Diocese de Santo André

Pe. José Raschele: Uma vida de coragem dedicada a Deus

José (Giuseppe) Raschele nasceu em 5 de dezembro de 1923, na pequena comuna de Mori, que hoje tem cerca de 9 mil habitantes, na província de Trento, norte da Itália. Filho de Johann (Giovanni) Raschele, um marinheiro do exército da Áustria e de Dalia Bisoff, que já fora cozinheira do imperador Francisco José da Áustria.

Como a história de alguém sempre começa com a história dos pais, vamos a eles: Os pais se conheceram no tempo que se sucedeu à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e após se casarem foram para a terra de Dalia, a Áustria, chegando à casa que fora atingida pela guerra. Depois foram morar em Merano, na Itália. A formação do futuro sacerdote foi como a de muitas crianças, de ontem e de hoje. Fez o primário, que naquele tempo tinha também uma preparação para os serviços na agricultura. Estudou o ginásio em Trento.

 

A guerra

Em 1943 veio um triste convite, a convocação para a Segunda Guerra Mundial. A princípio José serviu em Trento mesmo, mas depois foi transferido para Atenas, na Grécia. Em Atenas desempenhou o serviço de telefonista, mantendo os contatos entre a Itália e a Alemanha. Lá permaneceu seis meses. Na Grécia pode aprender um pouco da língua grega. Num dado momento, as antigas aliadas começaram a combater: Itália de Mussolini e a Alemanha de Hitler, nesse combate José teve de ir ao front, ali permanecendo por dois dias, até ceder e no dizer dele: “levantar os braços”, na guerra isso significa render-se.

Ao render-se ele foi preso pelos alemães na Ilha de Rodes. Diferentemente do triste destino de muitos prisioneiros alemães, sua reclusão foi feita serviço: foi obrigado às funções de telefonista e de cozinheiro, em diversos momentos, por dois anos, na Ilha de Rodes. A beleza da Ilha de Rodes compensava a feiura da guerra, que muito marcou a vida deste soldado e o fez tomar decisões sérias no futuro.

Quando da derrota da Alemanha, em 8 de maio de 1945, os prisioneiros foram libertados e José voltou para a casa dos pais. Nesse tempo Johann tinha uma ferraria, atividade que José assumiu para recomeçar a vida, junto ao pai.

Pouco tempo depois ele encontrou-se com uma irmã, que morava na Suiça, e foi morar lá também.

 

Vocação

O chamado vocacional dos cristãos começa no batismo, ali Deus derrama a sua graça sobre cada filho, a pessoa toma consciência disso ao longo da vida, no caso de José isso se deu num hotel. Num hotel da Suíça era celebrada a missa e José auxiliava o padre. Por este préstimo, o padre, reparando em uma inclinação ao sacerdócio, questionou o jovem, se ele já pensara nisto.

Num diálogo com Deus a resposta afirmativa veio e José fez uma exposição sobre um assunto em francês, o que lhe serviu de vestibular para estar no seminário e na Universidade de Friburgo, também na Suíça. A Congregação escolhida foi a dos padres saletinos (Missionários de Nossa Senhora da Salete), que tem como carisma atender a reconciliação das pessoas com Deus. Foi ordenado diácono no início de 1956 e presbítero no dia 22 de julho de 1956, por Dom Francisco Charière, bispo de Lausanne, Genebra e Friburgo, no dia em que nossa diocese comemorava seu segundo ano de criação. Com ele foram ordenados 33 padres.

A primeira missa foi celebrada na Igreja de São Nicolau (Nikolas), em Merano, Itália, quatro dias depois. O princípio de ministério foi exercido num dos menores países do mundo, até hoje: Liechtenstein, na paróquia de Triesen, entre 1956 e 1957. Na Cúria de Santo André descreveu-se Suíça. De lá, também às vezes, era enviado à Genebra para pregar ao povo, geralmente em francês.

 

Ide pelo mundo inteiro…

Em 1957 foi transferido para Roma, onde exerceu a função de diretor espiritual do escolasticado (etapa da formação religiosa) dos Missionários de Nossa Senhora da Salete, onde ficou até o ano seguinte.

Em Roma, Pe. Raschele teve a grande alegria de ter um contato bem próximo com o Papa Pio XII (Eugênio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli), que acompanhava de perto a formação dos sacerdotes.

