Diocese de Santo André

História do Canto Gregoriano: importância, cursos e presença nas igrejas e celebrações

A série especial História do Canto Gregoriano da Diocese de Santo André se encerra neste domingo (20/09) com o terceiro e último capítulo que apresenta a importância, a prática, os cursos e onde podemos encontrar essa tradição nas igrejas e celebrações no Grande ABC, no Estado de SP e no Brasil.

O texto e as análises são frutos da pesquisa do maestro do Coral Diocesano, Diego Muniz, que é mestrando em música pela USP, bacharel em regência pela UNESP, tendo regido, entre outros, a Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo, Pro Coro do Canadá e Vancouver Chamber Choir.

Embarque conosco nesta grande viagem o conhecimento com muita cultura, história e espiritualidade:

Importância do Canto Gregoriano

Diversos documentos da Igreja (tanto da Santa Sé, quanto da CNBB) afirmam categoricamente que o Canto Gregoriano é o canto oficial dela.

A Constituição Sacrosanctum Concilium de 1963 (documento que determina as diretrizes da liturgia após o Concílio Vaticano II) em seu número 116 afirma que “A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o Canto Gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar”.

A Instrução Musicam Sacram, de 1967, sobre a música na Sagrada Liturgia explicita ainda mais a importância do Canto Gregoriano na liturgia onde no número 52 descreve que “Se deve promover o estudo e o emprego do Canto Gregoriano, porque por suas características constitui um fundamento de grande importância para o cultivo da música sacra”.

Por fim, o Estudo no. 79 da CNBB, de 1998, em seu número 346 incentiva o uso do Canto Gregoriano dizendo que “Em algumas comunidades, cantos gregorianos simples (silábicos) poderiam ser executados pela assembleia, tais como: Kyrie, Sanctus, Veni Sancte Spiritus, Victimae Paschali Laudes etc” e enfatiza ao final do mesmo que “a Abadia Beneditina de Solesmes, na França, publicou o Graduale Simplex, com melodias em estilo silábico para uso da assembleia”.

Prática do Canto Gregoriano

Apesar da Igreja deixar notória a importância do Canto Gregoriano como seu patrimônio (e devemos lembrar que o mesmo é considerado também um Patrimônio da Humanidade, por meio de manuscritos milenares preservados e resguardados em diversas bibliotecas europeias) e canto oficial, pouco se tem feito para que ele seja promovido e colocado no lugar que lhe é de direito.

“Elencando alguns fatores primordiais que geram um círculo vicioso que jogam contra a posição da Igreja em relação a este canto, considero que a falta de uma consistente formação musical nos seminários diocesanos e a escassez de músicos que servem à Igreja com sólido e sério estudo litúrgico e musical (ambos os casos a realidade está em desacordo com o que determina o número 115 da Constituição Sacrosanctum Concilium) levam à inexistência de “mão-de-obra” no clero e nos leigos que possa apresentar à assembleia este tipo de repertório nas Celebrações Eucarísticas”, entende Diego.

O maestro do Coral Diocesano acrescenta: “No entanto, com base em um relato pessoal, percebo uma movimentação pequena e gradativa no que se refere à busca de conhecimento deste Canto por parte de músicos e de interessados na matéria.”

Segundo Diego, um caso que ilustra esta percepção se deu em julho de 2017, por ocasião da realização do I Studium de Canto Gregoriano e Órgão promovido pela PUC Campinas, CEMULC (Curso de Extensão em Música Litúrgica da Arquidiocese de Campinas) e Pateo do Collegio, onde, em um fim de semana, cerca de 400 pessoas de todo o Brasil se reuniram para estudar o assunto com especialistas da matéria vindos do Vaticano para palestrar (Mons. Marco Pavan, brasileiro, atual maestro do Coro da Capela Sistina e Josep Solé Coll, organista titular da Basílica de São Pedro).

Cursos

Diego ressalta que atualmente em SP temos alguns poucos, mas substanciais cursos de Canto Gregoriano para quem desejar se especializar na área: na UNISAL, há esta disciplina no curso de pós-graduação em Música Litúrgica, e no CEMULC dois cursos em modalidade online, que apresentam tanto a Introdução ao Canto Gregoriano quanto Interpretação, Semiologia e Modalidade. Estes últimos seguem o programa da AISCGRE (Associação Internacional de Estudos de Canto Gregoriano) e do Pontifício Instituto de Música Sacra e todos eles são ministrados pelo Prof. Dr. Clayton Dias.

