Jesus Cristo é o “sol de justiça”(Mal 4,2) anunciado pelo profeta. Ele mesmo disse: “eu sou a luz do mundo”(Jo 8,12;9,5). Natal é para nós festa da luz, a luz de Cristo que se manifestou à humanidade: “O povo que estava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,2).
O Natal é luz porque traz esperança. Esperança em primeiro lugar para os pobres. Os Evangelhos nos relatam que os pobres pastores foram os primeiros a serem convidados a visitar Jesus, na gruta de Belém envolta em luz.
O natal comemora o nascimento histórico de Jesus. Tornando-se um de nós Jesus o Filho de Deus vem fazer a experiência da com-paixão na solidariedade humana. É a kenose (abaixamento) que vai até à morte na qual inicia-se seu retorno para o Pai.
Diante da grandeza do mistério de Deus encarnado, a atitude pode ser de admiração, louvor, agradecimento e contemplação. O natal se tornou com o transcorrer do tempo, uma festa litúrgica, civil, popular e comercial. Qual destas características do natal você acentuará mais?
Existem dois modos de ver o natal. De um lado os que se fixam na poesia e beleza do presépio onde a alegria, simplicidade e os presentes são ressaltados. De outro lado existem os que se fixam mais na mensagem natalina que nos passa o Evangelho, o qual acentua mais a mensagem de justiça, fraternidade e paz. É este segundo olhar que os sinais dos tempos nos convidam a ter.
É Natal! Por um instante vivemos um momento mágico de ternura e alegria. Mesmo quem não sabe ao certo se Natal é festa de Jesus ou se é festa do Papai Noel, sente-se tocado. O Natal é hoje uma festa universal de várias religiões. A noite se iluminou. Ao redor de uma criança o mundo gira em seu eixo agora reencontrado. Tudo que não é bondade perde seu sentido. Emerge das profundezas de um mundo de pecado, a certeza de que há primeiro uma inocência original que pode ser constatada na gruta de Belém.
No presépio José e Maria adoram o menino Jesus. Nele, Deus sai de sua onipotência, entra na fragilidade humana. Deus é amor e o amor sente necessidade de se comunicar. Como é Deus que ama primeiro, Ele se comunica conosco em Jesus, o qual é a imagem do Deus vivo. Esta comunicação se dá na fragilidade de uma criança, para que ninguém tenha medo ou se sinta excluído.
O menino que nasce em Belém traz uma mensagem: tudo tem sentido! A miséria de nosso mundo visitado por Deus neste menino, tem uma saída. Tudo terminará bem, pois, agora, Deus mesmo faz parte da humanidade.
Olhando a imagem do menino Jesus no presépio, tão bonito aqui na Catedral Nossa Senhora do Carmo, penso nas crianças. Sempre foi difícil ser criança, hoje talvez o seja mais. Não há acolhida para as crianças. Muitos casais comemoram como uma vantagem o fato de não terem filhos. Volta e meia narram-se dramas envolvendo crianças.
Para educar a criança é necessário paciência, energia, não maltratar, nada de violência. Mas também, não sufoca-la com um amor que, às vezes, é sentimento de culpa. Aqui no Grande ABC, segundo dados recentes de janeiro a julho de 2019, a mortalidade infantil atingiu 678 crianças. A correria e o trabalho não permitem a muitos pais dar à criança a atenção que ela tem direito, mas o amor sabe fazer o impossível. Não se deve desanimar diante da tarefa de educar, mas assumir a missão.
Vamos celebrar o Natal, que este celebrar ultrapasse o saber e o refletir para se tornar uma abertura do coração. Abertura ao mistério. Para celebrar, deixemos de lado todo medo para mergulharmos na alegria. É essa, aliás, a mensagem dos anjos: “Não tenham medo, anuncio-vos uma grande alegria: nasceu Jesus salvador!”
No Natal vamos deixar transparecer a criança que cada um carrega no seu interior. Procuremos ser bons e fazer de cada pessoa um próximo e de cada próximo um irmão.
Abraço a você que chegou até aqui nesta leitura , em especial aos meus colegas do nosso querido DGABC, desejo um Feliz Natal!
* Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo de Santo André