No dia 19 de outubro, a Diocese de Santo André marcou presença no 26º Interdiocesano das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) – Sub SP, realizado em São Vicente (SP). Com 46 representantes diocesanos, entre leigos, religiosas e clérigos, o encontro reuniu cerca de 290 participantes das dioceses paulistas, num verdadeiro testemunho de comunhão e esperança.
A acolhida foi embalada pela ternura da canção “Flor, minha flor”, que abriu os corações para a vivência comunitária. O Ofício das Comunidades, conduzido por Liz, exaltou a força da oração popular, com cânticos como “Quando a noite a gente canta” e “Ave Maria dos Oprimidos”. As preces se elevaram a Nossa Senhora da Palestina, clamando pela paz em meio às guerras, pelo fim do feminicídio, pela dignidade dos povos indígenas e pelo cuidado com a Casa Comum.
A memória dos mártires foi recordada com reverência, unindo as dores do povo à caminhada sinodal da Igreja. A leitura do Salmo 86 e do Magnificat (Lc 1,46-56) inspirou os participantes a rezar pela construção de um mundo novo, alicerçado na justiça e na partilha.
Os articuladores do SP 1, Sílvia, Pedro e Marilza, foram acolhidos com alegria, seguidos pelo Pe. Félix, que apresentou os assessores Francisco Surian e Guadalupe. A reflexão teve como base o documento Dilexi Te (“Eu te amei”), do Papa Leão XIV, inspirado em textos do Papa Francisco. O documento denuncia o pecado social que perpetua a pobreza e convoca a Igreja e a sociedade à transformação das estruturas econômicas, para que sirvam à vida e à dignidade humana.
“A caridade é importante, mas não é suficiente”, refletiram os assessores, recordando que é preciso transformar a economia para que ela promova o bem comum. Um dos exemplos apresentados foi o projeto “Fruta no Pé”, do Plano Diocesano de Santos, que combate a fome e a miséria. Inspirados na passagem dos discípulos de Emaús, os participantes foram convidados a reconhecer Cristo no gesto de partilhar o pão.
Durante as reflexões, foi ressaltada a necessidade de uma Igreja comprometida com os mais pobres e vulneráveis, que faça ecoar o clamor dos que sofrem e que não se cale diante das injustiças. Em uma de suas intervenções, Dom Joaquim Mol, bispo referencial das CEBs, destacou a responsabilidade cristã de denunciar o lucro desmedido e a desigualdade, especialmente evidenciada durante a pandemia. “O sofrimento dos pobres se torna invisível, mas a esperança renasce quando a fé se traduz em compromisso”, afirmou.
O documento ainda evocou a parábola do Bom Samaritano, lembrando que não podemos ser indiferentes diante da dor do outro. “Jesus, de tão humano, só podia ser divino” – e quando perdemos a sensibilidade humana, nos afastamos de Deus.
O encontro também reafirmou o chamado a ser profetas da esperança, denunciando as estruturas de morte e atuando nos espaços de decisão – como conselhos, associações e câmaras municipais. O trem das CEBs segue em movimento, convocando todos a viver uma misericórdia que não espera, uma Igreja em saída, que reconhece em cada pessoa um irmão e uma irmã a serem amados.
Após o intervalo, o clima fraterno se fortaleceu. A dinâmica do bordado da mão simbolizou a união entre as comunidades: cada participante deixou sua marca, e juntos “costuraram” os sonhos e esperanças do povo. A leitura do cordel trouxe poesia e leveza à reflexão.
A exposição das dioceses foi um dos momentos mais criativos, mostrando como é possível “fazer muito com pouco”. Cada grupo apresentou sua realidade, expressando que somos construtores de sonhos e que a esperança não pode ser roubada, mesmo diante das dificuldades.
Em seguida, a tradicional “fila do povo” deu voz aos participantes, que partilharam experiências, dores e alegrias. Cada fala foi um testemunho de fé encarnada na vida cotidiana, reafirmando o compromisso com uma Igreja viva, popular e profética.
O encontro foi encerrado com a celebração da Santa Missa, presidida por Dom Joaquim Mol, que coroou o dia com palavras de incentivo e reconhecimento. O bispo parabenizou a organização, a participação das dioceses e a profundidade das reflexões, destacando que as CEBs são expressão autêntica da Igreja em saída, comprometida com os pobres e com a transformação social.
A alegria e a comunhão marcaram o encerramento, que também contou com um sorteio de confraternização. A liturgia final, rica em espiritualidade popular, expressou o coração das CEBs: uma fé que se faz vida, e uma Igreja que caminha com o povo.


