Quando se menciona o nome ou o dia de Santo Antônio, talvez alguns pensem de imediato em sua fama de “casamenteiro”, ou, refletindo um pouco mais, alguém pode se lembrar da tradição de se distribuir pãezinhos na missa rezada em sua memória, ou daquele pedacinho de pão que fica no pote de arroz ou de farinha representando a intenção de não faltar alimento naquela casa. No entanto, quem foi este Antônio e por que existem essas tradições envolvendo seu nome?
A vida de Santo Antônio brilha nas missões da Igreja e todas as tradições remetem ao seu espírito de caridade e dedicação às coisas de Deus.
Nascido em Lisboa no ano de 1195, seu nome era Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo. Um jovem de inteligência e memória evidenciadas, Fernando se destacava nos estudos. Pertencente à ordem dos Cônegos Regulares, cursou Filosofia e Teologia em Coimbra e, ainda em Portugal, sentiu-se tocado pela vida e obra dos franciscanos. É importante realçar, inclusive, como o sangue de mártires é semente fértil na vida da Igreja, pois à época aconteciam muitos martírios desses franciscanos na região de Marrocos, e tal testemunho despertou em Fernando de Bulhões uma nova inquietação vocacional. Ele já era sacerdote zeloso, mas soube ouvir e seguir as novas missões que Deus lhe havia preparado. Junto aos franciscanos, passou a se chamar Antônio.
Corajoso em Cristo, seguiu ao Marrocos, mas sua saúde não lhe permitiu continuar nessas terras e foi orientado, então, a dedicar-se aos estudos e à Evangelização por meio de sua sabedoria e ciência. Assim se fez, e mais uma vez Antônio se destacou. Há inúmeros documentos que atestam a grandeza de sua pregação, sempre unida à generosidade que expressava em cada gesto, em cada palavra e em cada silêncio, também.
Santo Antônio faleceu aos 13 de junho de 1231 em Pádua, na Itália, com apenas 36 anos, mas o brilho de sua alma foi tão resplandecente que o processo de verificação de sua santidade durou menos de um ano. Foi, então, canonizado em 1232.
Santo Antônio é um dos doutores da Igreja, o que demonstra mais uma vez que em seus 36 anos de vida soube se dedicar de maneira plena, eficaz e fiel a Deus, em tudo o que se propôs a fazer.
Fato curioso – e bendito – é que cerca de 30 anos depois, quando se concluiu a obra de uma basílica em sua honra, testemunharam mais um milagre e sinal visível de que é o próprio Deus quem sempre conduziu o santo em sua missão: na transferência de seu corpo para a basílica, viram que sua língua estava incorrupta, ou seja, não se decompôs como o restante do corpo. Houve ainda duas exumações posteriores e tal incorruptibilidade foi novamente comprovada. Na última, em 1981 (sim, há cerca de 37 anos, apenas), sob a cautela do papa João Paulo II, viu-se que, além da língua, suas cordas vocais também se mantiveram intactas à ação do tempo.
A Sagrada Escritura ensina, por diversas vezes que a língua é instrumento de salvação ou de condenação, de vida ou de morte, a depender de como a usamos. Assim, o milagre da língua e cordas vocais incorruptas de Santo Antônio mostra como ele soube usá-las como instrumentos de uma evangelização por meio de palavras, gestos, penitência e confissão permanentes. Quis o Senhor manter entre nós este sinal visível de que Ele próprio nos conduz em nossa missão, se assim entregarmos nossa vida a Ele. Por isso, o exemplo de Santo Antônio nos motiva a perseguir a santidade e santificar nosso corpo, para que seja luz e vida e jamais instrumento de morte e separação.
Um santo de tenra idade, cujas obras parecem não caber em seus poucos 36 anos, porque soube trabalhar com o Eterno. A maior parte de sua missão se deu em Pádua, por isso pode ser encontrado sob o título Santo Antônio de Pádua, ou Santo Antônio de Lisboa.
