O poeta Fernando Pessoa chamou o Padre Antonio Vieira de “imperador da Língua portuguesa”. Foi um literato de raciocínio engenhoso, missionário, historiador, diplomata: não só erudito, mas também sábio.
Nascido em Lisboa, com 6 anos de idade, veio com a família para o Brasil. Radicado na Bahia, ingressa no colégio jesuíta de Salvador. Em 1634 é ordenado padre tornando-se um grande orador. Seus sermões o tornaram famoso em todo o reino. Sua obra escrita, de modo especial seus 200 sermões, está impregnada de sabedoria, nela ele aborda temas históricos e políticos de forma magistral. Fascina o seu estilo, o domínio da língua, mas, sobretudo, a exposição da fé que impele à prática da caridade.
Foi homem de estudo, de erudição e de ação, que enfrentou com muita coragem as vicissitudes da vida. Morreu em Salvador da Bahia em 1697. Suas atividades no Brasil dizem respeito à defesa da liberdade dos indígenas, à invasão holandesa e o empenho pelo desenvolvimento do País.
São inúmeros os temas abordados em seus sermões entre os quais um dos mais famosos talvez seja o sermão da Sexagésima de 1655. Porém em um deles, há um tema utilíssimo, um tanto fora de moda, que chama a atenção. Trata-se da “omissão”, que ele aborda no sermão do primeiro domingo do advento no ano de 1650. Omissão que é o ato ou efeito de não fazer o que moral ou juridicamente se deveria fazer, e de que resulta, ou pode resultar prejuízo para terceiros ou para a sociedade. O sermão tem como eixo o juízo final, cito a seguir um parágrafo referente à omissão dos governantes.
“Sabei cristãos , sabei príncipes, sabei ministros, que se vos há de pedir estreita conta do que fizestes; mas muito mais estreita do que deixastes de fazer. Pelo que fizestes se hão de condenar muitos, pelo que não fizeram todos. As culpas porque se condenam os Reis são as que se contêm nos relatórios das sentenças: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno. E por quê? Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, porque não recolhestes, não visitastes, porque não vestistes (Mt 25, 42-42)’. Em suma, que os pecados que ultimamente hão de levar os condenados ao inferno, são os pecados de omissão. Não se espantem os doutos de uma proposição tão universal como esta; porque assim é verdadeira em todo o rigor da Teologia… A omissão é o pecado que com mais facilidade se comete, e com mais dificuldade se conhece; e o que facilmente se comete e dificultosamente se conhece, raramente se emenda. A omissão é um pecado que se faz não fazendo: e pecado que nunca é má obra, e algumas vezes pode ser obra boa”.
A omissão em relação à educação provoca fatos trágicos em nosso meio, como a superlotação dos presídios, sendo a maioria de jovens pardos e negros, constando que 90% não terminaram o ensino médio.
Assim sendo, a omissão segundo Vieira, tão alastrada em nosso meio e ampliada pelo famoso “jeitinho brasileiro” se torna mais grave do que fazer o mal. Pois permite o mal no lugar do bem que se devia fazer e não faz!
*Artigo de Dom Pedro Cipollini para o jornal “Diário do Grande ABC”