Na noite santa em que se celebra a vitória de Cristo sobre a morte, sobre as trevas do pecado, solenemente proclama-se a Páscoa de Cristo, encerrando a Liturgia da Luz, na Vigília Pascal. Ao entoar-se o Exulte, perante a assembleia reunida, pode-se aprofundar a meditação do Mistério Pascal de Cristo. Neste texto, pretende-se explorar algumas imagens importantes que aparecem ao longo do Precônio Pascal.
A vitória de Cristo é a luz que ilumina a caminhada da vida eclesial. Por isso, a Proclamação da Páscoa inicia-se com um convite à alegria: exulte! Exultar é ser tomado por uma alegria contagiante, que transborda para além de todo o nosso ser. Mais do que isso, toda a criação é convidada a celebrar a Ressurreição. Desde a realidade celeste até a realidade terrestre – “exulte o céu […] alegre-se também a terra amiga” (Proclamação da Páscoa – 1ª e 2ª estrofes). Também deve-se notar que a realidade terrestre, encontra-se iluminada pela luz das velas, anunciando a Ressurreição, que afugenta a trevas do pecado e da morte (Proclamação da Páscoa – 3ª estrofe). Se refletirmos um pouco mais, as velas acesas que iluminam a realidade terrestre está nas mãos dos fiéis cristãos, que estão reunidos para celebrar a Páscoa.
Contudo, há uma quebra no poema, pois insere-se um convite à oração, tal qual na oração eucarística. Esse detalhe chama a atenção por ser algo único, reservado somente para o Exulte e para as Orações Eucarísticas. Se retomarmos as Calendas Natalinas, onde se faz um apanhado das datas para anunciar o nascimento de Cristo, ou mesmo o Anúncio das Solenidades Móveis, na Solenidade da Epifania do Senhor onde se anunciam as datas da Páscoa do ano corrente e outras solenidades dela derivadas, não há este diálogo entre o presidente da celebração e a assembleia reunida.
Após tal convite, coloca-se o motivo de tamanha celebração: “Sim, verdadeiramente é bom e justo, cantar ao Pai de todo o coração e celebrar seu Filho Jesus Cristo, tornado para nós um novo Adão” (Proclamação da Páscoa – 4ª estrofe). Essa ação de graças pela Páscoa de Cristo, ao Pai, que recria toda a criação na Ressurreição. O sacrifício redentor da cruz traz a toda realidade a libertação do antigo documento, ou seja, do pecado, promovendo a reconciliação entre a realidade terrena e a celeste, abrindo as portas do céu para todos.
“Pois eis agora a Páscoa, nossa festa, em que o real Cordeiro se imolou” (Proclamação da Páscoa – 6ª estrofe) rememora o símbolo antigo, no qual o povo hebreu, cativo no Egito, celebrou a Passagem do Senhor, e que por marcar as portas com o sangue do cordeiro ritual, salvou-se da morte dos primogênitos (cf. Ex 12, 12-13). A vida dos cristãos está salva da morte pelo sangue derramado do verdadeiro cordeiro, Jesus Cristo, que pelo Batismo, faz um sinal indelével em nossas vidas.
Continua-se a rever a Páscoa hebraica como prefiguração da Páscoa Cristã, pois revela-se o sinal batismal da passagem pelo meio do mar Vermelho, em que os hebreus passaram a pé enxuto (cf. Ex 14, 21 – 22), para uma nova realidade libertada da escravidão egípcia – e os cristãos, pela Ressurreição do Senhor, da escravidão da morte. Mais ainda, a coluna luminosa (cf. Ex 13, 21) que conduzia o povo hebreu, prefigurava o Cristo Ressuscitado, que conduz sua Igreja (Proclamação da Páscoa, 7ª e 8ª estrofe).
“Ó noite em que Jesus rompeu o inferno” (Proclamação da Páscoa – 9ª estrofe) nos traz um elemento de fé, que reafirmamos a cada domingo na Profissão de Fé (Desceu à mansão dos mortos). Esse mistério que liberta toda a criação, desde a gênese do mundo, se dá pela descida do Senhor aos infernos para resgatar a todos os que foram afastados de Deus pelo pecado.
As próximas estrofes vão fazer um elogio ao sacrifício redentor de Cristo, que por sua morte e ressurreição, traz a toda a humanidade a libertação das amarras mortais do pecado e da morte (Proclamação da Páscoa – 10ª e 11ª estrofes).
Enquanto que o pecado traz a morte e a separação, a Ressurreição é motivo de alegria e comemoração, porque traz paz, luz e amor aos corações. Isso foi conquistado porque o maior poderoso do mundo, a morte, que oprime a toda humanidade decaída no pecado, foi vencido por Cristo (Rm 6,9). Até faz-se a correlação entre o poder opressor do Faraó com a opressão da morte, que é vencida pelo Senhor (cf. Ex 15, 4), tanto na Páscoa hebraica, quanto na Páscoa Cristã (Proclamação da Páscoa – 12ª e 13ª estrofes).
Nesse momento, há uma mudança no movimento do poema, pois passa da rememoração do passado para o momento presente: “Na graça desta noite o vosso povo acende um sacrifício de louvor; acolhei, ó Pai santo, o fogo novo: não perde, ao dividir-se, o seu fulgor” (Proclamação da Páscoa – 14ª estrofe). Após entoar os louvores ao Pai pela Ressurreição, fazer a memória do passado, todos são chamados a celebrar o momento presente, em que com as velas acesas no Círio Pascal, o povo congregado pelo sacrifício Redentor, celebra a vitória de Cristo.
As últimas três estrofes da Proclamação da Páscoa fazem uma bonita conexão entre o Círio Pascal como a coluna luminosa que conduziu os hebreus em sua saída da terra egípcia, e mais do que isso, simboliza a luz de Cristo Ressuscitado, que conduz a todos os batizados para a terra prometida, a Jerusalém Celeste. Por fim, os últimos versos continuam a associar a Cristo “sol triunfal”, com o símbolo da luz que vence as trevas.
Ao celebrar a Vigília Pascal, que todos os cristãos possam participar de forma plena, consciente e ativa da memória da Páscoa do Senhor.
Artigo desenvolvido por Glauber Machado e Jerry Adriano Villanova Chacon