Conselho Permanente irá definir nova forma de trabalho para o grupo a partir de proposta definida em reunião
A continuidade das atividades do Grupo de Trabalho (GT) sobre o Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi tema de reunião realizada na sede da entidade, em Brasília (DF), na quinta-feira, dia 6 de outubro. Criado a partir da junção do Grupo de Enfrentamento ao Trabalho Escravo e o de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, o GT tem por objetivo promover a conscientização, a denúncia e a incidência política diante de crimes que violem a dignidade humana.
O bispo de Balsas (MA) e coordenador do GT de Enfrentamento ao Tráfico Humano, dom Enemésio Angelo Lazzaris, explica que, após cinco anos de trabalho, com diversas conquistas, sentiu-se a necessidade de “dar um passo a mais”, fazendo com que o trabalho tenha mais expressão, visibilidade e força. “Então, pensou-se, em vez de um Grupo de Trabalho, uma possiblidade de ser um fórum permanente, uma equipe, uma subcomissão ou uma comissão da CNBB”, sugeriu.
Em junho deste ano, o Conselho Pemanente da CNBB aprovou a continuidade dos trabalhos do grupo. Na ocasião, dois membros do GT, Francisco Alan dos Santos Lima e Rogenir Almeida Santos Costa, apresentaram aos bispos uma memória histórica do grupo, suas realizações, desafios e resultados. Entre os elementos que marcaram a atuação da equipe está a intensificação dos esforços das pastorais e entidades em torno da Campanha da Fraternidade 2014, cujo tema foi “Fraternidade e Tráfico Humano”; a articulação de uma visão comum sobre o Tráfico Humano, possibilitando uma articulação e confluência de pastorais e organismos da Igreja; a incidência nas políticas públicas; a consolidação do trabalho em rede, que tem como foco o enfrentamento; fortalecimento da rede de acolhida das pessoas vulneráveis ao tráfico, sobretudo os migrantes; e articulação com o poder público.
O bispo de Pesqueira (PE) e referencial do Setor Mobilidade Humana da CNBB, dom José Luiz Ferreira Sales, comentou sobre o momento de reorganização das atividades, após a confluência de pastorais e grupos para refletir e trabalhar a temática inicialmente em vista da CF 2014. O bispo destaca a continuidade das atividades realizadas pelo grupo em favor das pessoas em situação de fragilidade. “Uma das missões da Igreja é justamente cuidar, pastorear, então eu vejo como um momento privilegiado, de preparação, de reorganização desse grupo de trabalho. É importante que a gente possa continuar unidos e cuidando da vida”, destacou.
O Conselho Permanente da CNBB irá analisar a proposta de trabalho definida pelo grupo na reunião de ontem.
Desafios e continuidade
Membro do Setor Mobilidade Humana da CNBB e diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), irmã Rosita Milesi afirma que se deve reconhecer a atuação do grupo e seu contributo para a reflexão, o aprofundamento e o efetivo enfrentamento “desta lamentável situação que a humanidade vive”. Os desafios, segundo a religiosa scalabriniana, continuam “mais vivos do que antes”. Há uma realidade de invisibilidade relacionada aos casos de tráficos de pessoas em suas várias formas, como trabalho escravo, exploração sexual e de crianças. Além disso, aponta irmã Rosita, mesmo com os dados estatísticos divulgados pelos órgãos governamentais e internacionais em relação às vítimas, “há muita dificuldade de perceber tal realidade na vida e no dia a dia das pessoas”.
O trabalho, a partir de agora, é de crescimento na prevenção ao tráfico humano, de acordo com irmã Rostia. Tanto o Grupo de Trabalho em sua nova estrutura, quanto os agentes de Pastoral devem agir, aprofundar, refletir e discutir a temática nos vários ambientes da sociedade a fim de todos possam “conhecer esse mal que tanto degrada a humanidade, que tanto ofende as pessoas, que as reduz a coisas a objetos que podem ser vendidos, explorados a qualquer preço”. “Temos que aprofundar essa realidade, prevenir o quanto possível e avançar na questão das denúncias nesses casos”, sustenta.
“A missão continua mais do que nunca avivada e alimentada justamente pelo caminho que se fez, pelo conhecimento que se tem, ainda muito limitado, mas para avançar e podermos enfrentar com mais conhecimento, ações, envolvimento e participação da sociedade neste enfrentamento ao tráfico humano em seu sentido amplo”, afirmou irmã Rosita.
Fundamentos da Fé
A reunião do GT do Tráfico Humano também foi dedicada à reflexão e aprofundamento. O coordenador do Programa de Estudos Pós-Graduados em Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professor doutor Matthias Grenzer, conduziu uma reflexão sobre os desafios para a missão da sociedade e da Igreja relacionados ao tráfico humano, que hoje afeta 27 a 30 milhões de pessoas no mundo, de acordo com o acadêmico.
Partindo dos fundamentos da fé, Grenzer ressaltou o que a palavra de Deus ensina a respeito da questão, resgatando ensinamentos desde o Pentateuco. “Lendo atentamente as tradições bíblicas, descobrimos que a religião, já do antigo Israel, tudo aquilo que lemos no Antigo Testamento, se propõe a combater a escravização ou a escravatura. Então, existem lá mandamentos de Deus, as tradições proféticas, mas a religião do antigo Israel sempre se propôs a defender a liberdade de todas as pessoas, acolhendo o mistério de uma profunda igualdade de todas as pessoas”, explicou.
O professor sustenta a assimilação da liberdade de todas essas pessoas como uma questão religiosa, “uma dimensão social que nasce diretamente da nossa fé em Deus, da nossa fé em Jesus Cristo”. Matthias explicou que o grupo estudou alguns trechos da bíblia para orientar as ações que chamem atenção de todos e para a produção materiais a fim que “todo cristão perceba que por causa da sua fé há de se tornar um defensor da liberdade de todos e precisa combater ativamente o tráfico humano”.
Fonte: CNBB