Diocese de Santo André

Ódio, dor e medo

Caro leitor, leitora, inicio contando uma história ilustrativa da mensagem que desejo transmitir hoje. É uma história tirada da tradição judaica como tantas outras muito ilustrativas.

Quando Baal Chem Tov, o Mestre do Bom Nome, o rabino místico que fundou o hassidismo, tinha uma tarefa muito difícil diante de si, ou quando via uma desgraça prestes a abater-se sobre seu povo, ele ia se recolher solitário num certo local, no meio da floresta. Ali, ele acendia um fogo, meditava em oração e as orientações e inspirações de Deus chegavam. As desgraças se afastavam. O milagre acontecia.

Uma geração mais tarde, quando seu discípulo, o Maguid de Mezeritch, devia intervir junto aos céus pelas mesmas razões e problemas, ele ia no local, no meio da floresta, e dizia: “Senhor do universo, escuta-me. Eu não sei mais como acender o fogo, mas ainda sou capaz de dizer a oração.” E as orientações e inspirações de Deus chegavam e as desgraças eram afastadas. O milagre acontecia.

Na geração seguinte, o rabi Moisés Lev de Sassov, para salvar o povo das mesmas desgraças e ameaças, também solitário na floresta dizia: Eu não sei como acender o fogo; eu não sei mais rezar, mas eu ainda me lembro do lugar e isso deve bastar. As orientações e inspirações de Deus chegavam, as desgraças eram afastadas e o milagre acontecia.

E depois chegou a vez do rabi Israel de Rijine de afastar as ameaças e desgraças. Sentado em sua poltrona, no coração de sua sinagoga, ele punha a cabeça entre as mãos e dirigia-se a Deus: “Senhor do universo, eu sou incapaz de acender o fogo; eu não conheço mais a oração; eu não sou capaz de achar o lugar na floresta. Tudo o que eu sei fazer é contar esta história, e isto deve bastar”. Mas não sabemos o que aconteceu…

Ao longo do tempo foram se perdendo os ritos e valores que acompanhavam a piedade das várias gerações. Perdeu-se o rumo, as lembranças ficaram distantes, a incerteza tomou conta.

Assim acontece hoje. Na floresta em que vivemos, não se acende mais o fogo da paz que ilumina, não se faz a oração da fé e do amor que trazem alegria, não se lembra mais do lugar de Deus em nossa sociedade. Será que o crescimento do ódio e do preconceito está fazendo o homem tornar-se lobo para o homem?

Aos poucos a convivência pacífica em sociedade foi se perdendo. Estamos mergulhados numa realidade pautada pela perda dos “ritos da boa educação”. A  agressividade campeia por toda parte. A violência é o fruto amargo que colhemos.

O assassinato do pai de família Marcelo Larenz Gonzales, imigrante venezuelano, morador de Mauá, mostra a banalização do mal. Foi assassinado com tiro no peito frente aos quatro filhos por uma dívida de aluguel de R$ 100,00, restante de um total de quinhentos já pago. A viúva alega que moravam ali a oito meses e nunca deixaram de pagar o aluguel. Um assassinato que tem semelhança com outro, de Moise Kabagambe no Rio de Janeiro, espancado até a morte (cf. Diário do Grande ABC 11/02/22-Setecidades, 4).

Não podemos deixar o ódio dominar nossa sociedade, o ódio é a cólera dos fracos. Ele inferioriza o que odeia. Nossa sociedade precisa se desarmar, aspirar a paz e não o conflito. Dizia Santo Agostinho: “A ira gera o ódio, e do ódio nascem a dor e o medo”.

Se não vencermos o ódio, viveremos cada vez mais dominados pelo medo que nos torna todos escravos.

*Artigo de Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André

Compartilhe:

Mensagem do Bispo Dom Pedro Carlos Cipollini para a Diocese de Santo André

Dom Pedro Carlos Cipollini celebra 9 Anos na Diocese de Santo André

Homilia, Missa do Jubileu Diocesano 70 Anos da criação da Diocese de Santo André

Ginásio lotado com mais de 7 mil pessoas marca celebração dos 70 anos da Diocese de Santo André

Catedral diocesana celebra sua padroeira

Padre Toninho assume nova missão na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora

Jovens Sarados comemoram 15 anos com missa presidida pelo bispo diocesano

ENCONTRO CHEGA AO FIM COM REFLEXÃO SOBRE PERSPECTIVAS PARA A AÇÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA NO BRASIL

PARTICIPANTES DE ENCONTRO DESTACAM PROPOSTA DE SINODALIDADE NA AÇÃO PASTORAL DA IGREJA

“O COORDENADOR DE PASTORAL É UM MEDIADOR DA GRAÇA DE DEUS E PROMOVE A COOPERAÇÃO NA COMUNIDADE”, DISSE NÚNCIO APOSTÓLICO