Estamos de luto por mais uma tragédia. Mais um crime anunciado como se pode dizer. O desastre ambiental e humano que pela segunda vez assola a população de Minas Gerais (Mariana e Brumadinho) suscita uma pergunta que exige resposta: culpa de quem?
É triste constatar que nestes momentos todos se eximem da culpa, todos contam com a certeza de que, passados alguns meses não se fala mais nisto e, vamos para a próxima tragédia no país onde a impunidade incentiva o crime e anula todos os esforços feitos para combatê-lo.
Quando cursava a faculdade, realizávamos uma reunião de estudantes e a certa altura, um deles, mineiro por sinal, disse: “isto daqui é como um galinheiro, cada galinha no seu balaio chocando seus ovos, quando passa alguém e joga uma pedra todas cacarejam e se faz um alarido, passados alguns minutos tudo fica como antes, cada uma no seu balaio chocando seus ovos…”
Imagem melhor para o que acontece no Brasil não seria fácil de achar. Agora que aconteceu a tragédia todos dão entrevistas, declarações, análises, prognósticos, promessas e comentários de todo o tipo, como este aqui. Detalhe importante: ninguém tem culpa de nada. Todos estavam certos e faziam o que a lei prescreve. A irresponsabilidade unida à impunidade é uma vergonha nacional e neste caso, internacional.
Enfim, as vítimas é que estavam erradas, pois estavam no lugar errado, na hora errada. E para demonstrar, o agente do Ministério Público diz aos parentes das vítimas que não esperem nada da Empresa (Vale), proprietária da barragem rompida, pois, após três anos, não pagou nenhuma multa referente ao último desastre acontecido com sua outra barragem.
No entanto a população sabe que existe culpa. E a culpa é daqueles que promovem a ganância do setor privado, a irresponsabilidade com a falta de ética na política, a facilitação das regras de proteção ambiental, pelo setor público, e também da própria população. E aí entram políticos corrompidos e empresários corruptores e sem patriotismo, já que, o capital e o lucro não têm pátria. O que significa o Brasil para uma multinacional a não ser um território a ser sugado no máximo, tanto no seu potencial material assim como humano?
Toda sociedade que pretende se manter está organizada numa hierarquia de autoridade, na qual cada um é responsável perante uma autoridade superior. O cidadão deve responder perante a justiça, quando infringe uma de suas responsabilidades. A própria justiça é imperfeita e pode também ser corrompida. Há, porém, uma responsabilidade moral, à qual ninguém escapa, e que é a responsabilidade perante a própria consciência; a voz interna de Deus na pessoa, juiz perfeito e incorruptível.
No foro da consciência há responsabilidade e ninguém comete uma ação má sem levar a sentença correspondente. O fato de não crer em Deus não suprime a voz da consciência que clama: “Onde está teu irmão?” (Gn 4,9).
Neste momento de tragédia, somos chamados à solidariedade, certamente, a uma tomada de consciência, sobretudo das responsabilidades sociais e do valor da vida humana, que está acima dos bens materiais e do lucro.
É preciso ouvir a voz dos profetas de hoje que nos advertem: “O dinheiro deve servir, e não governar!” (Papa Francisco EG 58).
Quando a sede insaciável de lucro a qualquer custo prevalece na sociedade, e os governantes se colocam a serviço do dinheiro, tudo fica submetido ao econômico e só existe mercadoria mais ou menos valiosa. A vida humana nesta situação não está entre as mais valiosas. É preciso uma ética que privilegie a vida, para sermos uma Nação próspera e feliz. Que Deus nos ajude!
Artigo desenvolvido por Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo diocesano de Santo André