“Vocês foram escolhidos por Deus para estarem aqui. Não desanimem, nem pensem que Deus não ama vocês. Deus ama do jeito que somos. A única coisa que Ele pede é que não pequemos mais. Vencendo o mal fazendo o bem. Esse é o nosso desafio”.
A declaração do bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, durante a homilia da missa de encerramento do XII Retiro Para Dependentes Químicos e Alcoolistas, incentiva os 135 participantes a se converterem para uma vida livre dos vícios das drogas e do álcool, por meio da perseverança e da fé em Jesus Cristo.
No quinto domingo da Quaresma, Dom Pedro cita a passagem do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João(8, 1-11), em que aborda o episódio da mulher adúltera.
“Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. […] Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques mais”.
“Jesus olha o sofrimento da pessoa. Essa mulher tinha algum drama. A própria situação causava-lhe vergonha. Mas Jesus diz ‘vai, levanta e não peques mais’. Porque Deus sempre nos ajuda, mas conta com nossa parte. Só de vir aqui vocês já estão se ajudando, correspondendo a um chamado de Deus”, revela o bispo.
Dom Pedro citou frase de Madre Tereza de Calcutá (1910-1997): “O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”, como forma de agradecimento ao empenho das 50 pessoas que trabalharam no encontro, bem como dos voluntários e paróquias que doaram alimentos e roupas para o retiro.
“É preciso sim darmos testemunho de amor ao próximo. Os que sofrem como esses irmãos de rua são aqueles preferidos de Jesus. Todos unidos em nossa fé ao recebermos a palavra que se faz pão na Eucaristia, reforcemos o nosso desejo de conhecermos cada vez mais Jesus”.
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Missão cumprida
Ocorrido na Casa do Cursilho, no Parque Novo Oratório, em Santo André, o encontro começou na noite de sexta-feira (05/04) com acolhida, jantar, louvor, orações e oferecimento de banho e roupas. O sábado (06/04) pela manhã teve início com a oração matinal e de perdão, seguido do almoço, e na parte matutina um momento de cura e libertação. No período noturno, jantar e momento de adoração ao Santíssimo Sacramento. O domingo (07/04) iniciou uma reflexão a Nossa Senhora seguida de palestra sobre família. No meio da tarde aconteceu a celebração com o bispo diocesano.
“Um momento muito forte para os dependentes químicos e alcoolistas foi a confissão com os padres Leandro, Herculano e Davi. Um espaço para desabafar sobre os problemas e se alimentar espiritualmente”, conta uma das organizadoras do retiro, Juliana Costa, ao lado de Letícia Simões.
“Cada retiro desse é uma semente que plantamos para colhermos frutos no futuro e libertamos as pessoas dos vícios”, salienta o ex-dependente químico e porta-voz do encontro, Cristiano Simões.
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Choro da esperança
Participando pela segunda vez do retiro, Luzia Janaína da Cunha, 51 anos, carrega consigo esperança de dias melhores. “Fiquei sabendo de última hora sobre o encontro. Meus colegas me avisaram e peguei a imagem de Nossa Senhora que ganhei no ano passado. Fui correndo para entrar no ônibus”, conta ela, que vive no CTA (Centro Temporário de Acolhimento) do Aricanduva, na Zona Leste de SP.
“Aqui é um lugar que sinto a presença de Deus, mais até do que numa missa. Sou uma pessoa viciada em drogas, mas hoje digo que estou 80% recuperada e com fé em Jesus estarei 100% em breve”, acredita.
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Homem de ferro
Juraci Augusto Barbosa, 60 anos, participa pela quarta vez do retiro. No combate contra o vício, o encontro é o impulso necessário para não desistir da cura do corpo e da alma.
“Sou alcoólatra, mas quando venho aqui me sinto realizado. Tipo um homem de ferro. Me ajuda a diminuir a quantidade de bebida em minha vida”, confidencia o senhor atualmente desempregado e que vive no CTA (Centro Temporário de Acolhimento) de São Mateus, na Zona Leste de SP.
“Trabalhava em fábrica de tecelagem. Mas hoje tento sobreviver sendo guardador de carros na rua. Comprei até um colete”, afirma.
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Acolhida
“Sou muito agradecida por participar desse encontro. É a segunda vez. Sou dependente química, mas estou lutando para vencer esse vício”, revela Elisabete Rosa de Bonfim, 56 anos, que elogiou o acolhimento com alimentação e roupas para os participantes.
“O ponto mais alto é a chegada de todos aqui. Quando todos se encontram num mesmo lugar. É bastante emocionante”, confessa.
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Lugar ao sol
Mineiro de Alfenas, José de Arimateia Domingos, 51 anos, segue persistente na tentativa de conquistar espaço no mercado da música. Além do vício do álcool, um dos principais obstáculos é a falta de verba.
“Sou percussionista de samba e queria gravar um cd. Não tenho dinheiro, mas quem sabe aparece uma chance. Para Deus, nada é impossível”, pensa o funileiro, que já compôs dois cânticos de louvor e vive atualmente no CTA (Centro Temporário de Acolhimento) do Aricanduva, na Zona Leste de SP.
“Estar aqui é como estar numa igreja. Somos um pedaço da igreja. Para quem quer ficar livre é através de Jesus Cristo. Sem Ele, não há remédio que cure”, emenda.