A humanidade é chamada à conversão em diversas perspectivas, pois as mudanças no caminho existencial são fundamentais para a consolidação da história humana. Nem sempre os caminhos escolhidos são bons e justos, nesse sentido existem duas possibilidades: ou o bom caminho não foi atrativo o suficiente ou ele não foi apresentado. Mas o que seria esse caminho?
A fé cristã vai assinalar o próprio Jesus Cristo como caminho, pois assim ele se declarou (cf. Jo 14, 6). Sendo o próprio Senhor a estrada que nos leva ao Pai, é preciso junto a Ele caminharmos. O tempo da quaresma é o momento, por excelência, para esse processo de converter-se ao caminho da vida.
Toda aquela e todo aquele que se coloca ao lado de Jesus Cristo, o Senhor dos passos, e ruma com ele pela história faz a experiência relatada pelo profeta Joel:
Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo (Joel 2, 12-13).
Deus chama a humanidade para se voltar a ele com todas as limitações e mazelas que carrega, mas de maneira autêntica, por isso é preciso rasgar o coração e não as vestes, pois as vestes são apenas aparências e o coração representa a essência, o profundo do ser.
Uma das maiores mazelas da humanidade é a incapacidade, por vezes, fruto da ganância exploratória, de “cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). Por isso, a Igreja no Brasil convida os fiéis a rezarem durante a quaresma a partir do tema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. Como profetas caminhantes no deserto da conversão deve-se ver a realidade dos biomas do Brasil e seus processos de degradação e destruição; julgar a partir da Palavra de Deus, do Magistério da Igreja e das ciências a importância de se preservar, cuidar e restaurar a bela criação divina; agir buscando no dia a dia ser testemunha e promotor de uma ecologia integral, como propõe o Santo Padre Francisco na encíclica Laudato Si´; por fim, celebrar dando sentido e mística ao ver, julgar e agir.
Com confiança na misericórdia de Deus, o caminho quaresmal renderá frutos pascais, de vida e vida em abundância, mas para isso é bom cantar com o salmista:
“Criai em mim um coração que seja puro,
dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face,
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!” (Sl 50 (51) 12-13)
Escrito por Jerry Adriano Villanova Chacon, filósofo e educador, membro da Pascom da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Santo André.