O bispo da Diocese de Santo André, Dom Pedro Carlos Cipollini, participou na noite de quinta-feira (04/02) de entrevista ao Jornal J+ da TV+ (Net/Claro 527). No bate-papo com o jornalista Joaquim Alessi, o bispo diocesano destacou a importância de vivenciar o luto como forma de completar um ciclo neste mundo.
A conversa se baseou, sobretudo, a partir da repercussão do artigo escrito por Dom Pedro: “Precisamos falar dela” (Leia na íntegra) numa abordagem sobre o sentido da morte ser um tabu na sociedade atual. “De forma que é preciso falar da morte numa perspectiva positiva, também. Então, a morte é uma realidade assustadora, trágica, quando se pensa como os tempos de antigamente, que a vida terminava com a morte. Mas aos poucos, a humanidade foi percebendo que a vida continua, mesmo antes da época do Cristianismo já se começava a ter esse pensamento”, elucida. “Importante viver o luto. Se diz que a pessoa que não faz o luto dos entes queridos não fica bem. Alguém que conviveu com a pessoa, mas não vivencia a morte, deixa inacabado o teu relacionamento com a pessoa, como se deixasse alguém sem ser sepultado, psicologicamente falando”, revela.
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Ciclo completado
Dom Pedro prossegue: “Por isso, a vivência do luto é muito importante. Todas as culturas antigas tinham noção disso. Os povos etruscos que deram origem à cultura romana, e até hoje existem as pinturas nas tumbas e tal. Mas a nossa cultura rejeita. Parece que hoje ficar doente é um pecado, tem que pedir desculpa. Se morre, então, tem que pedir mil perdões. É um transtorno. Querem enterrar o mais rápido possível por causa dos gastos. Tudo gira em torno do dinheiro”, analisa. Segundo o bispo, com isso a vivência da realidade, da vida e da morte, fica prejudicada. “Isso tem um custo psicológico. Não é à toa que aumentam muitos os casos de desequilíbrios psicológicos, problemas, angústias, tristezas. Em muitos casos é a falta de completar um ciclo de relacionamento com a pessoa”, pondera.
“É preciso que se tenha a memória da pessoa viva e morta, porque se completou um ciclo, e isso estamos perdendo. A vida não termina com a morte. A morte é uma passagem. A vida não é tirada, mas transformada”, reitera.
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Proposta de celebração online
Dom Pedro ainda salientou sobre as dificuldades da despedida em tempos de pandemia. “Isso mostra que para alguns faz falta. É natural que haja essa dificuldade, para se evitar aglomerações. Estamos impossibilitados de fazer o luto, mas penso que deveríamos fazer alguma coisa”, comenta. Então, o bispo diocesano propôs a articulação de uma celebração virtual em breve, a ser transmitida pelos meios de comunicação do Grande ABC, com a participação do poder público e de entidades da sociedade civil das sete cidades da região, como forma de levar conforto ao povo e também ser um espaço onde familiares e amigos manifestariam seu apreço e estima pelas pessoas falecidas.