Diocese de Santo André

Homilia na Missa pelo Poder Público – pelo início das novas administrações municipais

8/2 – 20h – Catedral Nossa Senhora do Carmo – Santo André

           Prezados Padres, Religiosas, Prefeitos, Vereadores, Juízes, Delegados, Oficiais Militares, Secretários e demais autoridades, Povo de Deus. Nesta noite nos reunimos pela graça de Deus. É sempre ela a promotora da unidade, a força que nos move a realizar o que é bom. E sim, o gesto de hoje sinaliza o bem. Sinaliza o bem da unidade, unidade do povo, dos governantes, das expressões da sociedade.

           Estamos unidos para rezar, pela missão que assumiram em favor de nossos municípios e região; porque é justamente unidos que atravessamos os maiores desafios de nossa vida. Meus parabéns pelo desafio que vocês tiveram coragem de vitoriosamente assumir. Não foram vocês quem tomaram posse no dia 1º de janeiro, foi o povo quem tomou posse de vocês. Assim, a política é uma das mais altas formas de caridade.

           Reunidos hoje ouvimos a Palavra de Deus. Através dela descobrimos o primeiro gesto de um bom governante: ele pede a Deus sabedoria para bem governar. Hoje todos pedimos a Ele a sabedoria para também nós termos bom senso nos juízos e decisões que nos são solicitados, a fim de que busquemos sempre o bem comum e o amor ao povo.

           Sabemos que Salomão não foi perfeito, errou por vezes, mas buscou, entre erros e acertos, fazer o bem ao seu povo (1Rs 3,11-14). E este é o segundo gesto: ter humildade de saber que nem sempre acertaremos. Quem governa está sujeito ao erro e, errando, pode escolher continuar no erro ou recuar. A humildade consiste em saber ouvir as pessoas, os colaboradores, os munícipes, os especialistas, e refletir. A sabedoria por sua vez é, tendo ouvido, perceber quando e onde avançar ou recuar. Nisto tudo o diálogo é importante.

           O Papa Francisco diz que: “todo homem e mulher que assume um cargo de governo, deve fazer duas perguntas: ‘Eu amo o meu povo para servi-lo melhor? Sou humilde e dou ouvidos a todos, ouço várias opiniões para escolher o melhor caminho?’. Se estas perguntas não são feitas, não será um bom governo. O governante homem ou mulher que ama seu povo é uma pessoa humilde.”

           Na maior parte do tempo quem governa está acompanhado de membros do povo, de sua equipe, de sua família, mas um bom governante sabe que se suas convicções éticas e morais, sua consciência, lhe indicarem a tomar uma decisão impopular, poderá ficar quase só. E isso é dolorido, mas quem serve verdadeiramente ao povo, e não a si mesmo, não deve temer algumas decisões impopulares em vista da justiça e do bem comum. Deus sempre está ao lado de quem age correta e justamente.

           Através da confiança do povo na eleição, Deus vos chama a participar de sua missão divina ao serem custódios, protetores. Deus vos fez custódios de seu povo e de sua obra da criação; isto para garantir a vida plena. Isto se dará na preocupação primária com os menos favorecidos, sobretudo os 10% de nosso ABC que estão em situação de extrema pobreza: são 280 mil. “É feliz quem distribui aos indigentes com largueza!”, nos diz o salmo (Sl 111). Zelando pelo pão, pela saúde, moradia, educação, trabalho, entre outros.

           Muitas instituições colaboram nesta missão; a própria Igreja no Grande ABC, a partir de sua fé, tem muitas escolas acadêmicas e profissionalizantes, creches, asilos, casas para pessoas em situação de rua, tudo para ajudar neste cuidado com o povo. Respeito e ajuda mútua entre os organismos só favorece o bom governo.

