Neste mês, milhares de pessoas foram às ruas, protestar contra cortes no orçamento na área da educação. Em todas as capitais, e mais 130 cidades, houve protestos. Participaram estudantes, professores de escolas e universidades públicas e privadas além de outras entidades.
O atual governo já trocou o ministro da educação e agora anunciou cortes na verba destinada a este importante setor da vida social. Já na antiga Grécia o filósofo Pitágoras asseverava: “Educai as crianças e não será preciso punir os homens”. Certamente teríamos menos presídios, se tivéssemos mais escolas e um sistema educacional eficiente.
A palavra educar vem do latim “educere”, que significa extrair, desenvolver. É o processo de desenvolvimento e formação da personalidade. Não pode ser confundida com a mera adaptação do indivíduo ao meio, ou à preparação do indivíduo para uma profissão. A educação é atividade criadora, que visa levar o ser humano a realizar as suas potencialidades físicas, intelectuais, morais e espirituais.
Pela sua importância na formação dos cidadãos e cidadãs, a educação é uma preocupação constante. Sem aprimorar a educação não conseguiremos ter uma Pátria segura e desenvolvida, um futuro digno para todos. Julgo ser o maior problema de nosso país a questão da educação, até hoje mal resolvida porque não depende só de verbas e projetos bons, isto existe, mas depende sobretudo, de vontade política. Quando a educação for a prioridade número um para o governo e os governados, resolveremos todos os outros problemas da sociedade. Seremos um povo capaz de perceber que a Nação vai bem, não só quando a economia vai bem, mas quando o povo vai bem e vive feliz, e sabe trabalhar por isso com eficiência.
Com propriedade afirmou o atual reitor da USP Prof. Vahan Agopyan, para o qual, reduzir recursos em educação é uma decisão política, que países mais desenvolvidos não tomaram mesmo em momentos de crise como após uma guerra, por exemplo (cf. Folha de S. Paulo 18/05/19 – Cotidiano B1). A implementação de um processo educacional eficiente é capaz de solucionar as crises e questões básicas que travam o desenvolvimento de uma nação. Todos os países desenvolvidos investiram de forma prioritária na educação.
A educação é um dos direitos fundamentais do homem, consignado no art. 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (O.N.U.). A Constituição Brasileira estabelece no artigo 8º, c. XIV a competência da União para legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional. No art. 176 ela determina: “A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado e será dada no lar e na escola”.
A Igreja Católica iniciou no Brasil, com os jesuítas o processo de educar. Ela tem uma vasta folha de serviço prestado à Nação na área da educação. Em uma época que o Estado não tinha condições a Igreja manteve vasta rede de escolas em todos os níveis, para crianças, adolescentes e jovens. De certa forma supriu o papel e o dever do Estado. E continua a fazer isto. Nesta matéria cada um e cada instituição deve dar sua contribuição.
“O verdadeiro órfão é aquele que não recebeu educação” (E. de Condillac). A educação é para o homem o que é para o barro o molde: dá-lhe forma. Daí que sem esta formação que começa em casa e continua na escola, muitas crianças não têm condições de crescerem aptas para a vida, o trabalho e para a convivência na sociedade.
A convivência pacífica em sociedade, que cada vez se torna mais problemática depende da educação. Sem ela teremos não só uma “sociedade líquida” no dizer de Z. Balman, na qual tudo é incerto e errático, mas também uma “sociedade do egotismo”, dominada pelo culto narcisista de si e da própria cultura pessoal do indivíduo, erigida em fim supremo da própria conduta.
Uma guerra é a mais nítida imagem do que é a vida em sociedade onde não se leva em conta a educação. Será que, no Brasil não estamos em uma guerra disfarçada?
*Artigo de Dom Pedro Carlos Cipollini para o jornal Diário do Grande ABC