Diocese de Santo André

O que sabemos sobre o Sacramento da Unção aos Enfermos?

Acho importante falar do Sacramento da Unção dos Enfermos  – UE-  que, como outros Sacramentos da Igreja, nunca foram bem esclarecidos e tiveram pouca catequese. A UE se encontra no Catecismo da Igreja Católica entre os Sacramentos de Cura, junto da Penitência ou Reconciliação [CIC n. 1499-1525].

Se, tentarmos dar uma olhada a história da UE – nem que seja em breves traços – teremos de admitir um longo processo de estruturação. A começar pelos primeiros séculos, onde os bispos abençoavam o óleo para “confortar” e implorar “a saúde” dos enfermos. Não fica bem estabelecido o ministro da UE. Pelo que parece, segundo Hipólito, esta unção era realizada pelos fiéis que levavam esse conforto aos enfermos.

Temos também referência a formas solenes da UE, realizadas pelos bispos depois da epiclese eucarística [consagração], com maior força a partir dos séculos III-IV. Procurava-se em primeiro lugar, como efeito desejado, o conforto e a salvação da pessoa doente; não tinha maior importância [pelas fórmulas] a questão do perdão dos pecados.

A partir dos séculos VIII-XII, uma rica documentação demonstra maior aprofundamento teológico e pastoral do Sacramento.

Na prática pastoral da Igreja latina aparecerão várias formas de bênçãos dos santos óleos, com o qual eram ungidos os cinco sentidos do doente, exigindo a “imposição das mãos”.

A seguir, entre os séculos IX-XI, os rituais vinculam cada vez mais estreitamente a UE com a reconciliação penitencial recebida na “hora da morte” [poenitentia ad mortem], prática certamente ligada a rigorosa dureza da disciplina penitencial daquele tempo. Por causa disso, os cristãos adiavam a confissão até o momento em que se achavam “prestes a morrer … e não restava a menor esperança de recuperar a saúde”. Assim, foi se fortalecendo cada vez mais a consciência de que não se pode receber a UE sem a “obrigatória” confissão dos pecados. As formulas e gestos litúrgicos determinavam tocar todos os sentidos da pessoa; pois, eles eram os “instrumentos do pecado”, acompanhando esse gesto com formulas deprecativas que pediam expressamente o perdão dos pecados cometidos pelos sentidos. A UE começa de fato a virar de fato uma “unção in extremis”: isto é, uma “extrema unção”. Com o qual este Sacramento incutirá no coletivo religioso das pessoas a ideia de que a UE seja “um sacramento de preparação para a morte iminente”, apenas administrado aos moribundos ou pessoas que se encontravam “in articulo mortis” [no momento final] aplicado a sujeitos gravemente enfermos e moribundos.

O Concílio Vaticano II, por sua vez, não pretendeu oferecer uma doutrina completa sobre a UE; preferiu chegar a uma “atualizada revisão dos ritos” e estabeleceu como nome “Unção dos Enfermos” [SC n. 73]. Em quanto a prática pastoral de aplicar-se à pessoas “com perigo de morte”, o Concílio estabeleceu como critério oportuno e humanizador o sentido mais amplo possível, afim de evitar os inconvenientes pastorais vivenciados na prática “ad mortem”, por isso, estabeleceu: “o tempo oportuno para recebe-la [a UE] começa quando o cristão já mostra indícios de estar em perigo de morte por enfermidade ou velhice” [Cf. LG n. 11].

O Concílio propõe 8 formas de celebrar a UE. Em geral, todas são assim estruturadas: Ritos iniciais; Liturgia da Palavra, especialmente inspirada em Tiago 5,14-15 e Mateus 8,5-10.13; Liturgia da Unção, cujo gesto central a unção com o santo óleo [abençoado pelo bispo na Missa Crismal da Quinta-feira Santa] em forma de invocação do Espírito Santo, para que, com a sua consoladora presença, derrame seu poder curador, confortando o doente com aquele amor e delicadeza com que o Bom Samaritano consolava os aflitos e sofredores. Assim, o doente experimentará intimamente na fé a paternal misericórdia de Deus.

Não menos importante é a dimensão eclesial da UE. A morte redentora de Cristo torna-se presente no mundo por meio da Igreja. Daí brota o significado eclesial da UE. A Unção ao enfermo, membro da Igreja, corpo de Cristo, faz acontecer concretamente e de forma sensível a presença salvífica de Jesus Cristo. Por isso é fundamental que os familiares e pessoas que acompanham o doente participem da celebração. No momento da UE, a Igreja se faz presente com carinho maternal e se une ao doente pela oração; assim, a UE celebrada com carinho e dedicação, exprime a solicitude maternal da Igreja para com seus filhos e filhas enfermos.

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Vejamos alguns aspectos pastorais:

  1. Hoje é significativa e meritória a missão dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão que, visitam com carinho os enfermos da comunidade, levando a Comunhão e acompanhando a vida do doente. A Comunhão coloca o doente em fraterna união com toda a comunidade representada pelos ministros enviados.
  2. Dessa maneira, com o passar do tempo, e percebendo que o enfermo começa a ficar mais debilitado, o ministro lhe oferecerá a visita do presbítero da comunidade para celebrar a UE. Sacramento que será assim celebrado com consciência e sentido cristão do sofrimento.
  3. Fica ainda um grande desafio diante da UE. Por quê? Pois nos bem sabemos que hoje “quase ninguém gosta de falar da morte”. A cultura atual não cristã parece nos inculcar que a morte representa “o fracasso da vida”. Pessoas da sociedade descristianizada como a nossa, entram em desespero; para eles, a morte é o final de uma vida que não tem futuro nenhum.

Isto atende a mentalidade de nossas comunidades também. Hoje nem os cristãos sabem tratar corretamente sobre a morte. Diante desta eventualidade, não somos capazes de enfrentar a verdade da vida. Entramos assim num campo minado e no turbilhão do silêncio e da ficção, da reticência e da mentira. Não achamos gestos nem palavras adequadas. Vivemos numa cultura que não sabe mais tomar cuidado do morrer e nem do moribundo. Pelo contrário, Martim Lutero, com lúcidas palavras dizia: “o ser humano diz: no meio da vida sou tomado pela morte; mas, o cristão diz: no meio da morte sou tomado pela vida”.

O que acontece na prática é isto, os padres sabem muito bem, que chamam para celebrar a UE “quando o doente está inconsciente”, “em coma” ou “sedado” … Os parentes da pessoa adoentada pedem e até com insistência pouco educada, de “dar a Unção” mesmo que fosse de maneira mais ou despercebida ou como um ato de magia, para ganhar o céu.

Fica ainda um bom caminho a ser trilhado no que diz a uma correta catequese sobre o Sacramento da UE. O ministros devem estar bem preparados para catequizar frutuosamente sobre a riqueza deste Sacramento, em modo a que as pessoas recebam consciente e participativamente a UE junto de seus familiares. Pois será o Cristo, Bom Samaritano a nos acolher e nos lembrar que como cristãos batizados somos inseridos em seu mistério de amor.

Artigo desenvolvido por Pe. Guillermo Daniel Micheletti

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Bibliografia de referência: Catecismo da Igreja Católica; Roberto RUSO. Unção dos enfermos. In: CELAM. Manual de Liturgia III; Andrea Grillo. Ritos que educam. Edições CNBB; Luciano MINICARDI. O humano sofrer. Edições CNBB.

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