A vinda para a América Latina deu-se por intermédio do Papa, que em certa ocasião, tendo muitos padres reunidos em Roma, pediu de coração que corajosos missionários fossem para a América Latina, que agonizava pela escassez de clero (o que a Conferência Episcopal Latino-Americana do Rio de Janeiro, em 1955, já afirmara). Padre Raschele foi um dos primeiros a pedir esse benefício aos superiores e tão logo se viu a bordo do navio Augustus, da Sociedade de Navegação de Gênova, em 26 de novembro de 1958.

Pela primeira vez cruzaria o Atlântico, rumo à Argentina, primeira terra americana a acolhê-lo. Foi para a Arquidiocese de Santa Fé, no centro do país. Dom Nicolás Fasolino, arcebispo de Santa Fé, o enviara à Paróquia Nossa Senhora da Salete, nessa mesma cidade, onde permaneceu por alguns meses, tendo, porém de regressar por problemas com o passaporte. Da Argentina veio para o Brasil, onde esteve de 1959 a 1964, na Paróquia de Sant’Ana, na Zona Norte de São Paulo, pastoreada naquele tempo pelo cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta.

De São Paulo, foi transferido para a Alemanha, em Stuttgard, onde era pároco de comunidades estrangeiras: portugueses, espanhóis e italianos, função esta que exercera entre 1964 e 1965.

 

Diocese de Santo André

Um ano antes, chegara a Rio Grande da Serra um grande amigo do Pe. Raschele, de nome Pe. Erwin Kauffmann, suíço. Pe. Erwin foi o segundo vigário ecônomo da Paróquia São Sebastião, mas o primeiro a morar em Rio Grande. O Mons. Jerônimo Noviello, na carta que substitui o Ato de criação da paróquia (desaparecido), o denomina como “corajoso”. Pe. Erwin convidou o Pe. Raschele a passar uns dias e conhecer Rio Grande. Pe. Raschele atendeu o pedido do amigo, mas não contava encontrar uma figura que o faria, no bom sentido, ficar aqui e fincar raízes na diocese. Dom Jorge Marcos de Oliveira fez todo o possível pela incardinação do Pe. José Raschele, e conseguiu, em 7 de janeiro de 1965, com as seguintes palavras de uma carta: “Eu, subscrito, bispo da Diocese de Santo André no Brasil, em virtude da presente, para o seu conhecimento, pelas normas do direito canônico, cânone 641 parágrafo 2, pura e simplesmente, admito à incardinação, de todo o coração, na nossa Diocese, o reverendo senhor José Raschele, missionário da Congregação de Nossa Senhora da Salete”. Já diocesano, Padre Raschele pode auxiliar o Pe. Erwin como vigário substituto e destacou-se pela assistência social na pobre cidade que mal acabara de se emancipar. Para conseguir recursos ele não media esforços de ir pedir nas Indústrias Eletrocloro e Solvay do Brasil. Alguns anos depois, trabalho semelhante seria impulsionado pelo Pe. José Pisoni, nas palavras de Pe. Raschele um “santo homem”.

 

Quem bebe da água do ribeirão apaixona-se por ela…

Em 9 de fevereiro de 1968, Dom Jorge nomeia o Pe. José Raschele Vigário Ecônomo da Paróquia Santa Ana, em Ribeirão Pires, função que exerceu até 2011, doando seus dias ao povo de Deus desta paróquia por 43 anos.

Em Ribeirão Pires, padre Raschele manteve ou construiu diversas igrejas: a nova Sant’Ana, São Francisco de Assis, Santa Rita, Sagrado Coração de Jesus, nova Santa Luzia, Nossa Senhora Aparecida da IV Divisão.

 

De um bom padre vêm muitos outros

Desta paróquia foram enviados ao seminário diversos vocacionados, dentre eles muitos hoje padres: Pe. Décio Dias Mirândola, Pe. Joel Cipriano do Rego, Pe. Ademir Santos de Oliveira, Pe. João José de Souza, Pe. Antônio Becker Ferreira, Pe. Vagner Franzini.

*Artigo escrito pelo pe. Hamilton Gomes do Nascimento, em 2013, por ocasião dos 90 anos do Pe. José Raschele

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