“Foi uma caminhada muito bonita na minha vida. Se tivesse que voltar, faria a mesma coisa”. Após 17 anos de serviços prestados ao povo de Deus, na Diocese de Santo André, padre Giuseppe Bortolato cumprirá nova missão a partir de março deste ano. Ele assumirá como reitor propedêutico do seminário Congregação dos Missionários de São Carlos, em Jundiaí, e também contribuíra como padre espiritual no seminário João XXIII, em São Paulo.
Pároco durante 13 anos na Igreja Matriz de São Bernardo – Basílica Menor Nossa Senhora da Boa Viagem (assumiu em 29 de janeiro de 2006) e quatro anos na Matriz andreense (1979 a 1983), o sacerdote da Congregação dos Missionários de São Carlos, conhecida como padres carlistas e scalabrinianos, se despedirá da região com uma Missa de Envio neste domingo (24/02), às 10h30, na Matriz são-bernardense.
Para quem não sabe, um dos primeiros trabalhos de padre Pepe na Diocese de Santo André aconteceu na Pastoral Carcerária. “Assumi no período de Dom Cláudio Hummes, bispo da Diocese Santo André, de 1975 a 1996, e foi uma experiência fantástica. A cadeia tinha virado a minha segunda casa”, relembra.
O acompanhamento do desenvolvimento da juventude, na formação e evangelização, também foi uma grande marca deixada pelo sacerdote. “Molecada respondia bem. Nos encontros, nas comunidades, no setor da confissão. Aqui na Matriz de São Bernardo muitos jovens vem procurar reconciliação no casamento”, revela.
A dedicação a Matriz são-bernardense durante esses 13 anos é visível para os olhos dos fiéis, que reconhecem o trabalho do missionário scalabriniano: a programação das comemorações dos 200 anos da paróquia (1812-2012); a elevação da Matriz à Basílica Menor; o congresso eucarístico; a instituição da missa em italiano e do almoço tradicional; e a inauguração do órgão foram algumas das iniciativas que demonstram o legado de padre Giuseppe para a região.
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A vida
Esse simpático e bem humorado italiano, que não dispensa uma bela massa e um bom vinho, nasceu na cidade de 15 mil habitantes chamada Noale, província de Veneza. “Uma cidade medieval fantástica. Tem história, castelo”, em plena Segunda Guerra Mundial, no ano de 1943.
A família é grande e unida. “Sempre viajo para lá, a cada dois anos. Tenho cinco irmãos. Éramos em seis. Um faleceu. Tenho 20 sobrinhos casados, 21 sobrinhos-netos. Quando chego lá nos juntamos todos para comer pizza, lasanha e tomar um belo vinho. Não pode faltar, né”, revela.
Filho de Giácomo e Henriqueta, Padre Giuseppe completará neste ano 48 anos de sacerdócio (foi ordenado em 24 de abril de 1971, na Itália). Quatro meses depois já estava no Brasil, quando a ditadura militar já estava em curso no país, para cumprir a missão destinada em favor dos migrantes, dos pobres e da igreja.
Padre Giuseppe, o padre Pepe, recebeu a reportagem diocesana para um agradável e descontraído bate-papo. Confira os principais pontos da entrevista:
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Atuação no Brasil
“Chego ao país no dia 1º de setembro de 1971. Fiz um período de língua portuguesa em São Paulo e depois fui para Jundiaí. Fiquei sete anos lá. Daí estive pela primeira vez na região da Diocese de Santo André, na Igreja Matriz de Santo André. Fiquei quatro anos e após esse período fui para o Rio de Janeiro numa paróquia de periferia, onde mesmo com as dificuldades na comunidade, com tráfico de drogas, vivi um período fantástico da minha vida. Foi um aprendizado com a juventude”.
“Retornei para Jundiaí, onde fiquei mais nove anos, entre 1987 e 1996. Vim para São Paulo onde fiquei mais três anos na Igreja Nossa Senhora da Paz (na baixada do Glicério, na capital paulista)”.Estive na direção provincial no início deste século e depois voltei para a Igreja Nossa Senhora da Paz, onde fiquei mais quatro anos. Aí chego em São Bernardo, onde fiquei de 2006 a 2019. São treze anos de caminhada religiosa aqui”.
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Família religiosa
“Entrei no seminário com 12 para 13 anos. Naquele tempo era assim. Sempre tive certeza que iria ser padre. A minha família é muito religiosa. Tem um padre carlista, outro diocesano, uma freira dominicana e uma prima freira. Esse clima religioso contribuiu para minha caminhada”.
“Meu pároco era diocesano, mas sempre tive uma preferencia pelos scalabrinianos. Então, ele logo me levou para conhecê-los. Nesta época, os estudos no seminário para se formar padre eram 15 anos. Iniciava no ginásio passando pelo colégio, fazendo o noviciado, cursando filosofia e teologia. Foi uma caminhada muito bonita na minha vida”.
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Tempos da ditadura
“Estava em Santo André (na Igreja Matriz) durante as greves históricas de 79, 80 em São Bernardo. O bojo da questão era aqui em São Bernardo. Santo André a coisa era mais calma, menos engajada. Tinha o Dom Cláudio Hummes, bispo da Diocese de Santo André, de 1975 a 1996, o Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, naquela época eram vozes incansáveis contra a ditadura. Os padres carlistas daqui se envolviam mais, nas próprias greves, nas portas de fábrica”.
“Acompanhei a reabertura democrática, gostei das mudanças, mas sabendo que o meu foco era o sacerdócio, a palavra de Deus, anunciar o evangelho, sem excluir ninguém”.
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Trabalho na Diocese
“Na Matriz Santo André tive um trabalho muito bonito na cadeia, com a Pastoral Carcerária, que não existia. Assumi no período de Dom Cláudio e foi uma experiência fantástica. A cadeia tinha virado a minha segunda casa. Os jovens vinham falar comigo, os vicentinos iam lá, também. Ensinávamos catequese. Foi um período fantástico.”
“Meu forte foi acolher. Tinha uma relação muito forte com a juventude. Anos bonitos. Molecada respondia bem. Nos encontros, nas comunidades, no setor da confissão. Aqui na Matriz de São Bernardo muitos jovens vem procurar reconciliação no casamento. Sempre procurei a pastoral de conjunto, num diálogo sereno e sadio”.
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200 anos da Matriz São Bernardo
“Nestes 13 anos aqui destaco a dedicação da igreja, os 200 anos da paróquia, a elevação da Matriz a Basílica Menor. O congresso eucarístico, a missa e o almoço italianos. O órgão que foi inaugurado. Algo que estava faltando nessa igreja, deu um toque, um brilho”.
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Próximos desafios
“Sempre acreditei na vocação dos jovens. Aqueles que vêm das paróquias carlistas habitualmente, da pastoral vocacional, estarei lá para acolher, caminhar juntos para ajudar a discernir. Porque é a porta de entrada, o propedêutico. Tem psicólogos, professores, padre espiritual. É um trabalho em conjunto. Tem uma bela inserção na paróquia, o colégio das irmãs carlistas, tem um intercambio. Não é apenas uma vida dentro do seminário ”.