Padre Jean Dickson Saint Claíre, CS
Congregação dos Padres Carlistas, ou Padres Scalabrinianos
Nasci no Haiti, em Porto Principe, no dia 31 de maio de 1977. Entrei no seminário em 27 de novembro de 2005 e me ordenei sacerdote em 23 de março de 2014.
Como padre tenho exercido minha ação missionária só no Brasil, mas no período de seminarista percorri muitos países da Europa. Estive em Roma, na Itália, na Alemanha, em Luxemburgo, Portugal e Espanha. Cheguei ao Brasil em 2016. Sirvo como Vigário Paroquial da Paróquia Santo André.
Cada pessoa vivencia o seu chamado vocacional de forma própria. Cada um tem sua forma de abraçar a sua missão. Entendo que minha família teve uma importância muito grande. O papel de minha mãe foi fundamental nesta escolha.
Na cidade onde nasci tem um centro missionário dos Padres Carlistas muito forte. Cresci vendo a ação destes sacerdotes missionários. Sempre estudei em escolas seculares, mas lembro que em minha juventude, ia até a sede deles para jogar futebol, e fui me aproximando cada vez mais, aprendendo os seus carismas, admirando aquela forma de agir, até que decidi aceitar de vez a voz daquele chamado que vinha de Deus.
Esta vocação foi sendo amadurecida ao longo dos estudos, e cada vez sentia em meu coração que era isso que queria para minha vida. Ser padre me faz feliz.
O carisma da nossa congregação é a ação missionária. Ela nasceu para servir os imigrantes que saiam de seus países procurando uma vida melhor em locais distantes. Nosso trabalho é ajudar as pessoas neste momento de mudança radical em suas vidas.
São pessoas que deixam seus lares, seus familiares, sua vida, seu chão e partem para encontrar um novo jeito de viver suas vidas. Nossa ação está presente nos cinco continentes. Aqui no Brasil, iniciamos nas décadas passadas no atendimento aos italianos, espanhóis, portugueses. Hoje a preocupação é com os haitianos e os venezuelanos. Sem contar a ação dos próprios brasileiros que deixam seus estados de origem para viver nos grandes centros urbanos, como o estado de São Paulo. Sabemos que para quem não encontra esta vida melhor em seu novo local, tudo fica pior.
As pessoas que chegam ao Brasil não encontram dificuldades para viver. Claro que existe a questão da língua, mas isto a gente contorna com estudo, treinando. Mas de resto é tudo mais fácil. O Brasil tem um pouco de cada país, e acabamos encontrando algo que nos faz recordar de nosso país de origem.
A vida do missionário encontra respaldo na Bíblia. Em Mateus 28, 19-20 podemos ler: Ide para o mundo inteiro. É isto que fazemos. Nosso trabalho é tornar o mundo mais humano, mais justo. Estamos vivendo o evangelho, amando o próximo. Sem dúvida que vale a pena. A missão é de Jesus e nós somos os instrumentos para tornar a vida de nossos irmãos mais leve e feliz.
Juliana Cavalcanti dos Santos
Consagrada da Comunidade Vida Católica Shalom
Nasci em Fortaleza, no Ceará e costumo dizer que o chamado de Deus é irresistível. Desde muito cedo senti um forte desejo de anunciar para outros povos. Cada dia acordo com o pensamento de que: existe uma pessoa em algum lugar, que só será evangelizado pela minha oferta, pelo meu testemunho, e que sua espera depende deste meu sim.
Quando cheguei em São Paulo senti que neste estado o ritmo é bastante acelerado, mas fui me acostumando. Sempre coloquei minha missão na frente de todos os obstáculos. O importante é fazer a experiência de Deus em nossa vida. Fazer aquilo que Deus nos pede. A felicidade se encontra justamente em executar esta ação missionária.
Costumo dizer também que damos de graça, aquilo que também recebemos de graça de Deus, o que um dia recebemos, entregamos ao próximo, para que sua vida se transforme para a glória de Deus.
Um fato que me marcou muito nesta minha caminhada é a história que aconteceu lá mesmo em minha Fortaleza, no Ceará. Nós sempre saíamos para evangelizar em todos os locais. A noite íamos até os locais das baladas dos jovens. E numa destas ações vi um jovem e senti vontade de me aproximar para conversar com ele. O tempo foi passando, ficamos muitas horas. Eu sentia que naquela noite estava emprestando meus ouvidos para Deus ouvir aquele rapaz. Ele contou que tinha pensando em se jogar da ponte que se estendia para dentro do mar, por não sentir que a vida valia e que não era amado pela família. Mas ao final revelou que tinha sentido que Deus o amava e agia na vida dele. Falou de suas amarguras, de seus pecados e ao final era outra pessoa, um fiel que se encantava em seguir Deus dali para frente. Naquela noite fui um sinal de Deus em sua vida. Entendo que esta é a razão de nossa missão como missionários.
Uma frase que me acompanha desde o dia em que me despedi de meus familiares, no Aeroporto em Fortaleza, foi, “Vale a Pena”. E a repito diariamente, por que sim, vale a pena. Vale a pena deixar tudo, sem medo de perder o que amamos, porque Deus nos dá cem vez mais. Hoje eu tenho cem mães, cem pais, cem irmãos. Só experimentamos este estar próximo de Deus, se aceitamos dizer adeus para um monte de coisas e irmos trilhar o caminho missionário. Gente: Vale a Pena, deixar tudo, pois só na missão encontramos o verdadeiro tudo, que é o próprio Deus.
