Em meio a tantas divisões em nossa sociedade, o mundo clama por unidade e espera principalmente dos seguidores de Jesus, que sejam unidos. A Humanidade está dilacerada por muitas divisões, porém, sabemos que nossa vocação é a unidade que gera paz.
De unidade e amizade só podemos falar ao coração, mais que à razão. Cor ad cor loquitur (o coração fala ao coração) escrevia John Newman, Cardeal e intelectual inglês. Era apaixonado pela unidade dos cristãos. A unidade é tema do princípio o do fim de todas as religiões. É o desejo mais profundo do próprio Deus expresso por Jesus: “Que todos sejam um ó Pai como nós somos um” (Jo 17,21). Nossa pátria definitiva é a unidade.
A estrutura do universo é unitária, há interligação de todas as coisas. Tudo clama pela unidade. Sem a força da unidade a própria vida na terra é ameaçada. Só a união de todos pode favorecer a preservação da vida e da criação. Sem o horizonte da unidade, a morte dominará pela força da injustiça e da destruição.
A revelação bíblica é a revelação do mistério da unidade de Deus: a Trindade Santa (Jo 16, 12-15). Somos chamados a participar na unidade da Trindade pela vivência do amor, pois Deus é amor, e amor clama continuamente pela unidade. Amor compassivo é a mensagem do Evangelho, já que só o amor pode fazer frente ao terror. Sem unidade não há comunhão, sem comunhão a vida não surge.
Para quem segue Cristo, o testemunho de unidade é essencial, é o cerne do testemunho cristão, pois na unidade é que se manifesta a caridade o seguimento de Jesus: “se vos amardes, todos saberão que são meus discípulos” (Jo 13,35). A unidade é necessária para a eficácia da missão. A missão da Igreja é prejudicada pela divisão entre os que devem pregar o Evangelho.
Hoje estamos mergulhados em uma crise de insanidade. O homem pós-moderno ao privilegiar o individualismo está dividido dentro de si mesmo e com os outros. Nossa sociedade carrega os traços da patologia social. O fantástico desenvolvimento científico não está acompanhado de um desenvolvimento espiritual. Assim, o mais urgente é atingir a unidade interior, a superação e a cura da divisão interna que nos trará a liberdade interior, a liberdade dos filhos de Deus.
Nossos males são comuns, a solução só pode ser comum. Para assumir a tarefa comum da reconciliação é necessário reencontrar o equilíbrio, a capacidade de entrar dentro de si e se conhecer: humildade. É também capacidade de compadecer-se, que abre as portas para a unidade. É a misericórdia o motor de toda unidade, porque ela nos ensina o perdão e convivência pacífica. A capacidade de perdoar e de se compadecer torna o homem apto a transcender as limitações que o prendem no egoísmo destrutivo.
A solidariedade aparece como esperança de um mundo melhor. O futuro da humanidade passa pela solidariedade. É preciso construirmos a solidariedade dia a dia, para reverter o isolamento que se agravou com a pandemia. Neste sentido, é uma alegria constatar iniciativas como a que está mobilizando estudantes do Grande ABC que irão participar da 16ª edição do “Desafio de Redação”, promovida pelo Diário do Grande ABC e a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), cujo tema da redação é: Resgate da cidadania se faz com Solidariedade e Empatia.
Pelo testemunho de união entre os cristãos e as pessoas de boa vontade sinalizaremos ao mundo que nossa meta é a comunhão e não o consumo. O dinheiro deve servir e não dominar nossas atitudes. O que une os cristãos, é, com efeito, muito mais forte do que aquilo que os separa. Nas coisa necessárias reine a unidade, nas duvidosas a liberdade, em tudo a caridade.
Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André