           Da missão fundamental de cuidar do outro, deriva a preocupação em garantir a execução dos direitos e solicitar também os deveres. A consciência dos direitos e a consciência dos deveres caminham juntas. Conversando no domingo com um dos prefeitos, perguntei-lhe qual era a parte mais difícil do trabalho. Ele me disse: a falta de colaboração das pessoas. Isto é triste. Não é só dos governantes a missão de garantir uma boa cidade; é de todos nós. Todos podemos ajudar.

           Ao povo católico aqui presente, cabe a reflexão que o Papa propõe: eu também “sou responsável pelo governo e devo dar o melhor de mim para que eles governem bem, devo participar da política dentro das minhas possibilidades. Eu não posso lavar minhas mãos. Todos devemos fazer a nossa parte!”

           Existe o hábito de somente falar mal dos governantes e criticar o que está errado. Assiste-se ao noticiário na televisão, lê-se o jornal, e as críticas são contínuas. Fala-se sempre mal e contra. Mas qual a melhor coisa que podemos oferecer aos governantes? A oração! É aquilo que São Paulo diz: ‘Oremos por todos os homens, pelo rei e por todos os que estão no poder’. ‘Mas, Padre, diz alguém, aquela é uma má pessoa, tem que ser castigado…’. Rezemos por eles, para que possam governar bem, para que amem o seu povo, para que sirvam à população, para que sejamos todos humildes!”

           Ao mesmo tempo, o servir de um governante comporta a grande responsabilidade ante os problemas quotidianos que se apresentam, previstos ou imprevistos. Para resolvê-los, quem governa, seja um responsável pela fé ou pela vida social, tem de ser verdadeiro e não usar dois pesos e duas medidas. Uma ética pública para os amigos e outra para a população em geral. Isto não é fácil. Porém, Deus está sempre ao lado da verdade e dos verdadeiros. Não desanimem, o Deus que vos chamou a este labor é fiel, está ao vosso lado.

           Nosso Senhor Jesus Cristo diz: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam”, apontando o erro existente no abuso do poder de governo, e completa: “Entre vós, não deve ser assim. Pelo contrário, o maior entre vós seja como o mais novo, e o que manda, como quem está servindo” (Lc 22,24-30). O voto de confiança de um povo que já sofre tanto não pode ser desprezado; façam valer a pena cada dia deste mandato como verdadeiros servidores. Durmam a cada dia com a consciência tranquila de estarmos fazendo o melhor para os outros e não para nós e para aqueles que nos cobram cargos e benesses indevidas.

           Não existe instituição perfeita; os membros são falhos, a Diocese de Santo André pode errar, outras religiões podem errar, ONGs podem errar… Vosso governo poderá errar tentando fazer o bem. Mas que o erro, nem da Igreja, nem do governo, nem de nenhuma instituição seja o erro da corrupção, tanto moral como financeira. Este é um mal a ser extirpado.

           De nossa parte, como Igreja Católica buscaremos não solicitar o que não é próprio, mas o que é próprio na colaboração mútua, na humildade e na profecia o solicitaremos. Pediremos a Deus que nos conserve em um país onde haja liberdade religiosa e respeito a todas religiões. Liberdade e respeito que devem ser garantidos por quem governa em um estado laico e não laicista. Concederemos também o que melhor nos cabe em nosso servir, orar sem cessar por vós, porque sem Deus, não há bom governo.

           Permitam-me uma última palavra sobre a unidade regional: andei todas as cidades, visitei praticamente 400 comunidades. Nelas, casas, espaços públicos, empresas, entre outras coisas, percebi junto dos que me acompanharam nas visitas que a unidade do Grande ABC é uma via para a execução do bem comum; não há problema que seja o de apenas um município. Deste modo, todos os organismos que trabalham com integração, pensamos, como Igreja cidadã, que podem e devem ser valorizados. Se precisam ser revistos, em seus papéis e execuções, é outra coisa, mas quem caminha sozinho neste Grande ABC, já está passos atrás. Deus nos guarde na missão de servirmos e amarmos nosso povo, com sabedoria e humildade, pela fé e pelo bom governo.

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