Irmã Dora Suaza
Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu
Nasci em Medelin n Colômbia e fiz meus votos no Santuário de Aparecida, em São Paulo. Foi no dia 18 de janeiro de 2015. Tinha chegado ao Brasil em 16 de setembro de 2012.
Costumo dizer que o meu ganho, a minha alegria vem do que recebo por servir à Deus. Me sinto muito feliz fazendo isso. Em nossa congregação temos muitos afazeres para Deus. Temos as atividades na escola, mas é a ação missionária que nos completa. Isto acontece quando fazemos as visitas, vamos às casas, aos hospitais, aos asilos, quando servimos como missionárias.
É muito forte o sentimento quando vemos a alegria no semblante do outro, naquele que nos ouve. São eles que nos move nesta missão. Não é levar dinheiro, o bem que levamos é a Palavra de Deus em compartilhar o dom de escutar o outro. Nada é melhor do que ver a felicidade deles em ouvir as coisas de Deus.
Tudo isso acontece, dando a conhecer a todos como é importante acolher o migrante, o refugiado, o trabalho para que sejam inseridos em uma nova sociedade. Digo que sempre quis seguir o exemplo de Jesus e Maria, indo ao mundo, levando a Palavra do Senhor.
Quando aqui cheguei foi um pouco difícil, já que a educação e a cultura são diferentes, porém o brasileiro é muito acolhedor. O que sempre esteve na frente é o serviço de levar ao mundo o evangelho, como Cristo Peregrino. Sim. Claro que é um pouco difícil, quando sentimos saudade de nosso país, de nossa família, mas a missão nos conforta. Por isso digo a todos: Não tenham medo, experimentem e você verá que não se arrependerá.
Eu sempre digo que minha oferta de vida vale a pena. Lembro de uma procissão que participávamos e vimos uma mãe com seu filho no colo. De repente aquele menino vai até a Virgem e lhe dá um beijo, demonstrando uma forte devoção. Ele uma pequena criança, nos ensinando a amar a Mãe de Deus. Esta experiência me marcou muito, por que depois aquela mãe nos contou que seu filho tinha passado por uma cirurgia no cérebro e nos procurou para rezar pela vida dele.
Eu diria para que não sintam medo. Claro que vamos sentir saudade da família, mas a recompensa por estarmos servindo à Deus é extremamente recompensador. Estou distante, mas não sinto solidão. Não estou sozinha. Estou na companhia de Deus. Quando sentimos sua forte presença, compreendemos que não estamos sozinhos. A presença da congregação também nos ajuda a vivenciar esta vida missionária. Por isso digo, não sintam medo, digam sim a este chamado de Deus em suas vidas. Nós podemos ser a ponte entre Jesus e a uma infinidade de pessoas que aguardam a Palavra de Deus.
Irmã Andri Renata Vilas Boas
Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu
Sou mineira de Itajubá, uma cidade de Minas Gerais. Fiz os primeiros votos em Potim, no interior de São Paulo em 27 de dezembro de 2009. Depois segui em missão n
pela Itália e agora estou na Diocese de Santo André. Sou vice-diretora do Colégio São José, de minha congregação religiosa.
Quando de meu chamado vocacional, um significado muito forte foi a frase ‘Acolhendo e promovendo a pessoa do migrante e o refugiado’. Tem um valor muito significativo para mim, o fato de estar junto com as pessoas, acolhê-las e escutá-las e assim, anunciar o Reino de Deus a todos.
Entendo que podemos juntos construir um reino de amor, justiça e misericórdia, acolhendo e amando nosso irmão e nossa irmã, especialmente os mais necessitados. Na verdade, encontramos Jesus na vida das pessoas com quem nos encontramos. A gente pensa que nós é que vamos fazer a alegria do outro, mas é o contrário. Nós é que saímos muito mais felizes após esta visita ao outro.
Claro que sentimos a distância de nossos entes queridos, mas aprendi que as pessoas com que nos comunicamos passam a ser a nossa família. Podemos fazer do novo lugar, o nosso lugar, e as novas pessoas, passam a ser a nossa família.
O fato que mais me marca como missionária aconteceu durante minha experiência vivida no sul da Itália. Foi na região da Sicilia, há dois anos, quando acolhíamos os refugiados que chegavam pelo porto Mediterrâneo a procura de abrigo. Em Siracusa vimos um homem desembarcar. Ele foi o primeiro, justamente por estar bastante machucado, tinha várias partes do corpo quebrado. Esta cena nos marcou muito. Mais tarde procurando pelos hospitais, o encontramos novamente e pude conversar com ele longamente. Seu nome é Abdon, ele vinha da Eritréia. Era uma pessoa de posse, engenheiro, mas que chegava sem nada. Ele decidiu fugir, para não ter que ir para a guerra. Não queria pegar em armas, matar pessoas.
Nos disse que no deserto caiu do caminhão e se machucou tremendamente. Teve a arma apontada para a sua cabeça, mas dois amigos o socorreram e puseram de volta na carroceria. Ele só tinha a roupa do corpo e um pequeno papel embrulhadinho num plástico onde se liam os números do telefone de seu único contato na Itália. Contou que tomara o cuidado, por que caso caísse no mar, o papel não ficaria molhado. Era sua maior riqueza. Era seu único bem, o contato com o irmão para iniciar uma nova vida.
Eu digo também que vale a pena apostar nossa juventude neste trabalho. Vale a pena pela causa que acreditamos. Deus faz maravilhas em nossa vida. Só é preciso acreditar e aceitar. Responder sim, sem sentir medo. O que nos move é o coração aberto para nos deixar ir até o outro. Nos permitir ser o instrumento de Deus na vida das pessoas que tanto necessitam vivenciar uma espiritualidade mais forte.