“Além desses, cursos no Mosteiro de São Bento da capital paulista, do Instituto Monfort ou disponibilizados pela internet como o site O Som da Palavra também são possibilidades para quem busca conhecer este repertório”, complementa o maestro.

Presença nos mosteiros

Como citado no início do texto, o Canto Gregoriano (ou inspirado no Gregoriano) ainda é ouvido principalmente em Mosteiros. “Dentre eles que me vem à mente e posso destacar são os Beneditinos de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Vinhedo (SP) e da Ressurreição em Ponta Grossa (PR); no Pateo do Collegio, em São Paulo, cantado por sua Schola Cantorum; na Catedral de Campinas (SP) nas missas cantadas pelo Coro daquela Arquidiocese; em Piracicaba (SP) por iniciativa da Schola Cantorum Sancte Michael Archangele; na Igreja do Rosário dos Homens Pretos e na Catedral de Belém (ambas no PA); na Capela Nossa Senhora da Glória de Curitiba (PR) e certamente em muitas outras igrejas que não temos o mapeamento no momento para enumerá-las”, conta o maestro.

Na Diocese de Santo André

Em sua pesquisa, Diego Muniz afirma que em nossa Diocese é pouca ainda a prática, estudo e difusão do Gregoriano. Entretanto, personagens como o maestro Eduardo Soares, que em agosto de 1999 fundou a Schola Cantorum do ABC e a dirigiu até 2008, desde 2001 conduz o coro Chórus Dóminisediado na Capela do Divino Espírito Santo (pertencente à Paróquia São João Batista – Região São Bernardo – Rudge Ramos) onde seu maior projeto tem sido adaptar as melodias gregorianas às traduções em português em um trabalho litúrgico e didático sobre o Canto Gregoriano e a Liturgia das Horas, fazendo com que as pessoas descubram e valorizem este rico tesouro sacro ao mesmo tempo que tira a barreira da língua latina para os que colocam isto como empecilho para o uso deste repertório na liturgia em nossa Diocese.

Este coro tem cantado diversas missas e ofícios, em latim e português e almeja em um futuro gravar a missa ordinária cantada integralmente nas duas línguas.

Ainda sobre a Schola Cantorum do ABC, que hoje está sob a regência do maestro Marco Calil, ela se reúne para ensaiar na Paróquia São José Operário, em Santo André, e tem cantado missas dentre as quais a do Padroeiro São José presidida por Dom Pedro Cipollini em 2019, na Paróquia São Vicente de Paulo, em Mauá, e em encontros e reuniões ecumênicas.

Além dessas iniciativas, temos na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Santo André, um trabalho estável há dois anos onde ensaiam toda semana e usam o repertório completo na missa. Padre Jefferson Pimenta de Paula me relatou que o grupo é muito perseverante e que progridem bastante participando de cursos que ocorrem anualmente no Ipiranga. Ele observa também a comoção que sente ao ouvir o povo cantando em voz forte a parte do Kyriale.

“Tenho pessoalmente, como maestro do Coral Diocesano de Santo André e sem pretensão ou desejo de ser um especialista em Canto Gregoriano, introduzido algumas peças do gênero e melodias inspiradas nele nas missas que o Coral tem cantado além do repertório a várias vozes que é a especialidade do grupo”, salienta Diego.

“Neste período de pandemia no qual tenho assumido em nossa Catedral Diocesana, as missas dominicais presididas por nosso Bispo Diocesano e tendo em mente o papel de exemplo musical e litúrgico que a Catedral deve ter em relação às outras igrejas da Diocese, tenho primado por inserir cantos que ou sejam Gregorianos, ou inspirados nele ou que tenham uma estética que leve à assimilação do mesmo, de forma que o texto esteja em primeiro lugar (texto este, obviamente, que está de acordo com a liturgia celebrada naquele dia) e não a música, que propicie a resposta da assembleia, que o órgão tenha um papel de sustentar o canto e não seja um protagonista na música e, finalmente, que a música utilizada naquela ocasião seja digna do templo, que eleve as orações e favoreça a edificação dos fiéis”, finaliza.

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