Retratar significativamente a vida de um daqueles que foram escolhidos para compor o grupo dos mais próximos à missão evangelizadora de Jesus é o mesmo que trazer à história conceitos de amizade, intimidade e muita confiança.
Certamente, quando falamos de Tomé, expressões como: ”Preciso ver pra crer” ou “Sou como Tomé, só acredito vendo” caracterizam essa nossa personagem. No entanto, precisamos nos contextualizar e inserir na história, para suscitar uma relação com nossa vivência evangélica nos dias de hoje.
O capítulo 3 do Evangelho de Marcos relata com clareza a forma da escolha e os motivos pelos quais Jesus elegeu os doze e, dentre eles, Tomé. Jesus os escolheu para a missão, essa palavra que tanto nos agrada e nos enche de entusiasmo. Ao serem escolhidos, os doze sentiram o mesmo entusiasmo, mas Jesus os indica o caminho para que a missão de ser discípulo aconteça como deve ser, e o caminho após a eleição amorosa do Senhor foi para que “Ficassem com ele…” (Mc3,14) e, em seguida, para “enviá-los a pregar e terem autoridade de expulsar demônios.”
Estar com Jesus: essa deve ser sempre nossa primeira disposição enquanto discípulos e missionários. Estar unido à videira verdadeira (Jo15) e entender que nela nós encontramos todo o necessário para que nossa missão de pregar, expulsar demônios, levar esperança, consolar os aflitos e tantas outras que nos impõe todos os dias aconteçam com eficácia. Estar com Jesus também é estar entre irmãos, afinal o cristianismo não é uma religião de isolamento, mas de proximidade comunitária. Momentos de estar a sós são importantes, mas eles nos levam a uma vida comunitária cada vez mais saudável, de encontro com Jesus através daqueles que nos acompanham na mesma direção.
Tomé vivia essa vida de proximidade com Jesus e com seus irmãos de discipulado, mas isso não implica que dentro de si não trazia tudo aquilo que qualquer ser humano traz consigo, como inseguranças, falta de confiança, sentimentos humanos próprios, mesmo na condição de íntima amizade.
Após a ressurreição de Jesus, os discípulos estavam reunidos e Jesus se pôs no meio deles (Jo20,19), mas Tomé não estava. Não estar nesse momento não significa que estava por caminhos perversos, simplesmente não estava, contudo observamos a necessidade de sermos comunidade, de estarmos unidos como irmãos. A união na fé nos faz enxergar situações e viver momentos que o isolamento não proporciona.
Entusiasmados, os discípulos que viram Jesus contam a Tomé o ocorrido e sua resposta é curta e enfática: ”(…) se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser minhas mãos no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei” (Jo20,25). Um homem escolhido a dedo por Jesus, que vivia em comunidade e mesmo assim não acreditou naqueles que o anunciaram a aparição do mestre. No entanto, assim também acontece conosco. Vivemos em paróquias, comunidades, entre irmãos, mas temos a dificuldade de ver nossos irmãos como pessoas dignas de credibilidade. A palavra não explicita qual a reação dos discípulos ao ouvirem isso, mas mostra o carinho de Jesus por aquele que Ele mesmo escolheu e que por ser humano, seria dotado de debilidades. Oito dias depois, aparece mais uma vez aos discípulos, dessa vez com Tomé presente, e pede para que este toque em Suas mãos e em Seu lado e dá uma ordem: “Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe no meu lado, e não sejas incrédulo, mas crê!”(Jo20,27).
Uma visão mais negativa da situação enxergaria com certo desconforto, como se Jesus estivesse repreendendo a Tomé por sua falta de fé. Acontece que com uma visão mais positiva, vemos a relação de um Deus que não se cansa de se apresentar ao homem para fazê-lo sempre e cada vez mais retornar ao seu ponto de partida, para que, fazendo memória, não se perca pelo caminho. Tomé fez memória, caiu em si e declarou sua profissão de fé em Jesus: ”Meu Senhor e meu Deus” (Jo20,27) expressando que a partir daquele momento já não havia mais dúvida. Era Jesus! Sua permanência em comunidade o fez tocar nessa realidade e a partir de então acreditar ainda mais em seus irmãos de fé.
Hoje não temos com frequência, exceto na vida de alguns santos, o testemunho de pessoas a quem Jesus se revelou por meio de alguma aparição, mas somos convidados a acreditar no testemunho daqueles que estão ao nosso lado. Não precisamos ver Jesus com nossos olhos, nem tocar em suas chagas gloriosas para acreditarmos n’Ele, mas precisamos, através da proximidade com Esse Amigo que nos escolheu, conquistar sensibilidade para vê-Lo na criação, vê-Lo quando um de nós consegue levar esperança onde não existia mais, quando atos de amor são manifestos e, sobretudo, quando vemos pessoas vivendo o evangelho e vendo suas vidas sofrerem uma reviravolta por conta do amor de Jesus que os invade.
Sejamos aqueles que têm a certeza de termos sido eleitos para permanecer com Jesus, levar sua palavra aos corações mais necessitados e busquemos enxergar Jesus nas situações ordinárias do dia a dia para sermos felizes por termos crido sem termos o visto.”
Deus abençoe!
Artigo desenvolvido por Seminarista Bruno Biazutti