Caros amigos e amigas, estamos vivenciando mais uma vez, na Igreja no Brasil, o mês da Bíblia. Oportunidade especial que temos de mergulhar ainda mais na Palavra de Deus e alimentar-nos dessa graça que o Senhor concedeu a nós.
Claro que não somente no mês de setembro que somos convidados à leitura constante das Escrituras. Com o Concílio Vaticano II (1962-1965), a Igreja reafirma, na Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina, o insondável tesouro deste sinal da presença do Senhor no meio de nós, que não pode ser negado a ninguém. A Palavra é a forma de Deus se expressar em nossos caracteres, falando a nossa linguagem (Dei Verbum, 13), mostrando assim sua proximidade com a nossa história, com nossa realidade (cf. Dt 30,11-14). Contudo, podemos nos perguntar: por onde começar? Temos uma ordem certa? O que é mais importante?
Deus inspirou aos hagiógrafos (escritores sagrados) toda a Escritura. Todo o conjunto é Palavra de Deus revelada aos homens, contextualizada em realidades específicas. Não pode ser lida como uma simples literatura 9por mais que seja formada por diversos gêneros literários), muito menos olhada como se fosse um relato jornalístico de acontecimentos passados (a guisa de nossos livros de história). Por isso, olhamos as Escrituras como: a experiência de fé de um povo ao longo da história, que se desenvolve como história da salvação. Sendo assim, na leitura das Escrituras não podemos prescindir de nenhum texto, por mais complexo que seja em seu significado (por exemplo, o livro do Apocalipse, tido por muitos como um texto difícil).
Para nós cristãos e cristãs, Jesus é a Palavra de Deus (cf. Jo 1,14), encarnada na nossa história. Ele é o revelador do Pai e do seu projeto de amor. Sendo assim, Jesus é a centralidade das Escrituras. Na chave de interpretação Promessa-Cumprimento, percebemos o Antigo Testamento como preparação para a vinda de Jesus, e claro que o Novo Testamento nos relatando essa manifestação. Por isso, podemos perceber a primazia dos Evangelhos para nós. As cartas dos Apóstolos, os Atos e o Apocalipse demonstram a experiência de Jesus nas testemunhas oculares e nas primeiras comunidades, formadas a partir do turbilhão de eventos que revolucionaram a história. A partir daí podemos adentrar o vasto conjunto dos textos das Escrituras hebraicas, que formam o Antigo Testamento. A riqueza da experiência de fé do povo de Israel, seus altos e baixos na história, sempre amparados pelo Senhor que nunca os abandonou. Passamos desde as histórias dos Patriarcas e Matriarcas, pais e mães de Israel, alcançando o período riquíssimo dos Profetas e dos Sábios de Israel (Sapienciais). Um caminho belíssimo, onde nos impressionamos da afeição de Deus com seu povo eleito (cf. Os 11). Assim, chegamos ao ápice do amor revelado em Jesus de Nazaré (cf. Hb 1,1-3). A Palavra é um tesouro de onde tiramos coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52). É fundamental que possamos visitar cada canto deste tesouro, meditar cada página, buscar os ensinamentos de cada situação e exemplo.
A Sagrada Liturgia apresenta-nos um roteiro muito interessante para uma leitura geral da Palavra de Deus. Em sua forma de organização (Anos A, B e C), a Liturgia perpassa aproximadamente toda a Sagrada Escritura, pontuando o caminho a partir da experiência de Jesus. Conseguimos ler praticamente todos os livros, sempre referenciados nos Evangelhos, entendendo assim a proporção do gesto salvífico do Pai, ao enviar-nos seu Filho Unigênito (cf. Jo 3,16). Sendo assim, a liturgia diária é uma boa oportunidade de termos sempre o alimento da Palavra de Deus em nossa caminhada. Em nossa Diocese, o Semanário ABC Litúrgico traz sempre o roteiro das leituras semanais para nos fortalecer com a dose diária da Palavra.
Por fim, aproveitemos o impulso deste tempo salutar e vamos mergulhar no vasto oceano do amor, que é a Palavra de Deus. Tenhamos a ousadia de abrir suas páginas e recolher suas riquezas. Assim, é hora de ouvir o que o Senhor quer nos falar. Tenha certeza, caro irmão e irmã, a viagem será por demais prazerosa e frutuosa. Que Deus abençoe, pela intercessão da Virgem do Carmo, Mãe da Palavra encarnada, e de São Jerônimo.
Artigo desenvolvido por Pe. Cleidson Pedroso Souza – Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe