Diocese de Santo André

Indulgência aos fiéis defuntos: como?

Uma situação cotidiana

Imagine-se na seguinte cena. Você tem uma estima muito elevada por uma pessoa, são bons amigos, se não os melhores amigos que alguém já possa ter visto, um compartilha tudo com o outro, sabe bem ler os sinais das ações do outro, sabe perceber quando um está bravo apenas por uma olhada. A amizade de vocês é tão forte que não precisa de cercas, regras nem limites para que aconteça, há muita liberdade de maneira positiva entre vocês. Num dia, você percebe aquele que era seu melhor amigo está se tornando distante, frio, pouco empático, as conversas não fluem mais, ele não pede mais seus conselhos nem gasta horas a fio conversando contigo no final de semana. E tudo isso do nada, sem motivo aparente.
Você, incomodado com essa situação, resolve conversar com seu grande amigo, pois sua estima é tão grande que não quer perder essa união fraterna. Vocês se encontram, conversam e você percebe que não há motivo, apenas seu amigo quis de afastar de você, sem mais nem menos. E essa decisão dele é livre e consciente. Você insiste, acabam discutindo, mas nada faz reatar a amizade.
Passado algum tempo, seu amigo então decide voltar a amizade contigo. Você obviamente fica com o pé atrás, não quer se decepcionar mais uma vez, mas não quer perder de maneira definitiva essa amizade. Mais uma vez, reúnem-se e conversam sobre a situação, esse amigo inclusive lhe pede perdão, reconhece que errou, e decidem zerar essa história, voltar ao que era. De fato houve perdão entre vocês, mas parece que a essa amizade insiste em estremecer, não é mais como era antes. E vocês sabem que precisam fazer alguma coisa para reaver aqueles pontos fundamentais da amizade que foram abalados.

O que indulgência tem a ver com isso?
O leitor pode já ter se questionado neste ponto onde quero chegar com essa situação cotidiana. Há uma amizade firmada entre Deus e cada um dos homens. De fato, as pessoas escutam a Palavra de Deus, rezam com ela, pedem-lhe a graça, aceitam ser conduzidos por ela. Contudo, a sensação de controle, domínio exagerado de si próprio leva à soberba, que é o princípio de todos os pecados, e o homem recusa livremente a amizade com Deus. Nisto consiste o pecado, uma recusa livre e consciente do amor a Deus, aos irmãos e a si mesmo. Nossa relação com Deus é de amizade profunda. Jesus mesmo não nos chama por servos, mas amigos (cf. Jo 15,15), ou seja, Deus quer nos dar tudo o que ele possui, a vida divina, e nos oferece os meios necessários para isso. É sempre Deus quem dá o primeiro passo nessa amizade. Quando recusamos essa amizade com Deus, pecamos. Se reconhecemos nossa recusa, Deus retoma conosco seu diálogo de amor, pois abrimos nosso coração para a graça dele agir em nós. Ao retornar esse diálogo, há o perdão sacramental, a restituição do estado de graça. Vida nova! Contudo, para reatar de maneira fervorosa a amizade com Deus e apagar as penas daquele pecado perdoado, a Igreja oferece aos fiéis, apoiada na antiquíssima Tradição, as chamadas indulgências. Elas são, no fundo, aquele alguma coisa para reanimar os pilares dessa amizade abalada.

Deus nos perdoa da culpa, somos justificados por Deus através dos méritos de Jesus Cristo. Inclusive o presbítero na fórmula da absolvição diz “Deus, Pai de misericórdia, que, pela morte e ressurreição de seu Filho, reconciliou o mundo consigo e enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda, pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. E Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Não seremos mais condenados pelos nossos erros contra Deus, contra si mesmo nem contra os irmãos. Contudo, nossos erros são voluntários e quão mais conscientes estamos, mais responsáveis por eles somos. E isso não se deve a uma vingança de Deus, mas está presente na própria natureza do pecado. Nisto consiste o Purgatório: conforme a tradição católica, é um estado de purificação para aqueles que morreram na amizade com Deus, mas ainda sem cumprir a pena devida de suas faltas. A indulgência justamente apaga a pena do pecado e faz a alma entrar na glória celeste.

Quem recebe as indulgências?
Para lucrar as indulgências, o papa São Paulo VI definiu algumas normas gerais na Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina. É possível obter os dois tipos de indulgências por práticas de piedade distintas. As indulgências plenárias apagam toda pena temporal, enquanto as parciais, como o próprio nome diz, apagam parte da pena.
Além de remir diante de Deus as penas temporais dos pecados perdoados, as indulgências são obras de misericórdia, e portanto aumentam em nós a graça de Deus que nos dá forças para resistir as tentações e não ceder a concupiscência. “A Igreja não quer somente vir em ajuda deste cristão, mas também incitá-lo a obras de piedade, penitência e caridade” (CIC 1478).
É possível lucrar as indulgências por si mesmo, mas também pelos falecidos, através dos méritos de Cristo e dos Santos, afinal o fiel batizado vive em comunhão com Deus, mas vive também em comunhão com os irmãos vivos e mortos, e nisso consiste a comunhão dos santos, que é a crença de que estamos todos unidos pelo vínculo do Amor: Deus, aqueles que já o contemplam na Eternidade, aqueles que ainda purgam suas penas, e nós.

Como consegui-las para os falecidos?
“Uma vez que os fiéis defuntos, em vias de purificação, também são membros da mesma comunhão dos santos, nós podemos ajudá-los, entre outros modos, obtendo para eles indulgências, de modo que sejam libertos das penas temporais devidas pelos seus pecados” (CIC 1479).
Segundo a norma 15 da Constituição Apostólica de São Paulo VI, em todas as igrejas pode-se ganhar a indulgência do dia 2 de novembro, que só pode ser aplicada aos defuntos.
Assim, ao participar da Santa Missa no dia de Finados e rezar pelo falecido é possível lucrar para ele a indulgência plenária. Existem algumas ações que precisam ser feitas para lucrá-las:

  1. a) Confissão sacramental no máximo quinze dias antes ou após lucrar a indulgência;
  2. b) comungar o Corpo do Senhor eucarístico;
  3. c) desapegar-se de todo desejo de cometer qualquer pecado, inclusive os veniais;
  4. d) rezar nas intenções do Santo Padre, o Papa Francisco, e por ele – pode-se rezar um Creio, um Pai Nosso e uma ave maria, ou ainda outras orações, conforme a piedade e devoção do fiel.

Rezar pelos mortos, ainda mais com o intuito de lucrar indulgências a eles, é uma grandiosa obra de misericórdia espiritual. Seria bom se todos nós, católicos, fizéssemos o necessário para obter a estes irmãos falecidos a indulgência plenária, a fim de aliviar seus sofrimentos e fazê-los, pela graça de Deus, entrar no Reino Celeste.

* Artigo por Seminarista Cauê Ribeiro Fogaça

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