão, especialmente nesta época em que o desemprego bate á nossa porta.
No Evangelho contemplamos Jesus que multiplica os pães e sacia a multidão. Para Jesus ser messias quer dizer ser um dom para todos, dom capaz de unir a todos no mesmo amor-comunhão e sobretudo tornar-se servo de todos. O salvador é alimento, se torna pão para a vida do mundo. Aí está o serviço significado no pão que sacia. Onde não se parte o pão, Cristo não pode estar presente, mas onde não servimos os irmãos também.
É preciso comungar dignamente, vivendo em comunhão entre nós, colocando-nos a serviço uns dos outros. Aqui está o sentido deste mistério. Comungar indignamente é receber a santa comunhão sem viver em comunhão, receber este pão que dá a vida sem entregar a vida a serviço dos irmãos.
Conclusão
A festa litúrgica de Corpus Christi nos coloca mais uma vez diante do amor misericordioso de Deus manifestado em Jesus Cristo. Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho para salvá-lo. Jesus o Filho de Deus veio até nós e nos ensinou o caminho para o Pai. Desta maneira Jesus reconstrói a unidade rompida pelo pecado. Reconstrói a união do homem com Deus e dos homens entre si. Por isso a festa de Corpus Christi é também festa da unidade e da comunhão.
Jesus sendo verdade eterna não ficou somente no ensinamento, ele viveu o que nos ensinou: tendo nos amado amou até o fim e deu-nos sua vida. Celebrar a festa do Corpo de Cristo é celebrar um amor capaz de dar a vida. Por Jesus o perdão de Deus nos vem como graça e bondade, iniciando-se um novo tempo, uma nova criação. Quem se alimenta da Eucaristia é nova criatura.
A Eucaristia é a síntese do mistério da redenção operado por Jesus Cristo. Ela é o mistério da fé, resumo de toda a nossa fé. A fé da Igreja é uma fé “eucarística” e se alimenta à mesa da Eucaristia, afirma o papa Bento XVI (cf. Sacramentum caritatis n. 1). Os antigos cristãos designavam com a mesma palavra Corpus Christi, tanto o corpo nascido da Virgem Maria, o corpo eucarístico e o corpo eclesial. Cristo está intimamente unido à sua Igreja, esta união se expressa na comunhão eucarística que recebemos.
A consequência de tudo o que vai refletido acima é que todos nós batizados, ao adorar Cristo na Eucaristia e recebê-la, e ao comemorarmos solenemente esta festa de Corpus Christi, devemos renovar nosso compromisso de viver e trabalhar pela unidade da Igreja. Alimentados pelo corpo de Cristo construamos dia após dia a união entre nós. AMÉM!
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo Diocesano de Santo André
26.05.2016
SOLENIDADE DO SANTISSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO
Leituras: Gn 14,18-20 1Cor 11,23-26 e Lc 9, 11 – 17