Diocese de Santo André

Quando eu cheguei aqui…

Quando eu cheguei aqui… Em 1944, ano do meu nascimento em São Caetano do Sul, portanto 10 anos antes da criação da Diocese de Santo André, meus pais moravam pertinho da Paróquia São Caetano, no Bairro da Fundação, onde fui batizado e recebi a primeira Comunhão.

Vou procurar na memória alguns fatos que me marcaram na trajetória de existência da nossa Diocese, me colocando na posição de humilde testemunha dessa história, começando por assinalar que meus pais mudaram do Bairro da Fundação para o Centro de São Caetano, exatamente, em 1954, ano do início da Diocese.  Saímos da Paróquia São Caetano na Fundação e mudamos para o Centro na Paróquia São Caetano!

Duas Paróquias São Caetano? Sim; uma era conhecida como Matriz Velha, no Bairro da Fundação, pois fora a primeira igreja de São Caetano; a outra, Matriz Nova, no Bairro Centro.

Justamente em 1954, na Matriz Nova, era Vigário (designação que na época correspondia a Pároco), o Pe. Ezio Gislimberti, que por causa das duas paróquias serem dedicadas a São Caetano, solicitou ao primeiro bispo da Diocese, Dom Jorge Marcos de Oliveira, que mudasse o nome de Paróquia São Caetano – Matriz Nova para Paróquia Sagrada Família. Dom Jorge aprovou imediatamente a alteração do orago (nome do santo padroeiro da igreja), como um de seus primeiros atos na recém- criada Diocese de Santo André.

Apesar da lógica dessa mudança de nome, endossada pelo bispo, não foi fácil convencer a população da cidade a deixar de se referir às duas igrejas como: Matriz Velha e Matriz Nova de São Caetano.

Vamos falar um pouco mais do primeiro bispo, Dom Jorge Marcos que exerceu o seu mandato durante toda a minha adolescência e, por isso, alguns fatos desse período ficaram retidos em minha memória.

As manifestações da igreja católica nas questões mais agudas da justiça social foram impulsionadas pelo Papa João XXIII, com o Concílio Vaticano II, até 1963, quando ele faleceu; em seguida, ratificadas pelo Papa Paulo VI, que completou o Concílio, em 1965. Essas manifestações encontraram em Dom Jorge um marcante e eloquente arauto.
Incompreendido, dentro e fora do âmbito religioso, Dom Jorge foi um contundente defensor, em seus pronunciamentos, sempre em favor da opção pelos pobres e em favor das classes trabalhadora e estudantil.   Por conta disso, a partir de 1964, com o governo militar implantado em 31 de março, o bispo considerado progressista, foi duramente questionado pela imprensa alinhada com o governo.

No ABC ocorreram fortes manifestações quando leigos mais conservadores divulgaram, através da imprensa local, suas críticas ao catolicismo progressista de Dom Jorge Marcos e aos sacerdotes que concordavam com esta linha de ação. Além do bispo Dom Jorge e dos sacerdotes, foram também censuradas as organizações que tinham os operários católicos como participantes.
A postura de defensor implacável das classes menos favorecidas no ABC valeu a Dom Jorge, por parte dessa ala conservadora da imprensa, o apelido de bispo vermelho.

Em 1965, quando eu estava cursando a Faculdade de Engenharia FEI, na época, pertencente à Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), houve uma greve de alunos que se insurgiram contra o aumento elevado nas mensalidades. Em consequência, criou-se um impasse: de um lado, os alunos apoiados pelos próprios professores, mantinham a greve, mesmo correndo o risco de perder o semestre do curso; de outro lado, a direção da PUC, irredutível na manutenção do aumento.
Após quase um mês de greve, nenhuma luz no fim do túnel das negociações; alguns alunos católicos e mais próximos da Diocese conseguiram trazer o bispo Dom Jorge para o olho do furacão da greve.

Suponho que ele deva ter, primeiramente, tratado com a direção da Faculdade, para depois aceitar uma vinda até a FEI para conversar com os alunos em uma tumultuada assembleia. Estive nessa assembleia e lembro perfeitamente quando Dom Jorge entrou no enorme pátio nas dependências da FEI onde estava uma multidão de alunos.

O bispo foi recebido debaixo de uma estrondosa vaia dos alunos que faria qualquer ser humano virar as costas e se retirar do local. Dom Jorge, pacientemente, aguardou por vários minutos ouvindo a vaia de muitos e até as ofensas e gestos de hostilidade de alguns.

Quando a vaia foi perdendo intensidade, o bispo, tranquilamente, se dirigiu à assembleia num tom de voz, inicial e propositalmente, mais baixo até que as vaias cessassem completamente e os alunos o pudessem ouvir. Dom Jorge explicou que se houvesse o final da greve ele tinha da direção da faculdade o compromisso de reduzir o valor da mensalidade.  Ao final da exposição do bispo, clara, firme, convincente, ele, pura e simplesmente concluiu com uma bênção aos grevistas e se retirou da assembleia com três vitórias como resultado de sua intervenção: o fim da greve, a redução no preço da mensalidade e uma tremenda e prolongada salva de palmas de todos os alunos, em especial, dos mesmos que o haviam recepcionado com a impiedosa vaia.

