Circula pela rede uma narrativa intitulada “Por toda eternidade”, fala de um gesto de solidariedade do Jogador de futebol Falcão, em relação ao poeta Mário Quintana, ambos residiam em Porto Alegre. O jogador num gesto de solidariedade teria acolhido o poeta, sem dinheiro e despejado do local onde morava. A narrativa é comovente, embora haja dúvidas se o fato tenha se passado com os detalhes relatados. De tudo, fica a veracidade do ato de solidariedade praticado pelo jogador Falcão.
Para falar de solidariedade não precisamos ir muito longe. Aqui mesmo no ABC, a poucos dias faleceu Dona Cotinha, aos 93 anos, no Parque São Bernardo. Foi exemplo de solidariedade, preocupação com o próximo, em especial os pobres. Ela ajudava e envolvia as pessoas para ajudarem, a começar de seus filhos. Mulher abençoada, gigante na simplicidade da fé traduzida em obras, pois “a fé age pela caridade” (Gl 5,6).
Em um mar de egoísmo e individualismo, no qual a sociedade parece regredir a tempos passados, temos estes exemplos luminosos. É incrível constatar que poucas pessoas, se enriquecem na atual situação que vivemos. E a maioria se empobrece. Nosso sistema econômico e social que havia logrado algum progresso, parece regredir: ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres. Esta é a chaga da sociedade brasileira.
Não há outro remédio a não ser a solidariedade. É preciso repetir sempre. O futuro passa pela solidariedade ou não haverá futuro. A Solidariedade converte em direito o que a caridade dá como favor, escreveu José Ingenieros, médico ítalo-argentino. A caridade sempre será necessária, e faz parte dela lutar para que haja leis justas que favoreçam a solidariedade. Heinrich Pesch, padre jesuíta alemão, economista e filósofo (1854-1926), vai articular o “Solidarismo”. Este movimento propõe o primado da pessoa e a importância da comunidade na construção de uma sociedade justa e fraterna.
O papa Francisco lembra-nos a importância da solidariedade para superarmos o momento atual: “Ou seguimos em frente pelo caminho da solidariedade ou as coisas irão piorar. Quero repetir: de uma crise não se sai como antes. A pandemia é uma crise. De uma crise, sai-se melhor ou pior. Temos que escolher. E a solidariedade é precisamente o caminho para sair melhores da crise”.
Na atualidade, o princípio de solidariedade torna-se mais do que nunca necessário, pois mesmo vivendo numa mesma “aldeia global”, onde tudo está interligado, nem sempre transformamos em solidariedade esta interdependência.
A humanidade é solidária num destino comum. A descoberta desta solidariedade é a grande conquista do século XX. Para não regredirmos é preciso que cada um faça sua parte, como Falcão e Dona Cotinha. São pessoas assim que constroem o futuro inclusivo, onde cabem todos.
Os egoístas e narcisistas que só pensam e si próprios e no interesse de seus grupos, desaparecerão como fumaça. Trabalham com a exclusão e por isso serão excluídos da história, e da vida eterna: “Apartai-vos de mim malditos! Ide para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos. Pois tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era estrangeiro e não me acolhestes; estava nu e não me vestistes, doente e no cárcere e não me visitastes” (Evangelho de Mateus 25, 41-43).
* Artigo por Dom Pedro Carlos Cipollini