A tradição dos pães de Santo Antônio
Santo Antônio se sentia profundamente comovido com a pobreza e, certa vez, deu aos pobres todos os pães do convento em que vivia. Quando o frade que prestava o serviço de padeiro foi servir o jantar, viu que os pães tinham sumido e ficou preocupado, pois seus irmãos frades não teriam o que comer. Demonstrando sua inquietação a Antônio, este lhe pediu que conferisse novamente o lugar em que havia deixado os pães. Quando o frade viu, inexplicavelmente havia ali pães suficientes para servir o jantar.
Assim, a intercessão e a caridade de Santo Antônio foram receptáculos do olhar de Nosso Senhor Jesus, que sempre zela pelos famintos e continua a realizar o milagre da multiplicação e, assim, alimentou aos pobres da região e também aos frades do convento.
Desse fato, nasceu a tradição de abençoar e partilhar o pão nas missas em memória de Santo Antônio. Muitas pessoas colocam um pedaço de pão na vasilha de comida, como sinal de prece para que nunca falte alimento naquela casa. É importante ressaltar, entretanto, que o maior milagre de multiplicação acontece por meio de nosso olhar generoso aos pobres. Que, além de nunca faltar comida em nossas casas, nunca fechemos nossos olhos e nossas mãos aos pobres; que o pão de Santo Antônio seja alimento para nossa alma missionária e caridosa. Ao levar alguns pãezinhos para a missa de Santo Antônio, que possamos pensar em levar também para os irmãos, pois não faz sentido pensar apenas em minha casa, se há muito mais pessoas para alimentar.
Devemos recordar que o milagre da multiplicação aconteceu quando um garoto, tendo apenas 5 pães e 2 peixes, ofertou ao Senhor para alimentar uma multidão incontável, e não guardou apenas par si (Jo 6,1-13), isso o fez Santo Antônio e isso devemos fazer, também.
E a tradição de pedir casamento ao santo?
Mais uma vez reflexo de sua bondade em vida, em uma época de muitas exigências e negociações entre famílias para se autorizar um casamento, conta-se que Santo Antônio ajudava as moças humildes e sem condições a conseguirem dote e enxoval para se casarem, conforme os costumes da época.
Há diversas histórias sobre homens e mulheres que solicitaram a intercessão do Santo e foram atendidos, o que evidenciou mais uma vez a grandeza dessa alma missionária e intercessora.
É importante, no entanto, pensarmos no questionável (e triste) costume das simpatias envolvendo a imagem de tão grande santo.
Refletindo sobre o anseio de se encontrar alguém para se casar e dividir a vida, parece até escandaloso expressar esse pedido, que deveria estar permeado de amor, fazendo “chantagens”, como tirar o menino Jesus dos braços do santo, colocá-lo de ponta-cabeça ou dentro da água até que se encontre alguém.
Ainda que isso não afete em nada a memória do santo, quem se submete a esse tipo de atitude expressa um sinal visível de egoísmo e uma inclinação à barganha de natureza inconsequente e injusta, ou seja, castigar o outro até que se alcance o que pretende. É ingenuidade pensar que isso vá ajudar em alguma coisa.
Recorrer a essas simpatias denota também a falta de confiança no tempo de Deus e um egoísmo incompatível a quem deseja encontrar alguém para partilhar a vida e ter uma relação de amor.
Em lugar de negociar (ou barganhar) graças para nossas vidas, podemos nos dedicar às novenas, por exemplo, à oração e à missão, que nos impulsionam a confiar a Deus nossos anseios e nos motivam a exercer a caridade, de forma que cuidemos do que é de Deus, enquanto confiamos em Seus cuidados com o que é para ser nosso. Tudo tem seu tempo determinado, e quem determina é o próprio Senhor.
Assim, em vez de se prestar a esse tipo de ação, honremos a memória de tal santo com uma sincera ação de graças por sua vida, exemplo de fé, santidade e evangelização.
Santo Antônio, rogai por nós!
Artigo desenvolvida pela revisora da Diocese, Thiele Piotto