Mais de um ano se passou desde o início da pandemia do novo coronavírus. De lá para cá, a Covid-19 já ceifou a vida de mais de 300 mil brasileiros. Foi neste contexto, há um ano, que entidades assinaram e apresentaram no dia 7 de abril de 2020, em referência ao Dia Mundial da Saúde, o Pacto pela Vida e pelo Brasil, buscando uma ação propositiva para a “grave crise” enfrentada pelo Brasil – sanitária, econômica, social e política.
O Pacto afirma que a realidade exige de todos, especialmente de governantes e representantes do povo, o exercício de uma cidadania guiada pelos princípios da solidariedade e da dignidade humana, assentada no diálogo maduro, corresponsável, na busca de soluções conjuntas para o bem comum, particularmente dos mais pobres e vulneráveis.
O documento propõe ainda que entre em cena no Brasil “o coro dos lúcidos, fazendo valer a opção por escolhas científicas, políticas e modelos sociais que coloquem o mundo e a nossa sociedade em um tempo, de fato, novo”. O Pacto foi assumido inicialmente por quatro organizações e assinado por mais de 100 organizações brasileiras. Confira a íntegra do Pacto pela Vida e pelo Brasil.
“Somos conclamados a dar passos significativos de uma nova cultura: a cultura da proteção, promoção e defesa da vida em todos os sentidos. Temos que nos conscientizar que a vida humana não pode existir sem a proteção da vida das águas, sem a vida da terra, sem a vida dos micro e macro organismos. Se continuarmos matando a terra, estaremos nos condenando a morte, a nós mesmos”, afirma o documento.
O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, em diversas ocasiões já havia afirmado que a CNBB assinou o Pacto pela Vida e pelo Brasil impulsionada por sua fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo, fonte inesgotável da luz da verdade, luz indispensável para clarear caminhos e rumos novos que a sociedade brasileira precisa, com urgência, para construir um novo tempo.
Segundo ele, a missão evangelizadora da Igreja, no rico e interpelante horizonte de sua Doutrina Social, não se exime na tarefa de, em cooperação com segmentos da sociedade civil, no que lhe é próprio e devido, ajudar a superar injustiças e discriminações para com os pobres e vulneráveis, defesa dos direitos e promoção da justiça, apoio à democracia e contribuição na conquista do Bem comum. “A Igreja assim o faz, estando no coração do mundo solidária, na força do testemunho do Reino de Deus, a caminho”, afirmou.
Mas, em um ano de existência do Pacto, o que mudou?
Segundo o bispo de Lages (SC) e presidente do Grupo de Trabalho (GT) do Pacto pela Vida e pelo Brasil, dom Guilherme Antônio Werlang, em um ano de existência do Pacto muitas coisas boas já aconteceram por meio da pressão exercida, tanto pelas entidades signatárias como pela sociedade civil, sob os poderes constituídos. “Com isso conseguiu-se garantir a vacinação, a diminuição dos desastres ecológicos e políticas públicas mais eficientes”, afirmou o bispo.
Um dos desafios que ainda permanecem desde a apresentação do Pacto, segundo dom Guilherme, é a garantia do auxílio emergencial para as famílias. “Nós do Pacto pela Vida precisamos nos garantir, nos unir, para mobilizar a sociedade brasileira para reagir a essa política econômica e conscientizar os governantes de que a vida humana está acima do valor do mercado. Precisamos garantir que tenhamos uma política econômica voltada para a defesa prioritária da vida do brasileiro”, alertou dom Guilherme.
Outro desafio citado por dom Guilherme é a fragilização do Sistema Único de Saúde, o SUS, por parte do governo brasileiro. “O SUS é uma questão de política de Estado e não uma política de governo, de uma gestão. É o maior programa de saúde mundial e o mesmo está sendo fragilizado. É uma outra grande luta e desafio do povo brasileiro”, salientou.
Ainda, segundo dom Guilherme, as falsas notícias também merecem atenção quando o assunto é desafio. “Devemos desconstruir as falsas notícias, as falsas informações sobre o que poderia vir a acontecer com as vacinas para conscientizarmos aqueles que ainda são contra por causa de ideologias. Precisamos fazer uma mobilização nacional para que todo mundo vá querer se vacinar, é uma questão de ética”, reiterou.
A política ambiental preventiva é mais um dos desafios citados por dom Guilherme. “O centro-oeste brasileiro, especialmente as regiões do pantanal e do cerrado, vão começar a entrar na época da seca e tudo indica que poderão acontecer desastres ecológicos mais graves do que os do ano passado, caso não tenhamos uma política preventiva”, alerta dom Guilherme.
Próximos passos
O Grupo de Trabalho (GT) Pacto pela Vida e pelo Brasil irá dinamizar as ações e compromissos assumidos pelo Pacto. Segundo dom Guilherme, o grupo procurará fortalecer a articulação das entidades signatárias do Pacto e as mais de 100 organizações que aderiram a ele e com os princípios que defendem. Ao longo de 2021, o objetivo é o avanço nas propostas para o fortalecimento de um grande diálogo social pela vida e pelo Brasil.
O grupo é composto por cinco bispos, cada um representante de uma das grandes regiões do Brasil. São eles:
-
Centro Oeste – Dom Neri José Tondello, bispo de Juína (MT)
-
Leste – Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, bispo de Campos dos Goytacazes (RJ)
-
Nordeste – Dom Limacêdo Antônio da Silva, bispo auxiliar de Olinda e Recife (PE)
-
Norte – Dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima e segundo vice-presidente da CNBB
-
Sul – Dom Guilherme Antônio Werlang, bispo de Lages (SC), presidente do GT
Fonte: CNBB