O Diretório de Liturgia da Diocese de Santo André está completando o seu primeiro ano de atividade. No processo de recepção das propostas do sínodo diocesano, ele deve ser um guia simples e seguro para ajudar a criatividade das equipes de liturgia nas múltiplas realidades pastorais da nossa diocese, para que celebrações litúrgicas dos sacramentos sejam acolhedoras e missionárias e sejam sinais firmes e permanentes da salvação.
Quando as formas que constituem a vida social não conseguem mais manter o seu aspecto por muito tempo, a liturgia da Igreja propõe a mensagem firme da salvação. A liturgia é ação sólida da Igreja, que ajuda as pessoas nesta modernidade líquida. Por isso, não deve nunca ser colocada a serviço das lógicas do consumismo com objetivos banais de atrair multidões e fazer sucessos. As celebrações litúrgicas que abandonam a linguagem que lhe é própria, para atender aos caprichos de personalismos, barateiam o conteúdo da liturgia. A celebração litúrgica dos sacramentos é a assembleia em movimento e quando é bem celebrada, torna-se profundamente terapêutica, porque humaniza as pessoas. É o próprio Senhor que age nela, por meio do seu Espírito. É o mistério da criatura que reverencia o seu criador; do humano diante do divino. É a experiência segura de salvação e de solidez que os esses tempos líquidos não podem mais oferecer.
Fidelidade à liturgia não significa, no entanto, medo de errar ou apego às rubricas que matam a fluência dos gestos celebrativos. A celebração litúrgica não suporta ser reduzida à dimensão cerimonial. Ela é ação ritual e momento de excelência na história da salvação e na realização da felicidade cristã. A simplicidade e a beleza nas celebrações não são caprichos, mas necessidades vitais que ajudam a rezar. Porém, nas comunidades, as equipes de liturgia devem cuidar para não caírem nos inventurgismos ou modismos, tentando embelezar o que é belo por natureza, pelo seu conteúdo e pela fluência dos seus gestos. Algumas tentativas de tornar as celebrações mais atraentes e enfeitadas, só esvaziam o conteúdo e empobrecem a linguagem própria da liturgia. Os cantos barulhentos chamam mais atenção para o cantor, artista e transformam a assembleia em espectadores, os instrumentos ruidosos não facilitam a oração, impedem o silêncio e a serenidade e o sagrado diálogo entre a assembleia celebrante e o mistério celebrado.
É preciso recuperar o silêncio dentro das nossas igrejas, especialmente no ritmo e nos gestos litúrgicos. O mistério celebrado não pode ser domesticado e não deve ser uma ação superficial, como certas práticas parecem insinuar. Quando a celebração litúrgica perde a postura de fé, não ouve mais os apelos de Deus que soa dentro de nós, não brota mais de Deus e do coração humano, torna-se banalizada como uma ação a mais, dentre as tantas executadas mecanicamente todos os dias.
O silêncio, som natural das coisas, é fonte de toda palavra verdadeira e fim último de cada palavra pronunciada. Sem a palavra o silêncio é vazio e sem o silêncio a palavra é barulho. A incapacidade de silenciar impede a comunicação e gera uma sociedade da algazarra, onde ganha quem grita mais alto. E ganha não pela convicção, mas pelo cansaço provocado pela gritaria. Assim são as propagandas. As propagandas não cabem nas celebrações litúrgicas e não condizem com o mistério celebrado. Algumas comunidades não conseguem mais valorizar o silêncio e estão perdendo a capacidade de celebrarem liturgias autênticas.
A formação litúrgica, em todos os níveis, continua sendo um grande desafio do povo de Deus. O Diretório de Liturgia da Diocese de Santo André é um instrumento valioso que deve ajudar as comunidades e as equipes de liturgia na formação e na preparação das celebrações litúrgicas dos sacramentos com profundidade, silêncio, gratuidade, beleza e experiencia da solidez do amor de Deus, revelado por Jesus, que nos ajudem a ressuscitar para a vida.
Você pode adquirir um exemplar do Diretório de Liturgia no Centro de Pastoral, que fica no terceiro andar do prédio da Cúria Diocesana.