Dia 27 de agosto último faleceu Dom José Maria Pires, Bispo Emérito da Paraíba. Era o bispo mais velho do Brasil: 98 anos bem vividos. Sendo negro muito trabalhou pelos direitos dos pobres e negros, isso até poucos dias antes de sua morte. Faleceu no mesmo dia de Dom Hélder e de Dom Luciano (em anos distintos), três pessoas admiráveis pela profecia e pelo senso de humanidade, os três faleceram idosos.
Seu falecimento fez-me fez recordar o pedido de um diretor de asilo aqui no Grande ABC durante uma visita: “É preciso falar mais na Igreja sobre o cuidado com os idosos”. Ele me explicava que: muitos idosos vão para os asilos levados por parentes que deixam endereço falso. Quando é preciso entrar em contato com eles não encontram ninguém. São literalmente abandonados, triste realidade de um Brasil que envelhece a cada dia.
Alguns idosos são pessimistas, dizem que a velhice é triste; não tanto por cessarem as alegrias, mas por cessarem as esperanças. Outros são otimistas, afirmando que o fruto é mais saboroso quando está maduro. Verdadeiras ambas assertivas. Levam-nos a concluir sobre a necessidade de cuidar dos idosos, e também, sobre a conveniência de saber envelhecer.
Saber envelhecer é obra prima da sabedoria, uma das artes mais difíceis de aprender. Os idosos têm muito a contribuir, pois quando perdemos os idosos sábios, a sociedade acaba perdendo a noção da justa medida.
A Palavra de Deus mostra-nos Moisés que valoriza o idoso ao aceitar o conselho de seu sogro (cf. Ex 18,24). Nos idosos existe um saber que o povo precisa para viver bem. “Hoje ao contrário, considera-se a juventude como único ideal: deveríamos ser sempre jovens” (Anselm Grün). A valorização da pessoa idosa faz com que olhemos de forma positiva nosso próprio envelhecimento, dado que toda pessoa fica mais velha a cada dia.
Constatamos que os idosos que não tem espiritualidade sofrem mais. O corpo vai enfraquecendo, a saúde fica mais frágil. Assim a grande tentação para os idosos é ficar lamentando-se e girando em torno do passado. Amargos e invejosos dos jovens, às vezes querendo imitá-los. O sentido da velhice, porém, está na aceitação das forças espirituais. Em olhar para dentro de si, viver a luminosidade da fé em Deus. Na alma está a força da pessoa idosa. São Paulo escreve: “Por isso não desanimamos, pelo contrário, mesmo que nosso homem exterior seja destruído, o interior é renovado a cada dia” (1Cor 4,16).
Infelizmente nos é apresentada hoje somente a carga financeira e psicológica devido ao aumento dos idosos, mas não o sentido que a velhice traz em si. A Bíblia dá grande valor à velhice e sua sabedoria. Eles têm mais proximidade com o sagrado, percebem melhor o mistério que envolve a existência e podem nos indicar o que nos ajuda e cura.
O idoso não pode mudar o que passou, mas pode mudar sua atitude sobre o que passou. Reaprendendo cada dia o que significa começar. E não nos esqueçamos! A pessoa idosa precisa de afeto tanto quanto de sol.
Artigo escrito por Dom Pedro Calos Cipollini para o jornal Diário do Grande Abc