Depois de Dom Jorge veio o segundo bispo da Diocese, Dom Cláudio Hummes, que em 1979 fez a Visita Pastoral à Paróquia Sagrada Família de São Caetano e, ao final da visita fez questão de deixar registrado um interessante comentário, que me foi permitido extrair do Livro de Tombo da paróquia:

Cumprimento os atuais Padres da Paróquia e toda a Comunidade Paroquial pela dinamização pastoral e vida comunitária. Agradeço também à Província dos Padres Estigmatinos por todos os bons serviços pastorais prestados nesta Diocese e, sobretudo, nesta Paróquia pelos seus Padres que aqui serviram o Povo de Deus, confiando poder sempre continuar contando com essa colaboração preciosa e fraterna.

Aproveito para lembrar que os Padres Estigmatinos assumiram a primeira paróquia de São Caetano do Sul, em 1924, e continuam na cidade, há 95 anos ininterruptos.
Lamentavelmente, não guardei na memória fatos da passagem de Dom Décio Pereira, como terceiro bispo diocesano, mas é impossível a alguém que o conheceu se esquecer do detalhe que mais marcou a figura que o tornou o “bispo sorriso”.

O bispo Dom Nelson Westrupp, atualmente bispo emérito, quando em exercício na história recente da nossa Diocese, deixou em sua trajetória uma especial dedicação, entre tantos trabalhos pastorais, dando pleno e carinhoso apoio ao desenvolvimento da Pastoral da Criança em nossa Diocese.
A saudosa Dra. Zilda Arns Neumann em suas visitas á nossa Diocese sempre se referiu à forma empenhada e afetuosa com que Dom Nelson sempre contribuiu com essa pastoral, sem dúvida, a mais divulgada dentre todas as do histórico contemporâneo da igreja católica no Brasil. Quando em setembro de 2012, a Pastoral da Criança completou o seu Jubileu de Prata na Diocese de Santo André, tivemos a satisfação de poder homenagear, na Missa comemorativa dos 25 Anos, a figura de Dom Nelson entusiasta por esse trabalho e que presidiu a celebração, com o seguinte comentário ao final da missa:

“O pastor conhece as suas ovelhas e dá a vida por elas”. Desde 2003 quando aqui chegou fiel ao lema: “Sem mim nada podeis”; assumiu as ovelhas do seu enorme rebanho, mas, entre elas, com um carinho todo especial, as ovelhas de um redil chamado – Pastoral da Criança.

Entusiasmado com o projeto e entusiasmando com o seu empenho, apoiou sempre as iniciativas dessa Pastoral e tornou-a um marco em vibração e expansão, “Promovendo a Vida” na Diocese de Santo André; o grande incentivador nesta última década da Pastoral da Criança, o nosso querido Bispo Diocesano Dom Nelson Westrupp! Não é preciso dizer que ele agradeceu, deu a bênção final e acenou para todos com a sua marca registrada: TCHAU!

Dom Pedro Carlos Cipollini assumiu seu bispado em 2015 e no início de 2016 fui a Marília,SP no Encontro de Leigos Estigmatinos, onde estavam representantes das diversas paróquias dirigidas por padres estigmatinos e no qual eu representava São Caetano do Sul. Na missa de encerramento do encontro, presidida pelo bispo da Diocese de Marília, este solicitou a cada um dos representantes que dissesse seu nome e a cidade que representava. Quando disse que era de São Caetano, o bispo de Marília me perguntou se eu conhecia o bispo de Santo André, ao que respondi gaguejando: não muito, pois Dom Pedro Carlos chegou há pouco tempo por lá.

O bispo de Marília completou pedindo que quando eu encontrasse com Dom Pedro Carlos, dissesse que o bispo de Marília lhe enviara um forte abraço, o que provocou o riso de muitos dos presentes. O único que não sorriu e continuou confuso fui eu, porque não sabia que o bispo de Marília era Dom Luiz Antônio Cipollini, irmão de Dom Pedro. Tentei consertar a minha profissão de ignorância, após a missa, na hora do almoço do encontro e no qual Dom Luiz Antônio estava presente.  Encabulado, me dirigi a ele confessando que não sabia que Dom Pedro tinha um irmão bispo, justamente ele!

Dom Luiz Antônio, gentil e sorridente, me consolou e ainda por cima, insistiu na sua recomendação: é para fazer chegar o abraço a Dom Pedro sim e dizer que estou bem de saúde aqui em Marília. E me confidenciou:- “sabe que faz um tempão que não encontro com meu irmão? As nossas intensas atividades somente têm nos permitido comunicação à distância.” Não tenham dúvidas de que fiz esse abraço chegar ao vivo, em cores e rapidinho até Dom Pedro!

Espero que as simplórias anotações que fiz sobre a minha pequena experiência de modesta testemunha dos 65 anos de nossa Diocese, pelo menos sirvam para demonstrar quanto os nossos bispos, pastores de padres e leigos, têm se esforçado para estar junto de seu rebanho, muito próximos de todos nós, e ao mesmo tempo, atuado incansável e incessantemente na meta: única, sublime e gratificante de evangelizar.

 

* Artigo por João Tarcisio Mariani, Matriz Sagrada Família – São Caetano do Sul

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