Diocese de Santo André

HOMILIA NO INÍCIO DO ANO DO SEMINÁRIO DIOCESANO

06/02/2024 – Seminário de Filosofia/Diadema – D. Pedro Carlos Cipollini

Caros formadores, seminaristas, estamos para iniciar o ano, iniciar a quaresma, alguns começando o ano de Propedêutico, outros o ano de Filosofia e outros o de Teologia, sendo que entre eles estão alguns, em número para nós expressivo, que estão iniciando o último ano de sua formação.

Eu louvo a Deus por vocês, pelo dom do chamado de vocês. Mas também me preocupo para que tenham uma boa formação, graças a Deus levada avante com a ajuda dos bons formadores que temos tido. Nossa gratidão a eles.

Me preocupo para que não se tornem padres sem saber o que realmente isto significa. Um padre funcionário, sem vocação, ao invés de ser missionário, acaba se tornando mercenário. Isto é um sofrimento para o Povo de Deus e para o próprio padre. Um padre sem vocação fica omisso, vê as ovelhas sofrerem e não toma providência em nome de uma falsa prudência, que na verdade é comodismo e falta de compromisso com a justiça e a verdade. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas!

O Evangelho proclamado fala da hipocrisia dos que adoram a Deus sem sair do seu egoísmo, aferrados a leis e preceitos caducos para fugirem do amor verdadeiro que é entrega da vida. Por isso Jesus alerta e faz uma dura crítica: ”Me honram com os lábios, mas meu seu coração está longe de mim”(Mc 7, 6).

Desejo que sejam padres conscientes, felizes e realizados no ministério. Quando o padre tem vocação realmente, o ministério não pesa: “Quem ama não se cansa e se cansa ama o cansaço” (Sto. Agostinho).

Estava preparando esta homilia, lendo os textos da Palavra proposta para hoje na liturgia Eucarística (1rs 8,22-23.27-30; Mc 7,1-13) e me deparei com esta fala do Santo Padre o Papa Francisco,  que a meu ver é suficiente para ilustrar nossa reflexão

O Santo Padre recebeu na manhã deste sábado, dia 3, no Vaticano, um grupo de seminaristas de Madri, acompanhado pelo Arcebispo. Em seu discurso entregue (não lido), o Papa destaca que o Arcebispo está sendo acompanhado nesta viagem a Roma pelo seu tesouro mais precioso: os seminaristas, do seminário que dirige, acrescentando:

Muitos santos bispos de Espanha foram confrontados com a difícil realidade em que se encontravam suas igrejas e pensaram no seminário, como o lugar em que o seu sonho pastoral poderia lançar sólidas raízes e expandir-se.

 Na realidade, se quisermos ser Igreja, Corpo de Cristo, é um desafio fácil de vencer porque, como disse Deus a Moisés, basta estabelecer o modelo que vimos no monte (cf. Ex 26,30),para nós é o Cristo Transfigurado presente na Eucaristia.

Aqui, o Papa Francisco recordou uma frase de um dos santos bispos da Espanha, São Manuel González, que desejava ter um “seminário em que a Eucaristia fosse, na ordem pedagógico, o estímulo mais eficaz; no científico, o primeiro mestre e a primeira matéria; no disciplinar, o inspetor mais vigilante; na ascese o modelo mais vivo; no econômico, a grande providência; e, enfim, no arquitetônico, a pedra angular“. E o Papa explicou:

Retomemos estes pontos para colocar Deus no centro, ou seja, deixar que Ele seja o fundamento, o projeto e o arquiteto, ou seja, a pedra angular. Tudo isso se consegue somente com a adoração eucarística. Como diz o nosso santo, ‘Jesus será o pedagogo, paciente, severo, dócil e firme, segundo aquilo de que temos necessidade no nosso discernimento’.

Porque, continuou o Papa, “Jesus nos conhece melhor do que nós mesmos e nos espera; Ele nos incentiva e nos encoraja ao longo do nosso caminho; Ele é o nosso maior estímulo, pois consagramos as nossas vidas ao seu seguimento.”

No “campo científico”, disse ainda o Papa, parece fundamental que, São Manuel une a função de mestre à disciplina, pois Deus quer dar ao seu povo pastores, segundo o seu coração. A grande lição que o Senhor nos dá é a “humanidade”, fez-se homem na sua encarnação: o ter se feito carne, terra, homem, húmus, por nós, por amor, na sua kenosis.

Na disciplina, não há outro exemplo a não ser o próprio Deus. Podemos apenas aprender a grande lição da sua vida sendo “mansos e humildes de coração”. Um padre indisciplinado segue só seus desejos, torna-se lei para si mesmo. Seu Ego o norteia mas ao mesmo tempo o esgota. Em pouco tempo se desilude. Um jogador de futebol sem disciplina compromete o time. O verdadeiro conceito de disciplina está ligado ao ensinamento de um mestre: ser fiel ao que o mestre ensinou, praticar suas instruções para conseguir o objetivo, ser capaz de sacrificar-se para isso, discernir o que é melhor e deixar o que não contribui.

Para ter “disciplina”, precisa confrontar-se cada manhã com a Eucaristia – o inspetor mais vigilante –, que nos faz refletir sobre a futilidade das nossas ideias mundanas, dos nossos desejos de ascender, de aparecer, de se destacar. Aquele que é imenso se faz dom total de si, e nas minhas mãos, antes de comungar, me interpela: te reconciliastes com teu irmão? Vestistes hábito de festa? Estás pronto para entrar no meu banquete eterno?

Após ter explicado o sentido do discernimento, ciência e vigilância, que, certamente, são aspectos-chave do seminário, o Papa disse que nada seriam sem a ascese; “seguir um modelo pressupõe um grande esforço; uma obra de arte requer inspiração, mas também trabalho: é preciso passar pelo deserto, para que Ele fale ao nosso coração. Se o nosso coração estiver cheio de coisas mundanas, que podem ser até chamadas de “religiosas”, Deus não encontrará lugar, nem o ouviremos quando bater à nossa porta.” A ascese é um despojar-se do que não é Deus, do que não é de Deus, para caber mais Deus em nós.

O Santo Padre concluiu seu discurso aos seminaristas de Madri recordando que o silêncio, a oração, o jejum, a penitência, a ascese são necessários para libertar-nos do que nos escraviza; somente assim podemos ser completamente de Deus, tanto interior como exteriormente, abandonando-nos a Ele.

Somente Ele é a nossa grande Providência. Neste sentido, o Papa Francisco convida a deixar que Deus possa propor e realizar sua obra em nós, colocando-se às suas ordens com docilidade ao espírito.

Quero terminar fazendo sobre nosso seminário diocesano a prece que Salomão fez a Deus pedindo suas bênção para o Templo que estava sendo inaugurado: “ Teus olhos estejam abertos noite e dia sobre esta casa, sobre o lugar do qual dissestes: Aqui está o meu nome! Ouve a oração que teu servo te faz neste lugar ”(1Reis 8, 29). Amém.

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