Diocese de Santo André

Homilia – Missa Exequial Pe.Carlos

Pe. Carlos Alberto Peña Martins Falcão Serpa – 1.8.2016

A vida dos justos está nas mãos de Deus! (Sb 3,1).
Assim nos assegura a Palavra do Senhor aqui proclamada. Diante da morte, nós respondemos com a nossa fé nas promessas que nos são feitas no transcorrer de nossa vida: “quem crer em mim ainda que morra viverá, e quem vive e crê em mim jamais morrerá” (Jo 11, 25-26), este é o “evangelho”, a boa notícia que proclamamos a partir da nossa fé na ressurreição.

Ao nos reunirmos como comunidade paroquial, à qual se une o presbitério e demais fiéis de toda nossa diocese, nós queremos entregar ao Senhor a vida deste nosso irmão Padre Carlos. Rezando por ele e pedindo que o Senhor o acolha na eternidade. Ele procurou fazer a vontade de Deus em sua vida: que descanse em paz!

Quem sem desanimar, confiante no amor de Deus, vai buscando sempre a meta, pode tropeçar ou até cair, mas chegará certamente. O papa Francisco no encerramento da JMJ em Cracóvia, afirmou: “Deus ama-nos assim como somos e nenhum pecado, defeito ou erro lhe fará mudar de ideia. Para Jesus ninguém é insignificante, mas todos somos prediletos e importantes”.

Quando cheguei à diocese Pe. Carlos foi convidado por mim a almoçar ou tomar café lá em casa com outros padres. Ele não pode comparecer, mas certo dia me ligou e foi me ver, foi quando o fiquei conhecendo. Conversamos bastante e tomamos café. Depois vim celebrar num domingo aqui na paróquia e ele concelebrou comigo. Isto ainda o ano passado, depois disso não tive oportunidade de falar mais com ele. A última vez que o vi de longe, foi na quinta feira santa na catedral. Mas me preocupava, esperando um dia poder falar mais com ele .

A vida dos justos está nas mãos de Deus, e o justo cristão sabe que viverá para sempre, sua fé em Jesus lhe assegura esta realidade. E a fé é nosso tesouro, é a vitória que vence o mundo, é a chave que abre as portas do céu, pois quem crer será salvo. E esta comunidade que acolheu e sustentou o padre Carlos por quase duas décadas, atesta sua fé e sua perseverança no caminho que é Jesus. Caminho que é vida e verdade.

Nossa vida é uma curta oportunidade para dizer nosso sim ao amor de Deus. Nossa morte é um autêntico regresso a casa, para acolher esse amor. Será que desejamos voltar para casa? Parece que a maior parte de nossos esforços tem o objetivo de atrasar o mais possível esse regresso. E muitos vivem como se pudessem ficar para sempre nesta terra.

É preciso ter a liberdade interior de desprender-se desta vida terrena, não se apegar e confiar que, algo de novo e maravilhoso nos será dado na vida que virá após a morte. Assim, o cristão não morre, mas entra na vida verdadeira porque eterna. Para aprendermos a morrer belamente como os santos morreram, é preciso aprender a morrer todo dia, morrer agora. Afirmava um pai espiritual Padre Henri Nouwen: “A morte no fim da sua vida não será tão terrível, se você morrer agora. Sim, a verdadeira morte, – a passagem do tempo para a eternidade, da beleza transitória deste mundo para a beleza permanente do mundo vindouro, da escuridão para a luz – pode e deve ir ocorrendo agora (na verdade a cada dia morremos um pouco e nos aproximamos mais da vida eterna)” (in Meditações , Ed. Damprewan, Rio, 2003, p. 60). Não temos de fazer este processo sozinhos, a comunidade de fé nos ajudará e nos acompanhara com seu amor, reflexo do amor de Deus por nós.

Nós ouvimos no início da missa a leitura da biografia do Padre Carlos. Constatamos como a morte esteve sempre a sua espreita, em especial no drama por ele vivido na guerra de libertação de seu país, na sua doença e morte de sua mãe. E por fim ela o encontrou praticando seu dever, vivendo a caridade, ao ir visitar um doente após um dia cansativo de trabalho na paróquia.

Estamos realmente tristes, sinceramente tristes, embora a tristeza não é digna de nossa estatura espiritual. Assim, o fato de ele ter falecido no domingo, dia do Senhor ressuscitado é uma pista que Jesus deixou, para termos a certeza que foi Ele que o veio buscar, para lhe dizer: “Muito bem servo bom e fiel. Foste fiel no pouco, eu te constituirei sobre muito. Vem participar da alegria de teu Senhor”(Mt. 25, 23).

No coração da vida está presente a morte de múltiplas maneiras. A enfermidade, os fracassos e o sofrimento são anúncios da morte e são sinais de que nossa vida em última instância não está em nossas mãos. A vida nos escapa a cada instante e na hora da morte, nos escapa totalmente. Neste sentido nossa vida limitada e finita. Porém a realidade da morte nos faz algo mais que colocar diante dos olhos a vaidade de nossa vida. Ela nos faz descobrir a riqueza de seu significado e nos motiva a viver a vida mais intensamente. Porque nossa vida é limitada, devemos valorizar mais nosso tempo, sabendo emprega-lo bem. Assim a morte faz de nossa vida um desafio e uma tomada de decisão constante.

Padre Carlos decidiu aproveitar bem o tempo entregando sua vida no ministério sacerdotal, dizendo seu sim! E nós somos gratos por isso, a nossa Igreja de Santo André lhe agradece muito pelos anos de dedicação a nosso povo. No seu pedido para ser ordenado presbítero datado de 11 de agosto de 1997, ele escreveu: “…estando exercendo o ministério diaconal atualmente na Paróquia Cristo Operário, aqui me encontro redigindo este pedido e colocando-me igualmente à disponibilidade das exigências do Reino de Deus, por uma real disposição de seguir Nosso Senhor Jesus Cristo de maneira profunda e coerente no sacramento da ordem no grau de presbítero…Tive a ocasião de terminar o curso de teologia, ao mesmo tempo em que absorvia os valores diocesanos de amor e dedicação ao povo da Igreja local e a necessidade de experienciar e partilhar de um Presbitério fraterno e construtor do Reino de Deus

Ele escolheu servir Jesus servindo aos irmãos e assim foi ungido para o ministério presbiteral no qual ele perseverou até o fim. E nós louvamos a Deus por isso: “tu és sacerdote para sempre”! O sacramento da Ordem imprime caráter (cf. Denzinger n. 1774), ou seja, marca a alma por toda eternidade, configurando o padre a Cristo de forma especial: eis aí a especial dignidade do cristão batizado que se torna sacerdote!

Agradecemos a todos, clero e fiéis, que se fizeram presentes aqui para celebrar esta santa missa e rezar por nosso sacerdote falecido Padre Carlos. Termino com um pensamento deixado pelo pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, que aguardava a morte no Campo de Concentração na segunda guerra mundial:

“Dentro de mim está escuro, mas em Ti há luz; Eu estou só, mas Tu não me abandonas; Estou desanimado, mas em Ti há auxílio; Estou inquieto, mas em Ti há paz; Em mim há amargura, mas em Ti há paciência; Não entendo teus caminhos, mas Tu conheces o caminho certo para mim (…) Liberdade, procuramos muito na disciplina, na ação e no sofrimento; Morrendo reconhecemos, no semblante de Deus, a ti mesma, ó liberdade!”(cf. in Resistência e submissão, S. Leopoldo, Sinodal, 2003, p. 191 e 521).

AMÉM!

+ Dom Pedro Carlos Cipollini

Bispo Diocesano de Santo André

 

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